Chu Ming Silveira: A arquiteta por trás do projeto do orelhão

Os orelhões são parte da paisagem urbana brasileira e sua forma icônica perpetuou-se no imaginário da população. Além de possibilitar a comunicação, o orelhão funcionava como um mobiliário urbano, ou mesmo como referência ou ponto de encontro antes da popularização dos telefones celulares. Seu projeto foi desenvolvido por Chu Ming Silveira, nascida em Xangai e formada em Arquitetura e Urbanismo na FAU-Mackenzie, em São Paulo, no ano de 1964. Em 1966, começou a trabalhar na Companhia Telefônica Brasileira (CTB), em São Paulo, realizando anteprojetos, supervisão e coordenação do desenvolvimento dos projetos de Centrais Telefônicas e Postos de Serviço, além de acompanhamento de obras.

Cortesia de Orelhao.arq.br

Segundo o memorial descritivo, a principal demanda do projeto era encontrar uma solução em termos de design e acústica para protetores de telefones públicos, que apresentasse uma relação custo-desempenho e que fosse adequada às condições ambientais. Chu Ming inspirou-se na forma do ovo para propor uma estrutura forte, leve, resistente ao sol e à chuva, barata, e com um bom desempenho acústico. Isso porque a maior parte do ruído externo era refletido pela forma, enquanto que os sons produzidos internamente convergiam para o centro do raio de curvatura, localizado logo abaixo do ouvido do usuário médio, minimizando a interferência na comunicação. 

Cortesia de Orelhao.arq.br

Apesar de o orelhão ter se tornado o formato mais popular, foram desenvolvidos estudos para três classes do problema: solução para ambientes fechados, para ambientes semi-abertos e para ambientes abertos. Para isso foram propostos os "orelhinhas", as "conchas" e os "orelhões" propriamente ditos, respectivamente. Enquanto os “orelhinhas” contavam com dimensões menores, e eram feitos de acrílico, translúcidos, os orelhões eram mais robustos para suportar condições mais desfavoráveis: aplicação externa, a todo tipo de público. O material também os diferenciava, já que os orelhões eram feitos em fibra de vidro. As conchas, por outro lado, contavam com uma forma mais esférica que os outros dois e eram implantadas em postos de combustível, principalmente. As conchas e os orelhinhas eram fixados diretamente na parede, enquanto os orelhões em postes, permitindo um arranjo com dois ou mais aparelhos com apenas uma estrutura de apoio vertical. Com isso, era possível um aproveitamento de espaço superior às antigas cabines telefônicas, por exemplo, utilizando muito menos material e com uma construção simples. 

Cortesia de Alan Chu
Cortesia de Alan Chu
Cortesia de Alan Chu

O projeto de Chu Ming teve um reconhecimento expressivo na mídia, popularizou-se em todo o território brasileiro e, inclusive, recebeu um texto de Carlos Drummond de Andrade. O orelhão e adaptações do projeto da arquiteta foram exportados para diversos países da América Latina, como Peru, Colômbia, Paraguai, e outros países como Angola, e até mesmo China. Chu Ming faleceu em 1997, mas seus filhos mantêm o acervo sobre o projeto no site orelhao.arq.br/.

Publicado originalmente em 4 de abril de 2017. Atualizado em 20 de fevereiro de 2020.

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Sobre este autor
Cita: Eduardo Souza. "Chu Ming Silveira: A arquiteta por trás do projeto do orelhão" 23 Fev 2020. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/868436/chu-ming-silveira-a-arquiteta-por-tras-do-projeto-do-orelhao> ISSN 0719-8906

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