Quem já esteve em São Paulo reconhece os padrões gráficos que cobrem grande parte das calçadas da cidade. Projetadas por Mirthes dos Santos Pinto em 1966, as calçadas paulistanas não deixam de ser um contraponto aos marcantes desenhos em pedra portuguesa dos calçadões do Rio de Janeiro. O então prefeito de São Paulo, Faria Lima, lançou um concurso para o desenho do novo calçamento da cidade. Mirthes, que era desenhista da Secretaria de Obras da Prefeitura, se inscreveu e acabou ganhando.
Durante quase quarenta anos, a autoria da pavimentação que ganhou a capital paulista ficou esquecida. Enquanto isso, o projeto ia vivendo a história das ideias que vão para o mundo: começou a ser produzido pelo poder público, para então passar a ser adotado massivamente pela indústria, por moradores e comerciantes, e em seguida entrar no fluxo arbitrário de transformações que a dinâmica urbana oferece.
Ao longo dos anos – graças a obras públicas, escavações, vandalismo, desgaste e substituições – os padrões foram sendo continuamente transformados, criando mutações a partir do design original. No início de 2012, o artista turco Yusuf Etiman passou dois meses perambulando pelas ruas de São Paulo, em um trabalho meticuloso de documentação dessas permutações.
Este conteúdo pertence à revista PISEAGRAMA. Veja a matéria original aqui.
Como citar este trabalho: ETIMAN, Yusuf. Calçadas mutantes. PISEAGRAMA, Belo Horizonte, número 07, página 88 - 97, 2015.