Ao desenvolver um projeto de arquitetura, independente da escala ou programa, os arquitetos se deparam com uma série de escolhas a serem feitas quanto ao processo construtivo adotado, sob aspectos variados: estrutural, econômico, mão de obra disponível, estética, entre outros – em prol da melhor solução.
A partir das muitas dúvidas que surgem no decorrer de seu desenvolvimento quanto à escolha dos sistemas construtivos, preparamos um guia prático acerca dos principais tipos de lajes de concreto moldadas in loco e pré-fabricadas que o projetista deve conhecer, com as vantagens e desvantagens de cada uma delas.
Saiba mais a seguir:
Lajes moldadas in loco
Executadas diretamente no canteiro de obras, as lajes moldadas in loco garantem processos de tempo médio, dada a cura do concreto; dispensam mão de obra especializada; e podem proporcionar formas variadas, segundo as fôrmas.
1. Laje Maciça
Integralmente concebida no processo de obra, com espessuras que normalmente variam de 7 a 15cm, é executada A partir da combinação de fôrmas que garantem a superfície onde o concreto é despejado sobre a armadura de aço.
Vantagens
Comumente empregada em construções de pequeno a médio porte – residencial e comercial, as fôrmas são integralmente preenchidas por concreto junto à armação metálica, de acordo com alturas definidas por cálculo estrutural. O sistema ainda permite, além dos desenhos planificados, formatos tridimensionais e fluídos. Apresenta ainda alto grau de resistência a trincas e a fissuras.
Desvantagens
Pela grande quantidade de material utilizado nas fôrmas, posteriormente descartadas, há custo elevado no valor total da obra e maior geração de resíduos. Destaca-se ainda que por conter maior volume de concreto e consequentemente, maior peso, os outros elementos da estrutura também devem ser reforçados, o que leva a um aumento material usado na estrutura.
2. Laje Cogumelo
As lajes tipo cogumelo são aquelas apoiadas diretamente sobre pilares. Podem ser maciças, de concreto armado ou protendido, ou incorporadas com material inerte, formando lajes nervuradas. Pode dispor de capitel, quadrado ou circular, cuja laje se apoia sobre o mesmo.
Vantagens
Apesar de não ser adotada com tanta frequência, se comparada a outros sistemas, este modelo de laje permite vencer grandes vãos. Pela ausência de vigas, que gera descontinuidade na execução das fôrmas e armações, permite fácil execução, principalmente se comparada a outros tipos de laje moldadas in loco, como a nervurada, por exemplo.
Desvantagens
Apesar de utilizada para grandes vãos, a principal desvantagem está no custo da obra, dado que a mesma exige maior espessura das lajes e, consequentemente, alto consumo material de concreto e aço, que em muitos casos, pode inviabilizar sua aplicação no projeto. O modelo também exige mão de obra especializada.
Estruturalmente, por não ter vigas, está sujeita ao alto grau de cisalhamento nos pilares – fenômeno nomeado de Punção, que, de acordo com o índice da tensão entre o apoio e a planície da laje, o pilar pode vir a furar a mesma. A partir disso, além do aumento da espessura da laje, duas possíveis soluções podem ser adotadas: aumento da dimensão do pilar, o que também gera aumento material e em alguns casos, desproporção em relação ao projeto; ou ainda, execução do capitel com maiores dimensões, solução mais adotada por construtores e arquitetos.
3. Laje Nervurada
Neste tipo de laje, a zona de tração é constituída por nervuras e a zona de compressão por uma mesa. O espaço entre as nervuras pode ficar vazio ou podem ser colocados elementos inertes, tais como blocos de cerâmica, de concreto celular, ou de EPS (isopor), que não contribuem para a resistência final. A principal função dos elementos inertes é propiciar o alívio do peso da estrutura pela retirada de material da zona tracionada do concreto e melhorar a eficiência da estrutura. A laje apresenta seção em “T”, constituída uma mesa-alma que recebe os esforços de compressão enquanto a armadura inserida nas nervurasresiste aos esforços de tração.
Quando a distância entre as nervuras for maior que um metro convencionou-se chamar a laje nervurada de “laje grelha”.
Vantagens
Comparada à laje maciça, a laje nervurada apresenta maior economia, dado que suas nervuras atuam como vigas, o que possibilita se vencer maiores vãos, proporcionando mais liberdade de layout arquitetônico na sua superfície. Para vãos acima de 7,0 metros vale a pena investir na possibilidade do uso da laje nervurada. Para perímetros quadrados ou próximos deste, é indicado o uso da grelha em duas direções. Já em casos de plantas muito retangulares, se indica o uso das nervuras em apenas uma direção, sendo esta sempre disposta no sentido do menor vão.
Desvantagens
Pela necessidade da elaboração precisa das nervuras e da colocação da armadura, esse sistema exige mão de obra especializada e maior volume de material para a execução das fôrmas. Estruturalmente, aumentam a altura das construções, e pelo desenho, apresenta maior dificuldade na compatibilização com outras etapas de projeto, como sistemas de instalações prediais – elétrica e hidráulica, por exemplo.
No canteiro de obra, exige cuidado e atenção na concretagem, para que não haja áreas vazias, exigindo atenção no processo de vibração do concreto.
Lajes pré-fabricadas / pré-moldadas
Produzidas através de processos industriais, são projetadas de forma criteriosa para que tenham resistência e leveza. O cálculo estrutural é muito cuidadoso e adota-se rigoroso controle de qualidade dos materiais utilizados. Como se poderá observar a seguir, pela maior resistência e regularidade dimensional são excelentes opções para diversos tipos de construção.
1. Laje com vigotas de concreto armado e lajotas cerâmicas
Seu funcionamento é unidirecional e equivalente às lajes nervuradas armadas em uma única direção. As vigotas possuem a forma de um “T” invertido cuja altura varia entre 8 a 9 cm e a da laje corresponde a soma das alturas dos blocos com o capeamento.
Vantagens
O sistema é constituído por vigotas pré-moldadas em concreto, cuja armadura absorverá os esforços de tração, lajotas cerâmicas para fechamento e uma capa superior de concreto de 3 a 5 cm que resistirá aos esforços de compressão. É uma opção eficiente e de baixo custo se comparada a outros tipos de laje. Pelo sistema de fácil montagem, não exige mão de obra especializada.
Frequentemente utilizada para projetos residenciais de baixo custo permite economia material e rapidez no processo construtivo, apresentando inúmeras vantagens à construção.
Sua principal característica econômica é, por dispensar o uso de fôrmas de madeira durante o processo construtivo, garantir rápida execução e pouco desperdício de material utilizado como forma e escoramento.
Desvantagens
Como é dimensionada apenas para ser utilizada como laje de piso ou de teto, não deve receber sobrecargas não previstas no projeto, tais como paredes ou outros elementos arquitetônicos, portanto, não permite grande liberdade de layout. Caso ocorram sobrecargas há grande possibilidade de fissuras, trincas e outros danos estruturais.
2. Laje treliçada
É um sistema constituído por uma laje nervurada, unidirecional, onde as vigotas treliçadas são intercaladas com elementos inertes em conjunto a uma capa de concreto.
Essas lajes possuem grande capacidade de carga conseguindo vencer vãos relativamente grandes (10 a 15 m). O modelo estrutural é composto por uma treliça espacial, hiperestática, com banzos paralelos e nós rígidos. Os elementos inertes podem ser blocos de cerâmica ou de EPS (isopor)
Vantagens
Com baixo valor de comercialização, o sistema permite rapidez construtiva, dispensa mão de obra especializada e apresenta leveza.
A adoção deste tipo de laje também ajuda na garantia do isolamento térmico, propiciando equilíbrio na temperatura interna, sem absorver calor.
Desvantagens
Pelo tipo de material utilizado, fica difícil se fazer furos ou aberturas na parte inferior e torna-se necessário a aplicação de materiais aderentes, chapisco ou gesso,para se executar o revestimento da parte inferior.
3. Laje de painéis treliçados
Essa tipologia de laje pré-fabricada assemelha-se muito às lajes treliçadas com lajotas cerâmicas e com isopor, contanto, neste caso, utiliza apenas as vigotas de concreto com armação treliçadas em largura superior aos casos anteriores, que então, são instaladas lado a lado.
Vantagens
Com resistência superior aos dois casos anteriores, ainda apresenta maior velocidade comparada aos mesmos, pelo menor número de elementos. O processo executivo exige menor uso de escoramento e madeira no canteiro de obras.
Desvantagens
Apesar de vantagens aos dois casos anteriores, apresenta maior custo, devido uso de 30% a maisde concreto.
4. Lajes alveolares
Compostas por painéis protendidos de grandes dimensões, permitem vencer grandes vãos, indicadas a projetos de grande porte.
Vantagens
Pela protensão, tendo na armadura cabos de aço de alta resistência, é bastante utilizada em projetos comerciais e institucionais. As alturas podem variar entre 0,10 e 0,30 metros. Recebem ainda uma armadura complementar de travamento das placas, dispostas no sentido transversal e uma camada de concreto, o capeamento, para regularização do conjunto. Possuem grande capacidade de carga e podem alcançar vãos relativamente grandes de até 20,0 metros cada painel.
Desvantagens
Pelo peso, o transporte da fábrica ao canteiro e posteriormente, até o local de instalação, é integralmente realizado por guindastes.
Publicado originalmente em 14 de fevereiro de 2018, atualizado em 29 de abril de 2022.