Com a proximidade da divulgação do próximo vencedor do Prêmio Pritzker de arquitetura, entrevistamos o economista e crítico de arquitetura André Corrêa do Lago, primeiro brasileiro a fazer parte do corpo de jurados da maior honraria da arquitetura mundial.
Tendo já reconhecido dois arquitetos brasileiros, Oscar Niemeyer (1988) e Paulo Mendes da Rocha (2006), é de surpreender que em 40 anos de história nenhum brasileiro tenha sido indicado ao júri da premiação. Sobre isso, Corrêa do Lago diz que "é preciso reconhecer, porém, que sempre houve diversidade de representação regional no júri, inclusive da América Latina."
Leia a entrevista completa, a seguir:
ArchDaily: Como sua trajetória profissional lhe fez chegar até a arquitetura?
André Corrêa do Lago: Comecei a me interessar por arquitetura aos 15 anos, mas nunca quis ser arquiteto, pois nunca achei que poderia trazer alguma contribuição relevante... Estudei economia e depois entrei para a carreira diplomática. Continuei a ler muito sobre arquitetura, e alguns amigos me convidaram a escrever artigos em livros, revistas e jornais. Acabei sendo considerado um "crítico de arquitetura".
AD: Como veio sua indicação para integrar o júri do Prêmio Pritzker?
ACL: Ao longo dos últimos 30 anos, conheci certo número de arquitetos, autores, editores, e meu nome pode ter sido sugerido nesse contexto, mas acredito que, além disso, o fato de eu ter trabalhado por muitos anos com questões relacionadas com mudança do clima, meio ambiente e energia – temas hoje centrais nos debates arquitetônicos – tenha também sido levado em consideração.
AD: E como você vê a participação de um brasileiro neste grupo?
ACL: Realmente é surpreendente que eu seja o primeiro em quarenta anos a integrar o júri, tendo em vista que o próprio Pritzker já reconheceu a relevância da arquitetura brasileira com as premiações de Niemeyer e Paulo Mendes da Rocha. É preciso reconhecer, porém, que sempre houve diversidade de representação regional no júri, inclusive da América Latina.
AD: Como arquitetos, somos realmente necessários na sociedade? Como você argumentaria sobre a importância da presença dos arquitetos no cenário mundial?
ACL: Sim e cada vez mais. O mundo é hoje mais de 50% urbano (o Brasil mais de 90%) e, portanto, as soluções para o convívio e a qualidade de vida nas cidades passam necessariamente pela arquitetura. Os desafios são progressivamente mais complexos diante da diversidade das populações e diante das questões que exigem uma arquitetura cada vez mais sofisticada. O arquiteto se tornou um ator muito relevante para que avancemos na direção de um desenvolvimento sustentável, ou seja, um desenvolvimento que busque o equilíbrio entre o social, o ambiental e o econômico.
AD: Qual a relevância da arquitetura latino-americana no contexto globalizado?
ACL: A América Latina tem experiências e soluções que se aplicam tanto no mundo desenvolvido como no mundo em desenvolvimento. Entendemos de desigualdades, entre tantos outros desafios. Mas temos também muita cultura, tecnologia, talentos, diversidade e tolerância, o que leva a região a ter muitos exemplos de boa arquitetura, desde projetos sociais avançadíssimos a algumas das casas mais bonitas do mundo.
André Corrêa do Lago é o primeiro brasileiro a integrar o júri do Pritzker
Pela primeira vez na história do Prêmio Pritzker, um brasileiro foi convidado a integrar o júri da premiação. André Corrêa do Lago , diplomata de carreira, foi anunciado ontem, dia 20 de maio, durante a entrega do prêmio aos integrantes do escritório RCR Arquitectes em Tóquio, como membro do corpo de jurados do maior reconhecimento profissional do campo da arquitetura.