Com a chance de realizar o sonho do arquiteto de criar sua própria cidade utópica do zero, o arquiteto francês Jean Balladur se inspirou em civilizações perdidas do passado. Seus projetos lembram a arquitetura das grandes ruínas Maias com um toque da década de 1960, na forma de uma cidade-resort litorânea no sul da França, La Grande Motte. Balladur dedicou quase 30 anos a esse trabalho, o trabalho de sua vida, que hoje recebe mais de 2 milhões de turistas por ano.
La Grande Motte foi construída como parte do Projeto Racine; Balladur foi escolhido pelo General de Gaulle para desenvolver uma das cinco "unidades turísticas" ao longo da costa mediterrânea da França para aumentar o turismo na região. Na época, o projeto como um todo recebeu 3 bilhões de francos e tinha o objetivo de criar 500 mil novos leitos turísticos nos cinco locais para atrair turistas de toda a França e do norte da Europa.
Jean Balladur era filósofo e arquiteto e seus interesses filosóficos ficaram claros em La Grande Motte. Os edifícios de Balladur se relacionam com a escala humana, cheios de pequenos detalhes que ilustram seu interesse no bem-estar dos usuários. Usando medidas humanas e a proporção áurea para obter as dimensões dos espaços, Balladur garantiu que eles seriam confortáveis para serem habitados. Também parte do desejo de oferecer conforto, os layouts dos próprios edifícios foram organizados para controlar os ventos (às vezes severos), bloqueando-os e gerando áreas mais abrigadas. Balladur priorizou pedestres e ciclistas ao fornecer pistas grandes e sombreadas, protegidas dos carros.
Mas Balladur não tinha ideias grandiosas. Ele sabia o desafio que estava enfrentando e uma vez escreveu: "não há sonhador louco o suficiente que acredite que possa construir uma cidade", quando era precisamente esta a tarefa que ele estava realizando. Balladur também sentiu fortemente que a cidade precisava se relacionar com a história, que não seria bem sucedida se ele a imaginasse do nada, sem vínculos com o resto da humanidade. Essa crença é o que levou à estética distinta e homogênea de La Grande Motte.
Poucos meses antes de ser contratado para projetar La Grande Motte, Balladur fez uma viagem à Teotihuacan, uma antiga cidade mesoamericana perto da Cidade do México. Teotihuacan foi uma vez a maior cidade das Américas pré-colombianas, e muitas pirâmides truncadas permanecem lá até hoje. Impressionado pela enorme escala do sítio arqueológico, Balladur mais tarde se inspirou em Teotihuacan pela vasta paisagem que o aguardava em La Grand Motte, criando então um conjunto arquiteturalmente coeso que abrange mais de 400 hectares (quase 1.000 acres).
O estilo dos prédios de La Grand Motte lembra diretamente as formas piramidais truncadas de Teotihuacan, misturado com o futurismo otimista dos anos 1960 e 70. A forma dos edifícios apresenta várias vantagens, como gerar oportunidade para grandes terraços, dando ao maior número possível de visitantes o acesso à luz solar e às vistas, além de ajudar a controlar os ventos mencionados anteriormente. Balladur desenhou todos os detalhes em La Grande Motte, incluindo o mobiliário urbano, os transformadores elétricos, semáforos, luminárias e sinalização; seu objetivo era criar um trabalho estético completo, totalmente unificado.
O master plan de Balladur para La Grande Motte incluiu zonas para acampar, um centro da cidade, uma marina e um parque da cidade. Vislumbrando uma cidade verde, ele colaborou com o arquiteto paisagista Pierre Pillet para escolher espécies de plantas que tolerariam o clima marinho e barrariam o desenvolvimento em direção à praia (mantendo-a a uma distância a pé dos apartamentos) para proteger a paisagem natural e, ao mesmo tempo, também oferecer uma experiência prazerosa aos visitantes. Grandes espaços abertos cercam os principais edifícios e a cidade também apresenta praças e parques públicos, serviços esportivos e de lazer, uma marina e estrutura para esportes aquáticos. Balladur fez um nítido esforço para celebrar e resguardar a natureza, ao mesmo tempo em que aproveitou os recursos naturais da região o suficiente para potencializar a diversão dos visitantes.