O fogo sempre foi um elemento essencial ao desenvolvimento humano. Pode-se afirmar que a civilização deu seus primeiros passos em direção a conquistas tecnológicas a partir do momento que dominou os princípios da combustão dos materiais. Controlado, o fogo torna-se uma ferramenta poderosa e passa a ser utilizado em diversas atividades da vida humana. Sem controle, porém, o fogo transforma-se em incêndio e pode consumir, em pouco tempo, vidas valiosas e patrimônios nos quais foram investidos vários anos de esforço e recursos econômicos..
A implantação de sistemas que garantam a segurança contra incêndios representa um adicional ao custo total de qualquer edifício. Porém, a segurança das pessoas jamais pode ser negligenciada, mesmo que isto represente um empecilho relativo à criatividade dos projetistas e, principalmente, dos arquitetos. A elaboração de um adequado projeto de prevenção contra incêndios, que atenda às normas de segurança e seja relativamente econômico é, por isso, de suma importância e deve ser executado por pessoal habilitado, podendo, representar o sucesso ou o fracasso de um empreendimento.
No caso da construção civil, a análise integral e consciente da segurança contra incêndios deve formar parte do processo de elaboração do projeto arquitetônico para que seja efetivo e econômico. A segurança contra incêndios tem como objetivos fundamentais: a proteção da vida humana, com a garantia de condições seguras de escape das pessoas, de preservação do patrimônio e da manutenção da estabilidade estrutural do edifício.
Num incêndio, além das perdas diretas, representadas pela perda de vidas e de patrimônio, existem outras perdas, ditas indiretas, que são tão ou mais importantes, como ferimentos e deformações em pessoas atingidas pelo fogo, distúrbios emocionais e financeiros, além de prejuízos e perdas para a sociedade.
Há que se criticar a atitude de projetistas que considerem a segurança contra incêndios como um simples problema de atendimento a códigos, normas e legislações. Em vez do cumprimento mínimo dos requisitos de segurança impostos, caberia aos profissionais da área um perfeito domínio dos conceitos de proteção contra incêndios, que lhes permitiria projetar cada edifício, com suas particularidades características, do modo mais seguro e econômico.
Os objetivos da prevenção contra incêndios são atendidos através do projeto, instalação e manutenção devida das fontes de energia, do distanciamento adequado entre o material combustível e as eventuais fontes de calor, da escolha do material para acabamento da edificação, do conhecimento dos riscos que envolvem as atividades exercidas, da correta utilização dos equipamentos, da compartimentação adequada dos riscos envolvidos, da proteção das aberturas entre ambientes e entre pisos, etc.
A maior probabilidade de extinção de incêndios se dá através de sistemas de proteçãopassiva, que são aqueles que não dependem de qualquer acionamento em caso de emergência, tais como: controle de materiais, meios de escape, compartimentação dos ambientes, proteção da estrutura, entre outros. E de sistemas de proteção ativa, que são acionados a partir do início do próprio incêndio, tais como: ventilação, detecção de fumaça, hidrantes, extintores manuais e outros equipamentos para supressão do fogo.
Note-se que as exigências de proteção não são somente as existentes em normas e código de obras ou de proteção contra incêndio. O profissional não deve se ater às exigências mínimas, mas sim estudar soluções técnicas mais convenientes e eficientes. As medidas para salvaguarda da vida humana devem dedicar especial importância na provisão de meios seguros de escape dos ocupantes, resultantes de um correto dimensionamento das rotas de fuga horizontais e verticais, dos dispositivos para controle do movimento da fumaça no interior do edifício, de reservatórios que garantam volume e pressao de água nos hidrantes, do sistema de alarme e sinalização para abandono de local e do treinamento periódico de abandono do edifício.
Faz-se necessário, portanto, que o próprio edifício possua equipamentos que permitam um combate imediato ao princípio de incêndio pelos próprios ocupantes da edificação, assim como rotas de fuga e sistemas de orientação e alarme que possibilitem a evacuação das pessoas em tempo hábil, sem pânico ou atropelos que, freqüentemente, causam mais vítimas que o próprio fogo. Não se pode esperar que as guarnições de bombeiros do local proporcionem a completa proteção dos ocupantes e bens de um edifício. O conceito de criar segurança contra incêndio baseia-se na filosofia de que o edifício, por si só, deve ser projetado para permitir a extinção do fogo e estar autoprotegido para impedir a propagação do fogo.
João Carlos Souza é engenheiro civil com doutorado em engenharia de produção. De 1980 até 1995 trabalhou nas áreas de engenharia de incêndio, planejamento urbano e de transportes e em projeto e construção de edifícios. Em 1995 ingressou na Universidade Federal de Santa Catarina, ocupando hoje o cargo de professor titular no Departamento de Arquitetura e Urbanismo.