O olhar específico sobre os bens tombados nos conduziu a dois novos instrumentos. O primeiro deles foi a “Recaracterização participativa” da Vila Maria Zélia. O objetivo principal foi a sensibilização da população moradora para o conjunto tombado, através da constituição de um centro de memória e a orientação para a recuperação dos imóveis. Finalmente, a “Fábrica de Restauro” do Bixiga constitui-se da mobilização e gestão compartilhada para a recuperação de conjuntos históricos com suas relações sociais. Três grupos de trabalho propuseram ações concretas. O primeiro, tratando de capacitação e formação “do pedreiro ao restaurador”, definiu cursos e debates. O segundo, analisando recursos passíveis de serem obtidos de forma coletiva e o terceiro, assumindo a articulação de proprietários e cooperativas, incentivando a economia criativa.
Como vimos, São Paulo tem 3.559 imóveis tombados. Não é pouca coisa. O tombamento, ou a proteção legal, é apenas um dos três pilares em que a preservação do patrimônio histórico se sustenta. A identificação, por meio da produção de inventários ou da indicação popular, é outro. Devemos nos ocupar daqui para frente especialmente do terceiro pilar: a valorização. Ou seja, do conjunto de ações que cria valor social e econômico para os bens culturais.
Embora os três pilares tenham igual importância, nesta última gestão do DPH e do Conpresp (os órgãos municipais do patrimônio), buscou-se enfatizar justamente a valorização do patrimônio, por entendê-la como estratégica para impulsionar todas as outras. A criação do ETGC-Escritório Técnico de gestão compartilhada, através de um convênio assinado em dezembro de 2013, estabeleceu-se a articulação entre IPHAN, CONDEPHAAT E CONPRESP. A aplicação de multas trazendo recursos para o FUNCAP, possibilitou o restauro do bronze do Monumento do Ipiranga e dos Arcos da Rua Jandaia.
Além desses esforços de gestão inovadora, a Jornada do Patrimônio e a criação do Selo de Valor Cultural permitiram a disseminação de conhecimento e a possibilidade de democratização e compartilhamento da salvaguarda do Patrimônio.
Essas decisões surgiram do diagnóstico, apresentado acima, da atuação do DPH desde sua criação, em 1975: os esforços de identificação sistemática foram pouco a pouco desmobilizados, e a valorização nunca chegou a tomar corpo dentro do departamento. Também criado nessa gestão, o Blog do DPH teve mais de 1.500 acessos e 5.000 curtidas nos meses em que ficou ativo. Usando linguagem acessível, trouxe temas diversos e, diferente de outros blogs institucionais de patrimônio, produziu conteúdo próprio abordando temas que estavam na ordem do dia. Ao não se pautar unicamente pela divulgação de ações do departamento, mostrou como é possível usar os meios digitais para promover a educação patrimonial.
Não foram poucas as inovações desta gestão que se encerra. O patrimônio de São Paulo e o DPH, seu órgão de defesa, estão mais visíveis e fortalecidos. Mas ainda há muito por fazer.
Em palestra no Instituto de Arquitetos do Brasil - Departamento de São Paulo no dia 19/08/2017.
Nadia Somekh. Professora Emérita do Mackenzie foi Presidente do CONPRESP e Diretora do DPH (2013-2016), Presidente da EMURB (2002-2004) da Prefeitura do Município de São Paulo, Secretária de Planejamento e Ação Regional de São Bernardo do Campo (2009-2010), Diretora da FAU Mackenzie (2005-2009) e autora do livro “A Cidade Vertical e o Urbanismo Modernizador”, em 2015, entre outros.