Muitas vezes planejamos nossa graduação como um período que temos que passar fazendo o que os professores nos pedem, seguindo os livros, sem refletir muito e cumprindo com o currículo. Claro que este é o caminho mais rápido para terminar a corrida, mas nem sempre é a maneira mais divertida, e é certamente a menos enriquecedora. Ocasionalmente aparecem alunos que nos lembram que nem tudo na faculdade se resume a ser aprovado, que temos que fugir das predefinições. Esse é o caso dos espanhóis Alfonso Melero e Luis Ortiz.
1311 é um projeto de conclusão de curso de arquitetura apresentado em 2015/16 por Alfonso Melero e Luis Ortiz. Neste trabalho os autores refletem sobre a relação entre a superpopulação e os modelos de cidades existentes. E ao não enxergar solução fácil ou aceitável, Melero e Oritz propõem uma nova forma de entender e redefinir a infraestrutura da cidade. Ninguém melhor que eles mesmos para explicar o quê e o porquê de seu projeto.
Memorial oficial: 1,311 bilhões de habitantes vivem na Índia. Em apenas um século, passamos de 1,5 à 7,4 bilhões de habitantes no planeta. Os efeitos deste crescimento podem ser percebidos no aumento das desigualdades, os conflitos, o excesso de contaminação ou o aquecimento global.
Esta explosão demográfica levou a teorias com nenhuma posição populacionista, ou seja, ver o enorme crescimento da população como algo negativo a ser controlado através da redução da população, que em muitos casos vai contra os direitos individuais. Analisamos o impacto histórico de 4 teorias demográficas não populacionistas representativas: a teoria malthusiana, neo-malthusiana, o antinatalismo e o darwinismo social.
Em 1311 retratamos uma cidade futura, não como um projeto de soluções definitivas e inamovíveis, mas sim como a definição de um sistema, uma maneira de pensar e usar uma série de estratégias que nos permitem abordar um futuro cada vez mais presente. Não nega a realidade superpovoada que enfrenta. Aceita e tenta conviver com ela através da remodelação da rede de gestão de recursos.
A cidade presente fica construída como um entorno artificial que supõe uma ameaça à biodiversidade, e que se desenvolve por sua própria morfologia um acesso limitado aos recursos. A hierarquização dos espaços em função do nível de tecnificação contribui à ineficácia dos processos de produção urbana. Tudo isso aumenta as desigualdades urbanas.
Definitivamente o modelo de cidade presente não pode nem deve crescer de forma indefinida, ainda que é precisamente o que se demanda atualmente com grandes cidades policêntricas gestionadas como um único mecanismo. Em oposição, o modelo de microcidades adjacentes que apresentamos consiste em pequenos núcleos ou clusters, autônomos e independentes entre si como a única vinculação da distância física que os separa. Tratamos contornar o conceito de cidade subdividida em setores para se converter em pequenos assentamentos, um junto ao outro, independentes. Este modelo de microcidade é reproduzível de forma indefinida.
Assumimos como espaço de laboratório e definição do modelo Nova Delhi, por ser a capital do próximo país mais superpovoado do planeta. Na microcidade adjacente, o ponto de reprodução é a própria cidade, o transporte de recursos é mínimo. Cada microcidade é autogerida e dispõe, frente ao modelo de metabolismo linear atual, de um metabolismo cíclico onde o consumo não deriva em desperdício, mas sim retroalimenta a linha de abastecimento e produção que agora serão um único mecanismo.
Se entende o metabolismo cíclico não apenas do ponto de vista do funcionamento, mas desde sua própria morfologia e hierarquia. Mantém as vantagens da cidade informal dentro dos processos contemporâneos: maior acessibilidade aos mecanismos de funcionamento da cidade, rapidez de autoregeneração ou maior capacidade de adaptação dos dispositivos e instalações para a parte da cidade em que estão integrados, e ao contexto social de forma que sejam realmente autóctones deste lugar.
Destacamos dentro de uma destas microcidades três cenários, onde acontecem os processos de abastecimento, assim como a resignificações sociais inevitáveis: Em primeiro lugar, uma série de processos físicos integrados são realizados na margem do rio. Dado o potencial social e cultural do rio Yamuna tem na cultura indiana, a instalação deste sistema alternativo contribui para o fortalecimento do espaço, dando visibilidade aos processos e recuperando edifícios abandonados.
Cada microcidade necessita um centro social que a identifique, um espaço público onde se realizam parte dos tratamentos e de onde se distribuirá a água pretratada para cada uma das habitações, assim como a energia obtida da digestão do material orgânico resultante do tratamento de águas, as ruas do assentamento.
O tratamento final se realiza na cobertura de cada habitação. As estruturas desenhadas para a canalização de águas da praça central às casas conformam por sua vez um espaço público tridimensional, que distribui o tráfego de pedestres e gera mais oportunidades. As calçadas ficam destinadas ao tráfego rápido e os cultivos, o que permite extrair um maior rendimento e rapidez comunicativa dos deslocamentos entre microcidades.