O futuro de uma nova Paris já vem sendo noticiado há alguns meses. Desde que a atual prefeita, Anne Hidalgo, assumiu o cargo, seu desejo de uma cidade com cada vez menos carros vem se realizando em pequenas (ou nem tão pequenas) ações. No entanto, parece que esse objetivo ganhou uma data perfeita para ser alcançado: os Jogos Olímpicos de 2024.
A capital francesa foi oficialmente escolhida como a sede dos Jogos Olímpicos de 2024 no mês passado, após ser preterida em outras três candidaturas (1992, 2008 e 2012). Com um orçamento de 6,8 bilhões de euros, Paris promete não exagerar em instalações desnecessárias – os “famosos elefantes brancos”. Apenas um espaço está sendo projetado para a realização dos jogos e também cumpre uma necessidade da comunidade local. Será um centro de atividades aquáticas conectado ao Stade de France, o estádio nacional francês, construído para a Copa do Mundo de 1998. O novo centro olímpico abrigará as competições de natação e mergulho e, depois dos jogos, atenderá a comunidade de Saint-Denis, um dos bairros mais pobres de Paris, possibilitando acesso da população às instalações. Ao todo, 95% de todos os locais dos Jogos de 2024 já existem ou serão estruturas temporárias.
É possível dizer que o maior desafio de Paris até 2024 será transformar a forma com que a cidade de move. Os sete anos que faltam para a realização do evento podem também ser os últimos de predomínio dos carros nas ruas de Paris.
Anne Hidalgo tem urgência em solucionar os altos índices de poluição do ar, que mata prematuramente 6.500 pessoas por ano na Grande Paris, e sabe que para isso precisará implementar ações sem precedentes. Algumas já estão acontecendo. Estacionamentos para carros já estão mais caros, veículos a diesel fabricados antes de 1997 estão banidos da região central, e o último Dia sem Carro, realizado no em 1º de outubro, proibiu pela primeira vez a circulação de veículos em 100% do território da cidade, com exceção do anel periférico.
A prefeita também segue com o plano de banir veículos com motores de combustão até 2020. Novas ciclovias serão instaladas para atender a meta de dobrar os quase 700 quilômetros de pistas existentes em 2015 para 1.400 quilômetros em 2020 – e uma delas deve ser construída no meio da famosa avenida Champs-Élysées.
Foi anunciado, ainda, o “Tramway Olympique“, um bonde elétrico que vai percorrer as vias superiores ao longo do Rio Sena em ambos os sentidos em uma linha que se estenderá por 11 quilômetros. O projeto leva o nome Olímpico, já que é parte do esforço para aliviar congestionamentos em três linhas de metrô durante a realização do evento.
Jean-Louis Missika, vice-prefeito de Paris e responsável pela arquitetura, urbanismo e desenvolvimento econômico da cidade, em entrevista ao jornal inglês Finantial Times, afirma que os Jogos serão, acima de tudo, a construção da identidade da Grande Paris. Essa crença tem origem nos planos ambiciosos da cidade, que visam, de forma geral, devolver os espaços públicos aos pedestres e ciclistas e investir em meios de transporte não poluentes. Além disso, a ideia de Missika é que, com a diminuição do uso dos carros particulares e a otimização do transporte coletivo, o anel rodoviário de Paris, que hoje separa o centro dos subúrbios, desapareça.
Ao contrário do que costumamos ver acontecer em uma cidade-sede de um megaevento esportivo, Paris vê nos Jogos Olímpicos de 2024 a oportunidade de cumprir suas “promessas” e metas com a população e com a qualidade de vida, em vez de apenas atender a demandas do Comitê Olímpico Internacional (COI). Não será a realização dos Jogos que mudará a cidade, e sim os projetos que farão de Paris a capital referência em políticas públicas e redesenho urbano por soluções climáticas.