Este artigo foi originalmente publicado pela Metropolis Magazine como "Inside The Digital Platform Championing Post-Digital Drawing."
As tecnologias digitais deveriam, supostamente, acabar com o desenho. E de algum modo, elas fizeram isso, com o CAD tirando o desenho à mão de cena há muito tempo. Mas o desenho é mais do que mera delineação - desenhos construtivos em escala - ou mesmo renderização, que se converteu em uma mera ferramenta de marketing. Na verdade, como Sam Jacob escreve, o desenho constitui um "ato arquitetônico" fundamental que está no cerne da auto-compreensão da disciplina.
Jacob descreve um novo modo de desenho "pós-digital" que incorpora pistas narrativas, alusões históricas de arte e técnicas de colagem habilitadas por softwares. Lembra as perspectivas de um ponto de fuga de Mies e as pinturas metafísicas de Chirico, bem como a irreverência afetada do pós-modernismo. É um estilo popularizado por blogs como KoozA/rch, fundado pela arquiteta Federica Sofia Zambeletti há três anos. Conversamos com Zambeletti sobre o ressurgimento do desenho arquitetônico e como o estilo poderia em breve esgotar-se.
Samuel Medina: O que te levou a criar o KooZA/rch?
Federica Sofia Zambeletti: O KooZA/rch nasceu da ideia de criar uma plataforma onde belos desenhos, como os produzidos na Architectural Association, poderiam ser apresentados para criar um diálogo arquitetônico. Com muita frequência, os meios através dos quais representamos nossos projetos, especialmente como estudantes, são os únicos elementos físicos que dão vida ao projeto - na maioria das vezes estes nunca são construídos. Como tal, o papel do desenho como um local privilegiado para a arquitetura precisa ser constantemente abordado e desenvolvido.
SM: Qual é a importância da representação arquitetônica? O que você acha dessa nova "tendência" - por que você acha que esse estilo se tornou tão predominante nas universidades e nos escritórios "críticos"?
FSZ: Eu não acho que se trata de representação, mas da comunicação arquitetônica. Os softwares hiper-realistas, através dos quais criamos uma visão utópica do projeto, fazem o "trabalho" real da representação. Essas novas imagens focalizam os conceitos e ambientes que os arquitetos querem criar. Aqui, os desenhos entram em um diálogo muito maior, não apenas sobre a identidade visual do projeto, mas sobre a narrativa, o contexto e a identidade do projeto e do arquiteto. A imagem produzida é tanto do produto acabado quanto das forças conceituais que a desenvolveram.
SM: Como você caracterizaria esse estilo de desenho?
FSZ: Devo admitir que eles são muito mais artísticos que "arquitetônicos". Com formação italiana, sempre fui fascinada pela forma como a arquitetura era representada em pinturas de Bellini e Raffaello, particularmente Predica di San Marco ad Alessandria d'Egitto por Bellini e O Casamento da Virgem de Raffaello. Em ambos, a arquitetura desempenha um papel importante na definição da composição: não é apenas um fundo, mas o ator na tela.
SM: Quem foram os primeiros pioneiros dessa abordagem?
FSZ: É algo contínuo!
SM: Então, de quando você dataria este estilo?
FSZ: Eu acho que realmente depende dos termos que usamos para defini-lo. É possível remontar aos anos 60 com o Superstudio e o Archigram e, claro, com os arquitetos de papel dos anos 90. Com certeza, as influências estão lá, mas o que eu acho extremamente interessante é a escolha de imagens emprestadas de artistas como Hopper, Hockney e Magritte, entre outros. Muitas vezes testemunhamos como os arquitetos referenciam esses artistas e permitem uma maior exploração deles, cada um de um jeito diferente.
SM: Até que ponto isso é uma tendência internacional, além do AA e Londres, ou do circuito Ivy League? Existem diferenças locais ou culturais que você consegue identificar?
FSZ: É com certeza uma linguagem internacional, embora haja algumas diferenças culturais, as quais devemos preservar para manter as identidades. Sinto que, caso contrário, corremos o risco de que esse novo tipo de desenho se torne tão padronizado quanto a renderização hiperrealista.
SM: Você acha que essa "padronização" pode em breve acontecer? Como o KoozA/rch pode ajudar a evitar isso?
FSZ: Sim, isso pode já estar acontecendo, mas espero que nossas entrevistas e publicações convidem arquitetos e estudantes a refletirem sobre a linguagem gráfica empregada em cada proposta, em vez de apenas copiar uma estética específica. A proliferação de figuras como Hockney e Magritte [nestes desenhos] é algo que precisamos ter em mente, já que isso ocorre agora nas imagens sem uma razão específica. Não sou contra a reapropriação de narrativas anteriores, desde que isso tenha alguma coerência e propósito.
SM: Você diria que este modo de desenho - ou o "retorno" ao desenho - traz consigo uma crítica da cultura arquitetônica contemporânea?
FSZ: Com a arquitetura apontando em direção a algum tipo de padrão corporativo genérico, este tipo de desenho tenta reavaliar a poética da atmosfera.