Arquitetos e engenheiros: não podemos simplesmente unir nossas forças?

Charles Thornton, um dos engenheiros civis mais proeminentes do mundo, disse uma vez que o maior problema da engenharia civil é que "não temos auto-estima e confiança suficiente em nós mesmos para acreditar que o que fazemos é tão Importante ... Os arquitetos são treinados para apresentar, comunicar, vender, promover-se, promover sua indústria e assumir crédito pelo que fazem."

Como engenheiro civil com mais de uma década de experiência, concordo com o Sr. Thornton.

Sim, a engenharia civil é o o filho bastardo no processo de construção e, sim, algumas das falhas são nossas. O engenheiro civil não obtém o crédito que o arquiteto porque, como indústria, não conseguimos exigi-lo. Nós nos estabelecemos no banco traseiro em vez de nos afirmar. Nós desempenhamos nossa parte, recebemos nosso pagamento e seguimos em frente.

Onde eu respeitosamente discordo do Sr. Thornton é em sua afirmação de que os engenheiros civis não acreditam que o que fazem é importante.

Pelo contrário, estamos muito conscientes da natureza fundamental do nosso trabalho. A questão é se outras pessoas também estão, particularmente nossos colegas no mundo do design criativo.

A estrutura das icônicas cascas da Ópera de Sydney só foi resolvida através de uma longa e estreita colaboração entre o arquiteto Jørn Utzon e seu engenheiro Ove Arup. Imagem © Usuário do Flickr jimmyharris licenciado sob CC BY 2.0

Muitos engenheiros aceitam (e provavelmente perpetuam) a mentalidade de "nós contra eles" em seu relacionamento com arquitetos. Pessoalmente, eu descreveria isso como um sentimento subjugado. Os serviços de engenharia civil são frequentemente tratados como um mal necessário no processo de construção. Claro, arquitetos, construtores, empreendedores e proprietários entendem que eles devem ter nosso selo e assinatura em seus projetos para cumprir os requisitos do código de construção e, finalmente, obter suas licenças de construção. Mas acredito que o real valor do que temos para oferecer não é percebido.

Essa sensação de desrespeito é real. O site da Sociedade Americana de Engenheiros Civis apresenta um estudo realizado entre os engenheiros praticantes que conclui que "há desafios para os engenheiros civis no relacionamento com seus clientes arquitetos, que incluem a falta de respeito dos arquitetos por seus colegas de engenharia, bem como conotações negativas do campo."

Um estudo da Sociedade de Engenheiros Civis corrobora isso, observando a frustração dos engenheiros com a falta de entendimento estrutural entre os arquitetos, seu hábito de buscar conselhos estruturais muito tardiamente para que o projeto seja realizado de modo ideal, e sua falta de interesse geral na colaboração. Por outro lado, os arquitetos estão frustrados pela falta de inovação e engajamento do engenheiro.

Os arquitetos vêem os engenheiros como sem visão e apreciação para a estética - tecnicamente competentes, mas de outra forma insuficiente e sem inspiração -, enquanto os engenheiros tipicamente consideram os arquitetos como idealistas e ignorantes em relação às leis da física, com projetos que desprezam os limites de orçamento. Trabalhar em conjunto pode ser uma colisão de personalidades e objetivos profissionais. 

Haveria alguma espécie de ciúme no relacionamento dos engenheiros civis com nossos colegas coloridos? Possivelmente. A maioria dos arquitetos insiste em ganhar empregos com base em suas qualificações e habilidades de projeto (entre outras capacidades profissionais, é claro). Mas, fora de campos extremamente complexos e especializados (arranha-céus, estádios, etc.), acredito que é raro que uma empresa de engenharia estrutural se venda exclusivamente com base no mérito e na capacidade de fazer o trabalho bem.

Os arquitetos constroem "testamentos do espírito humano", com revistas reluzentes dedicadas ao trabalho, enquanto engenheiros estruturais falam sobre rigidez e fatores de carga e permanecem anônimos até que algo dê errado. Isso, é claro, não é a regra. Há muitos engenheiros que têm conhecimento estético e muitos arquitetos adeptos das disciplinas mecânicas.

Viollet Le Duc, arquiteto do século XIX bem conhecido por suas inovações em estruturas arquitetônicas, acreditava que os interesses das profissões de arquitetura e engenharia civil seriam protegidos por sua união. Imagem via Wikimedia (domínio público)

A verdade é que os engenheiros e os arquitetos têm mais em comum do se pensa, especificamente os conhecimentos para avaliar e projetar edifícios e fornecer espaços seguros e funcionais para trabalhar e viver. Projeto arquitetônico e projeto estrutural não têm sentido isoladamente. É o casamento perfeito de forma e função.

Os arquitetos precisam ter uma relação de trabalho com os engenheiros, em que se pode confiar que eles tentarão trazer a visão arquitetônica para a realidade. Os arquitetos devem ouvir quando os engenheiros alertam contra algo, seja um problema estrutural, um problema de construção ou uma preocupação de orçamento. E, sim, os engenheiros precisam perceber o talento e a visão que os arquitetos trazem à mesa e usar o conhecimento que possuem para criar uma solução viável.

O poder de colaboração entre engenheiros e arquitetos tem sido reconhecido há muito tempo. Como o arquiteto Eugene-Emmanuel Viollet-le-Duc disse no século XIX, "os interesses das duas profissões serão protegidos por sua união".

Cody Tharpe é diretor do Tharpe Engineering Group, Savannah, EUA.

Sobre este autor
Cita: Tharpe, Cody. "Arquitetos e engenheiros: não podemos simplesmente unir nossas forças?" [Architects and Structural Engineers: Can’t We All Just Get Along?] 29 Jun 2017. ArchDaily Brasil. (Trad. Baratto, Romullo) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/874466/arquitetos-e-engenheiros-nao-podemos-simplesmente-unir-nossas-forcas> ISSN 0719-8906

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