Cruzamentos peatonais inseguros, ciclovias que não são respeitadas pelos condutores, e trechos permitidos para automóveis apesar do risco que geram para ciclistas e pedestres são, lamentavelmente, problemas comuns em diversas cidades.
Mostramos a seguir um caso bem sucedido em Nova Iorque que apresentava os mesmos problemas, mas que foi resolvido com uma proposta de desenho urbano que consistiu, basicamente, em redistribuir o espaço viário a partir do Plano Visão Zero.
Esta estratégia começou a ser implementada na cidade a partir de 2007, em um momento que o paradigma de mobilidade começou a se concentrar mais nas pessoas que nos automóveis. O projeto de pedestrianização da Times Square, de 2009, reflete essa visão.
O diagnóstico
A rua em questão é a Chrystie St, que só contava com uma ciclofaixa pintada no chão, apesar de unir as ciclovias das avenidas 1st e 2nd com a ciclovia da Ponte de Manhattan. Segundo medições do Departamento de Transportes (DOT NYC) realizadas entre abril e outubro de 2016, por aí transitavam cerca de 6,2 mil ciclistas todos os dias.
No entanto, este elevado fluxo de ciclistas não significava necessariamente que a experiência de pedalar pela Chrystie St era boa. Com efeito, em uma avaliação realizada no ano passado pelo DOT, foram identificadas várias deficiências segundo os usuários do espaço viário.
Por exemplo, os pedestres frequentemente não podiam atravessar os cruzamentos devido aos automóveis, que ocupavam o espaço como uma zona de espera.
A situação dos ciclistas tinha mais fatores em jogo, por exemplo, o fato da ciclovia ser apenas pintada na rua tornava fácil para os automóveis ocupar o espaço das bicicletas; além disso, alguns motoristas sequer avistavam o ícone de ciclovia pintado na rua.
Além disso, como os ciclistas não estavam segregados do fluxo de veículos, eles tendiam a trafegar entre os carros, e não necessariamente do lado direito da calçada. Em certos casos, inclusive, foram observados ciclistas que trafegavam no sentido contrário ao trânsito.
E, finalmente, os condutores, ao virar para a esquerda, se aproximavam demais dos pedestres e ciclistas que estavam cruzando a pista, criando situações de risco.
A proposta do DOT
Frente a isso, o DOT propôs criar uma ciclovia bidirecional com piso verde, assim como havia proposto para a Broadway, Columbus Avenue e 2nd Avenue, locais onde o número de acidentes havia diminuído 20%.
Esse tipo de ciclofaixa considera as duas pistas e um espaço de reserva onde são instalados obstáculos que garantem a segregação entre ciclistas a condutores.
Além disso, fora ampliadas as ilhas peatonais para evitar que os ciclistas tivessem que percorrer longas distâncias, os automóveis foram proibidos de virar à esquerda, e a ciclofaixa da rua Chrystie St foi estendida, evitando que os ciclistas tivessem que transitar entre os carros.
Foram também ajustados os tempos dos semáforos, favorecendo os fluxos em diferentes direções.
Resultados
A inauguração da intervenção aconteceu no dia 21 de dezembro e as mudanças foram imediatamente percebidas. Os carros não mais disputavam espaço com os ciclistas, os cruzamentos de pedestres ficaram mais livres e a segurança viária, de modo geral, aumentou.
Veja como funciona a rua após a intervenção do DOT neste vídeo produzido pela Streetfilms.