Através da biomimética, GCP Arquitetura & Urbanismo, criou o projeto de um hotel no sul da Bahia que se inspira em soluções da fauna e flora para promover melhor conforto térmico nos edifícios e menor impacto ambiental para sua operação.
A natureza constantemente enfrenta diversos desafios climáticos ou relacionados ao seu ecossistema para sua sobrevivência e reprodução, como forte irradiação solar, excesso de água, flutuações de temperatura. Ela lida com eles através de mecanismos e de estratégias desenvolvidas, ao longo de bilhões de anos de evolução, que se tornaram a fonte de inspiração deste projeto. É sobre isso que a biomimética se trata - uma disciplina que tramita em vários segmentos e tem como objetivo aprender e desenvolver técnicas baseadas no estudo e na análise de soluções que a natureza desenvolveu. Na arquitetura ela pode ser aplicada para trazer novos conceitos e estratégias que visam a eficiência de edificações, materiais inovadores e multifuncionais, além de ser uma oportunidade única de identidade na criação dos projetos.
O escritório paulista GCP Arquitetura & Urbanismo - fundado pelo arquiteto Sergio Coelho, tem como sócia a bióloga Alessandra Araujo, com formação em biomimética. A equipe de projeto foi treinada em biomimética e elegeu quais os aspectos do projeto seriam solucionados através da bio-inspiração. A partir daí estudaram as técnicas que alguns animais e plantas criaram para tornar a vida mais confortável em ambientes hostis e as traduziu em arquitetura, a fim de gerar ambientes mais confortáveis que respeitem o entorno e usuário. Foi assim que surgiu o projeto do Votu Hotel - "votu", em tupi-guarani, significa "vento" - na Península de Maraú/Bahia, uma localização privilegiada em termos de biodiversidade.
A biomimética trouxe diversas inovações ao projeto. Na concepção das suítes foi incorporado ao partido arquitetônico o Princípio de Bernolli para ventilação natural e constante, garantindo conforto térmico mesmo quando o espaço esteja fechado. Este princípio é observado na natureza em vários organismos e a inspiração, neste projeto, veio do cão de pradaria que faz suas tocas enterradas no solo com entradas e saídas de ar com altura e diâmetro distintos permitindo que o vento/brisa sempre possa entrar e ventilar sua toca.
Esta estratégia foi aplicada na estrutura de concreto que inicia como base, cresce como paredes da área íntima e se desenvolve como cobertura. Nesta, foi projetada uma laje jardim para dar maior massa térmica e com isso conforto térmico, além de proporcionar que o verde possa ocupar a sobreposição da área da suíte. O fechamento destas construções foram inspirados na capacidade de auto-sombreamento de alguns cactos. No prédio principal a cobertura da cozinha também é uma laje jardim, porém atua como um grande trocador de calor inspirado nos bicos dos tucanos.
Estas estratégias inovadoras permitem que os espaços sejam mais saudáveis e agradáveis evitando o uso excessivo de energia com climatizadores, além de dar ao projeto um partido arquitetônico criativo que não necessariamente remete a uma forma natural, mas sim um mecanismo natural.
O Votu Hotel tem áreas específicas para descanso dos hóspedes e área de integração social, tanto em ambientes construídos como em ambientes naturais como a horta e pomar. O projeto de paisagismo respeita o bioma local e não faz introdução de espécies exóticas.
O tratamento de efluentes também incorpora princípios da permacultura como Círculo de Bananeiras e Biossistemas com Biodigestores.
FICHA TÉCNICA
Arquitetura, interiores e paisagismo: GCP Arquitetura & Urbanismo
Equipe: Alessandra Araujo, Daniel Mariano, Felipe Lima, Gabriela Garcia, Gabriela Haddad e Sérgio Coelho
Localização: Maraú, BA
Data do início do projeto: 2016
Área do terreno: 6.250 m²
Área construída :1.603 m²
Imagens: Ricardo Canton
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