Este artigo foi originalmente postado na publicação da Redshift da Autodesk como "Starbucks Japan Pursues a Local Flair Through Design in BIM and VR."
Já faz mais de 20 anos desde que o Japão inaugurou seu primeiro Starbucks, trazendo um novo paradigma para a cultura do café daquele país - e criando uma terceira opção entre o binômio casa-trabalho/escola.
Notavelmente, quase todas as 1.245 lojas espalhadas em 47 cidades são diretamente administradas pela empresa. E como tal, são planejadas por projetistas que ao invés de estabelecerem projetos padronizados para todas as locações, trabalharam com dedicação para incorporar características que expressam contextos regionais, históricos e estilos de vida dos locais - em resumo, para atrair especificamente o mercado japonês.
Esta abordagem no entanto não foi utilizada desde o princípio. Em 1996, o primeiro estabelecimento do Starbucks no Japão - e o primeiro fora da América do Norte - foi inaugurado na Rua Matsuyama-dori, em Ginza. Foi empregado o modelo de projeto estabelecido pela sede da Starbucks em Seattle, adaptado apenas para incorporar a legislação construtiva e necessidades espaciais japonesas. Mas à medida que a franquia continuou a crescer mundialmente, esta abordagem de um modelo que serve para qualquer lugar assumiu uma posição recuada quando projetistas começaram a experimentar com características regionais e interpretações mais criativas.
Starbucks Japão agora é lar de um dos 18 escritórios de projeto do mundo todo. O Japan Design Studio possui cerca de 30 funcionários, a maioria dos quais são designer de interiores ou especialistas com formação em arquitetura. Planejam e executam mais de 100 projetos de novas lojas, e supervisionam a reforma de mais de 150 lojas existentes a cada ano.
Mudando o processo de projeto para BIM
Em 2009, Starbucks Japão substituiu seu software de projeto convencional, baseado em CAD 2D, para o Revit da Autodesk, uma ferramenta de Building Information Modeling (BIM) que já estava sendo utilizada na sede em Seattle. Mayu Takashima, diretora da equipe de projeto lembra como seus funcionários lidaram com o novo programa: "Nós não tivemos qualquer tipo de preparação ou treinamento, apenas mergulhamos diretamente no software. Cada projetista começou a trabalhar de maneira diferente, cada um a seu modo."
Em certo ponto, tornou-se claro que o processo BIM precisava ser mais organizado e colaborativo. "Em um exemplo de como costumávamos trabalhar, os dados de nossos empreiteiros estavam ligados a uma família [uma coleção de elementos de modelagem 3D] que eles usavam, mas esses dados não podiam ser recuperados, então tivemos que inserir manualmente um novo conjunto de dados", diz Takashima. "Foi uma situação caótica, para dizer o mínimo".
Para escapar deste tortuoso processo, a equipe revisou todo seu fluxo de trabalho. "Tivemos reuniões com cada projetista para reduzir as funções que podíamos utilizar e as exigências mínimas para cada novo projeto. Utilizamos o feedback de toda a equipe para construir uma base que garantisse que todo o nosso trabalho estivesse alinhado" diz Eri Takao, membro da equipe de projeto.
Quando remodelavam unidades existentes, a equipe de projeto recriava as plantas 2D em modelos 3D para executar as obras adicionais. Com acesso à esses dados, ficou muito mais facil mostrar aos colegas do setor financeiro da empresa - como gerentes de vendas e gerentes regionais - como seriam as mudanças em cada loja. Como resultado, a equipe pôde acelerar significativamente o ritmo do processo de projeto, economizando tempo e dinheiro.
Estudo em Realidade Virtual: o estabelecimento em Ark Hills
A partir do verão de 2016, o Starbucks Japão começou a criar conteúdo de realidade virtual (VR, em sua sigla em inglês) para suas lojas utilizando dados de BIM oferecidos pelo software da Autodesk Revit Live. Nele, os arquivos de Revit são facilmente convertidos para conteúdo de VR, que podem ser utilizados para apresentações ou compartilhamento de informações.
Ao considerar esta plataforma, os projetistas trouxeram outros colegas de outros departamentos para experimentar a visualização da recém reformada loja em Ark Hills, utilizando óculos HTC Vive. "Um barista que havia trabalhado em Ark Hills estava na sede do Japão antes de nossos testes começassem", disse Takao. "Fizemos com que ele tivesse a experiência em VR antes de todo mundo. Mesmo que eu soubesse que os dados BIM que estavam sendo visualizados ali eram utilizados no processo de construção, fui surpreendido por sua reação. Ele me contou como costumava fazer café todos os dias naquele mesmo lugar. Aspectos como a altura e comprimento dos balcões, e vistas para a área onde sentam os clientes eram exatamente os mesmos da loja real."
"Até então em nossas conversas com construtores, equipe operacional e outros departamentos que precisavam compreender nossos arquitetos, tínhamos que explicar certas partes apenas com imagens mentais como referência", acrescentou Takashima. "Agora podemos utilizar a VR para compartilhar ideias em tempo real que, espero, nos ajudarão a obter consenso em nosso trabalho."
Tecnologia para todos
Notável por suas iniciativas de apoio à recuperação de desastres, como os esforços em curso após o terremoto e tsunami de 2011, a Starbucks também se envolve com comunidades locais através de programas sociais. Um exemplo é o financiamento de projeto de iniciativas de trabalho remoto na cidade de Asahikawa, em Hokkaido, levadas a cabo pelo departamento de projeto. O esforço foi parte de um programa de criação de vagas, assunto voltado para o decrescente contingente populacional e de força de trabalho japonês. O programa ensinou Revit como uma ferramenta para reforçar as perspectivas de busca de emprego para aqueles que necessitam, mas que precisam de cuidados médicos ou têm alguma deficiência que os impede de sair de casa.
"Para inspirar e nutrir o espírito humano - uma pessoa, um café e um bairro por vez" é a missão corporativa da empresa e também a preocupação principal em relação à resolução de tais iniciativas. "Sentimos que estes esforços refletem a missão da Starbucks, então realizamos seleções de trabalhadores remotos para integrar nossa equipe de projeto", afirma Takashima.
Takashima espera que ao aprenderem estas ferramentas e poderem trabalhar remotamente, os membros desse programa alcançarão independência econômica. "É a primeira vez que utilizam o Revit, mas estão muito animados em aprender, me contam quão intuitiva é a interface. Ao contrário de espaço 2D, você pode criar desenhos substanciais e realistas. Desta forma, eles podem participar dos trabalhos juntamente com nossos designers."