Ambos têm parte da razão, ao que no final é o mesmo que dizer que os dois estão parcialmente errados.
O Estado aponta na direção correta quando promove políticas de densificações habitacionais. Uma cidade mais compacta reduz custos de provisão e manutenção de infraestrutura e serviços, ao mesmo tempo em que diminui os tempos de deslocamentos, favorecendo a caminhada, o uso de bicicleta e transporte público. Tudo isso também ajuda a reduzir as emissões de gases poluentes e efeito estufa. Um bairro de média e alta densidade permite que mais pessoas desfrutem diretamente de seus equipamentos e áreas verdes, constituindo o ambiente propício à instalação do comércio local, que por sua vez atrai maior número de pessoas às ruas, e, por esse motivo, tornam-se ambientes mais atraentes e seguros. O Estado também está tomando boas medidas ao criar regras especiais que fornecem facilidades à construção de habitação de interesse social em áreas consolidadas. Ao permitir maiores densidades, é possível repartir o valor do solo entre mais unidades, o que pelo menos em teoria, torna a construção de moradias em uma cidade com custo mais acessível.
Estos edificios se construyen en Estación Central. Donde está la escala humana y el espacio público? Sabían q no existe plan regulador ahí? pic.twitter.com/5B5FdvLHsO
— Claudio Orrego (@Orrego) 6 de abril de 2017
Em sua parte, os vizinhos também estão certos quando opõe-se à essas políticas e programas de densificação em que geralmente não se traduziram em resultados demasiadamente virtuosos. O caminho ao inferno está cheio de boas intenções, e isso não é exceção. Embora bem colocada, a densificação urbana é uma política que geralmente goza de má reputação, pelo menos na maior parte das cidades latino-americanas. Sem uma imagem clara do que isso significa, na prática o que tem se materializado é a construção de grandes edifícios que contribuem tão pouco ou nada para o bairro, exceto problemas como maiores congestionamentos, ruídos, áreas de sombra e deterioração geral do espaço público. Os vizinhos têm razão ao opor-se à aplicação de normas originalmente destinadas à construção de habitação social, pois na prática, têm sido utilizadas de forma imprudente pelas imobiliárias a fim de aumentar os metros quadrados construídos sem oferecer moradias mais acessíveis em troca.
Sim, é verdade que os vizinhos tendem a agir de forma egoísta e que geralmente não querem compartilhar seus parques ou vagas de estacionamentos públicos com ninguém (como se pertencessem a eles). Tampouco desejam ver novas crianças disputando com os seus próprios poucos playgrounds que estão na praça, ou que tiraram o banco e a sombra da árvore onde viam a vida passar. Sim, é muito difícil encontrar alguém que esteja disposto a pagar os custos privados dos benefícios públicos da densificação, especialmente quando esses supostos benefícios são instalados no campo da dúvida. É uma questão de ver os edifícios construídos sob a norma 26 na Cidade do México, caixas de sapato verticais em que a boa arquitetura é um bem extremamente escasso, para perceber que o pedido de vizinhança pode ser egoísta, mas que não está isento de uma alta taxa de razão.
Na cidade, as coisas raramente são pretas ou brancas; de fato, boas políticas geralmente se sentem confortáveis vagando pela escala de cinza. Entre as sombras dos programas de adensamento e o alto custo econômico, social e ambiental das baixas densidades, há um amplo terreno no qual os vizinhos e as agências de planejamento e desenvolvimento urbano raramente entram. Grande parte do problema se origina na falta de uma imagem da cidade desejada. Quando discutimos instrumentos de planejamento territorial no nível do bairro, nunca desenhamos, nem modelamos os resultados projetados. É que o planejamento urbano foi reduzido e simplificado a um conjunto de poderes em que as armas a serem usadas estão limitadas a uma série de códigos aplicadas às vastas áreas da cidade sem distinguir as particularidades de cada bairro ou de cada rua. O urbanismo dos advogados que se esquecem que por trás de cada norma se escondem valores como sociedade, e que estes valores sempre tem uma representação física.
Nesse sentido, a promoção de uma cidade mais compacta pode apontar para a criação de uma sociedade mais sustentável e solidária, na qual o uso do solo, infraestrutura e serviços seja compartilhado e maximizado. No entanto, este mesmo modelo pode dar origem às mais vorazes especulações imobiliárias, onde o lucro de alguns é baseado no sofrimento de muitos.
Devemos entender que o solo urbano é um recurso escasso e que, portanto, deve ser administrado com critérios de sustentabilidade. A expansão horizontal e fragmentada nos custa muito. De lá para crescer indiscriminadamente, há um longo caminho. Chegou a hora de explorar este processo; no entanto, não é claro que os métodos e instrumentos de planejamento territorial atuais são as ferramentas mais apropriadas para fazê-lo.
Acompanhe a conversa com Rodrigo Díaz no Twitter: @pedestre.