Cada material carrega suas particularidades e o processo de projeto e construção devem ser adequados a essas características. Um edifício em estrutura metálica, por exemplo, deve ter uma precisão acurada para que os componentes e as partes, geralmente fabricados fora do canteiro de obra e transportados até lá, encaixem-se durante a montagem. Um edifício de madeira pode ter suas seções transversais drasticamente modificadas de acordo com a espécie e resistência da mesma, ou mesmo segundo a direção das cargas em relação às suas fibras. O bambu, por sua vez, exige uma aproximação distinta, por conta de sua composição e características próprias.
Mas de que forma é possível trabalhar com um material com tantas minúcias e desafios?
Construir com bambu requer, acima de tudo, uma nova forma de pensar o projeto e a obra. Segundo Ewe Jin Low, arquiteto líder do escritório Ibuku, “para aprender a construir com bambu, você deve antes desaprender um pouco de arquitetura”. Isso não quer dizer que seja necessário esquecer o que se estudou e experienciou durante a faculdade, muito pelo contrário. Diz respeito a entender o material e respeitar suas particularidades, sua irregularidade natural, a forma como ele cresceu e mesmo como foi cortado. Em outras palavras, o desaprender quer dizer deixar para trás algumas ideias pré-concebidas sobre arquitetura e admitir que um edifício em bambu nunca será milimetricamente preciso, com dimensões redondas e que é impossível pensá-lo estruturalmente como outro em concreto ou aço. É necessário levar em conta que um material natural e bruto como o bambu tem memória, tem diferenças de cores, dimensões e resistência. E justamente aí está sua beleza.
Junto com croquis e imagens conceituais de referência, as maquetes têm papel vital no processo projetual dos projetos em bambu. Além de serem muito importantes durante a concepção de uma nova edificação, em estudos de volumetria, harmonia e estrutura, elas representam a principal documentação dos projetos desenvolvidos nos projetos desenvolvidos no escritório Ibuku,. Geralmente na escala 1:50 ou 1:25, utilizam-se varas de bambu escaladas referente às seções de cada espécie de bambu a ser empregada no edifício construído, e são realizadas diversas maquetes de experimentação. Quando o projeto é considerado finalizado, aprovado e pronto para a construção, duas maquetes idênticas são feitas. Uma vai para a obra e a outra fica no escritório, em caso de perda ou quebra. O mais interessante é que a maquete, construída no mesmo material, comporta-se estruturalmente da mesma forma que o edifício construído, e através dela pode-se certificar questões referentes aos vãos, os balanços, e até mesmo escalas. Durante a obra a maquete frequentemente revisitada, onde, através de escalímetros, verificam-se dimensões, ou são resolvidas dúvidas que surgem.
As formas orgânicas desenvolvidas nos projetos do Ibuku geralmente são mais bem representadas nas maquetes em escala, onde se pode ter certeza e clareza sobre todos os componentes estruturais e de que forma eles trabalharão em conjunto. A maquete figura tanto como um elemento de projeto como uma documentação para a obra. No entanto, desenhos técnicos “tradicionais” também são desenvolvidos. Cortes e plantas são importantes, sobretudo para os interiores, instalações elétricas e hidráulicas, e mesmo para o envio a outros profissionais envolvidos no projeto.
Durante o curso Bamboo U os participantes puderam colocar a mão na massa e trabalhar com as maquetes em bambu, desenvolvendo modelos pré-concebidos e desenvolvendo sua criatividade através de suas criações. Dessa forma, puderam experienciar e entender melhor as características do bambu, sua elasticidade, resistência e possibilidades. Ao mesmo tempo, um carpinteiro especializado desenvolvia a maquete final para a construção feita em tamanho real durante os últimos dias do curso com a ajuda dos participantes.
Dois de nossos editores, Eduardo Souza e José Tomás Franco, foram convidados por BambooU e pela empresa de projetos em bambu IBUKU para fazer parte desta experiência incrível, organizada pela The Kul Kul Farm na Green School em Bali, na Indonésia. Confira mais informações sobre os próximos cursos aqui ou através do instagram.