Na Espanha, um neologismo que tenta explicar um novo fenômeno foi popularizado: a turistificação. É, como descrito por Antonio Maestre em La Marea, um neologismo sobre "o impacto no cidadão de um bairro em que as instalações e serviços passem a serem dedicados quase que exclusivamente ao turista em detrimento do residente".
Entre as consequências associadas a este fenômeno em cidades como Madri e Barcelona, está a proliferação maciça de alojamentos turísticos. Essa oferta de hospedagens vem provocando e facilitando processos especulativos cujas consequências negativas acabam afetando os habitantes e os cidadãos dos bairros, que são forçados a abandoná-los porque não podem pagar o aumento dos preços ou aluguéis da habitação.
A este fato se acrescenta a ausência de políticas de planejamento urbano capazes de regular e controlar esses processos, em que os cidadãos se vêem indefesos e incapazes de contrariar os efeitos causados pelo turismo de massa em seus próprios bairros.
Madri é uma das cidades que atualmente sofre mais com essas consequências: de acordo com Moratoria.eu, entre 2010 e 2017, 10 mil moradores foram forçados a abandonar seu bairro, por conta do aumento do preço do aluguel ou devido a problemas de convivência com o turistas que ficam nas habitações de uso turístico através do denominado modelo P2P, ou de uso turístico profissional (VUT).
Embora esses problemas afetem e se espalhem por toda a cidade e sua periferia, é nas áreas centrais onde a situação é mais insustentável: no Distrito Central, por exemplo, há um leito turístico por cada dois habitantes e o preço do aluguel entre 2014 e 2017 aumentou em 39%. Desta forma, o direito à habitação torna-se cada vez mais difícil e os habitantes são deslocados, para não dizer expulsos de seus bairros, para que, desse modo, possam ser explorados de forma turística.
Ante esta situação, a organização Lavapiés ¿dónde vas? propôs na plataforma municipal Decide Madrid a elaboração de um Plano Especial de Gestão Turística da Cidade de Madri (PEOTMad) e, no período que abarca seu processo de aprovação, incluir uma moratória sobre a concessão de licenças a todos os tipos de lugares turísticos.
PEOTmad é proposto como um processo participativo aberto a todos os agentes interessados no desenho de um plano de desenvolvimento turístico sustentável, ou seja, compatível com o direito à cidade dos habitantes de Madri. Este processo permitiria inaugurar um período de análise e debate, que culminaria com a elaboração do Plano Especial.
Entre os objetivos da organização, é realizado um estudo aprofundado da situação atual da indústria do turismo em Madri para estabelecer ações apropriadas para regular e controlar a atividade turística e evitar a concentração de alojamento turístico ou "monoculturas" em certas áreas.
Durante o período de desenvolvimento do referido Plano Especial, propõe-se uma moratória que paralise a concessão de licenças a todo o conjunto de locais turísticos (residências turísticas, hotéis, apartamentos, pensões e albergues). Desta forma, os habitantes poderiam paralisar o processo de turistificação e obter espaços e horários de diálogos e decidir qual, como e quanto é desejado do turismo na cidade.
O período de apoio à moratória contra o turismo na cidade de Madri e a elaboração do Plano Especial está atualmente aberto na plataforma Decide Madrid.
Para mais informações consulte o site oficial Moratoria.eu