Este artigo foi originalmente publicado na Metropolis Magazine como"New Retrospective Glimpses the Man Behind the Maison de Verre."
Pierre Chareau foi um arquiteto cuja maior parte dos edifícios foi demolida; um designer de interiores cujos projetos foram todos remodelados; e um cenógrafo cujos filmes você não pode ver. Estas nem são as circunstâncias mais auspiciosas para remontar uma retrospectiva, mas uma exposição ainda em curso no Museu Judaico, projetado por Diller Scofidio + Renfro (DS+R), tenta fazer isso.
Chareau, mais conhecido por seu único edifício ainda de pé, a Maison de Verre em Paris, desafia qualquer classificação ordenada. Sem nenhum tipo de formação arquitetônica, trabalhou brevemente como designer de móveis para uma empresa britânica para então seguir sozinho, criando um corpo idiossincrático de mobiliários, projeto de interiores para o cinema e a vida real e uma série de casas.
Surgiu em meio a diferentes canais artísticos ascendentes - que ele se inspirou e emulou - sem nunca ter pertencido a nenhum. Como nota o curadora da exposição Esther da Costa Meyer em um artigo do catálogo, Chareau tinha uma "habilidade incomparável de manter usos aparentemente incompatíveis em tensão: madeiras raras, proibidamente caras e polidas em superfícies esmaltadas, justapostas sem transição para componentes em ferro bruto." Em uma única obra, tecidos opulentos poderiam compor lado a lado com metais fabris antigos; em uma sala, sofás de pelúcia poderiam estar junto a mesas ásperas. Ele mesclava produtos da fábrica e do artesão como se fossem naturais, ou ao menos companheiros inevitáveis. Da Costa Meyer caracteriza seu trabalho como uma "confrontação com as próprias descontinuidades de uma era onde o ofício tem dado espaço para a produção em linha de montagem", e muitas vezes nega alegremente esta contradição.
Seu ethos pluralista desdobrou rapidamente em um recorte de tempo condensado—cerca de 13 anos— em uma carreira interrompida duas vezes, primeiro pela grande crise econômica de 1929 que consumiu a maioria de seus clientes, e depois pela iminente Segunda Guerra Mundial que o roubou de sua casa em Paris. Como judeu sefardita, com sua mulher Dollie fugiram da capital francesa às vésperas da Invasão Alemã e mudou para Nova York. Compraram uma parte de sua estimável coleção de arte, frequentemente vendendo alguns itens para sustentar sua nova vida na América. Pierre Chareau: Modern Architecture and Design, a primeira exposição estadunidense do artista reúne parte desta coleção, juntamente com uma variedade de peças de mobiliário, muitos deles emprestados do Centre Pompidou.
Exhibition: Pierre Chareau: Modern Architecture and Design
Find out details of the exhibition at the Jewish Museum.
Na Maison de Verre, no entanto, o legado de projetos de Chareau está nas suas peças de Mobiliário, das quais um bom número sobrevive e são bem representados no Museu Judaico. Enquanto individualmente magníficas, estas peças, que variam de sofás de veludo à amaranto e mesas de ferro à luminárias de alabastro, são inadequadas em isolamento; elas não permitem uma leitura completa de um homem cujo título profissional era um "ensemblier"—um termo mais eufórico e inclusivo que um 'designer de interiores.' Chareau não buscava meramente preencher um espaço, mas sim moldar ambientes inteiros. A arquiteta Liz Diller, comentando sobre o projeto da exposição, destaca a faceta dos projetos de Chareau: quando removido de suas configurações originais, estas peças "perdem sua relação com o espaço, com a arquitetura e com a função." Elas se tornam, Diller acrescentou, "verdadeiros órfãos."
Para evitar este deslocamento, os projetistas olharam para os ambientes no MET, que para Diller pudesse "transportar os visitantes do museu no tempo e espaço." Estes, no entanto, seriam praticamente impossíveis de recriar nas pequenas galerias do Museu Judaico, e então o expediente de DS+R eram fones de ouvido de realidade virtual - não para substituir mas para acentuar a realidade. As peças de mobiliário de Chareau foram dispostas em quatro clusters nas galerias internas, que se tornam panoramas imersivos uma vez que o visitante usa um fone de ouvido. Estes recriam um jardim e um ambiente da Maison de Verre. O efeito, como a maioria das realidades virtuais é hipnotizante se não exatamente transportador - mais similar a uma entrada em um chamativo pochoir ou impressões de guache dos conjuntos de Chareau do que em um ambiente de verdade. Ainda assim, a abordagem tem êxito em proporcionar um senso da maneira tão única que Chareau organizava sua vida doméstica.
O interior da galeria adjacente exibe o mobiliário de Chareau, que não necessitam o uso de Realidade Virtual para impressionar. Estas peças são orgulhosamente variadas, algumas elementarmente rígidas, outras suntuosas sem nenhuma suposição. Também são ocasionalmente confusas. ("Diller: Chareau foi sempre um herói pra mim quando estava na faculdade - nunca pudia decifrá-lo completamente.") Existem alguns elementos Art Deco, algumas influências Japonesas vagas, traços de Chippendale - é possível nomear inúmeras influências sem nunca resumir seu catálogo. Da Costa Meyer observa que o toque magistral de Chareau trabalhando e combinando "madeiras exóticas como amaranto, ébano, pau-rosa e Massacar." Ele era mais do que feliz em sentir florestas e bestas raras em seus projetos - marfim e couro de tubarão se destacam, mas os metais também são legião.
"Cinética" é um termo frequentemente aplicado ao mobiliário de Chareau: alguns se movem e outros se parecem como eles próprios gostariam. Ele não tinha interesse em segregar as funções programáticas. Por exemplo, iria juntar um fonógrafo com uma escrivaninha como em um sidecar, anexar mesas giratórias para estantes e sofás, e mesmo adicionar folhas ajustáveis em uma mesa de fumar. Nada era pequeno demais para a tenção meticulosa nos projetos de Chareau, como estes e outros exemplos em exposição. Porta-cartas, cinzeiros e fruteiras - todos estes itens do cotidiano estavam dentro de seu espectro. Suas peças de mobiliário são especialmente notáveis. A maioria, na verdade, abandonam o conceito de abajures para se tornarem disposições escultóricas de alabastro que difundem a luz.
Mas na Maison de Verre, aqui representadas além da típica triangulação das fotos e maquetes de maneira inovadora; um ambiente exibe um mapa do pavimento inferior da casa no piso, e painéis móveis acima. Estes painéis se movem para frente e para trás no mapa, exibindo a dimensão vertical de qualquer porção da casa que está por cima, com os ambientes destacados e coloridos para atrair atenção.
AD Classics: Maison de Verre / Pierre Chareau + Bernard Bijvoet
Find out about Pierre Chareau's signature project.
Projeções nas outras paredes exibem atores navegando através e utilizando estes ambientes destacados de maneiras bastante práticas. É de certo modo similar à instalação de arte de Peter Greenaway (completada com alguma quase-nudez), produzem um senso quase hipnótico de boas vindas de como este edifício estranho funciona.
Um dos méritos reais da instalação de vídeo é como ele proporciona um sentido claro do constrangido processo de movimento dentro do edifício. Você entra como um visitante entraria através de uma série de curvas em ângulos retos para então através da casa para o grande salão do segundo pavimento. Outros ambientes estão semi ocultos à vista. Expectativas de austeridades modernas, como sugere a famosa fachada da casa em tijolos de vidro, são desfeitas à medida que a câmera se move através dos tijolos para revelar interiores decadentes. É bastante estranho e muito atraente. Kenneth Frampton escreveu em um artigo sobre a casa que suas "discordâncias em estilo e escala carregam um sentimento surrealista," uma impressão certamente acentuada por tecnologias estranhamente modernas empregadas aqui para as visualizar.
(Não é surpresa que Chareau trabalhou como cenógrafo em uma série de filmes, principalmente com o vanguardista diretor Marcel L'Herbier, trabalho representado aqui com vários croquis de sets. L’Inhumaine, que também empregou Robert Mallet-Stevens como set designer, está recentemente disponível em Blu-Ray nos EUA e vale a pena conferir.)
Embora excelente, a exposição exibe de certo modo negligencia o trabalho singular de Chareau em um recanto esquecido de seus projetos: os tetos. Os de Chareau são esculpidos, em camadas, angulados e implacavelmente manipulados para ecoar, enfatizar ou contrastar com os volumes dos ambientes embaixo. É difícil pensar em um designer que proporcionou razões mais que imaginativas para olhar para cima (felizmente, o catálogo da exposição fornece numerosos exemplos deste caráter de seu trabalho).
É excepcionalmente esclarecedor, para não dizer mágico, ver uma grande coleção de trabalhos de Chareau reunidos fisicamente em um lugar, uma experiência impossível fora da Maison de Verre. Isto seria uma realização mesmo que a única intervenção curatorial estivesse apenas abrindo caixas de embalagem, mas é especialmente emocionante ver os esforços de Diller Scofidio + Renfro para fornecer simulacro de suas disposições originais. O que emerge dessas experiências é uma sensação dos talentos de Chareau; talentos que, bem como seus projetos incomuns e inesperadamente harmoniosos, são mais do que a soma de suas partes.
Pierre Chareau: Modern Architecture and Design no Museu Judaico de Nova York está aberto até 26 de Março.