Como Sou Fujimoto promove o espírito de comunidade ao unir elementos aparentemente opostos

Este artigo foi originalmente publicado pela Redshift como "Architect Sou Fujimoto Has Radical Ideas for Familiar Communal Spaces."

A destruição de Ishinomaki pelo Grande Terremoto e Tsunami no Leste do Japão em 2011 danificou o centro cívico e o centro cultural da cidade de forma irreparável. Para reconstruí-los, a cidade de Ishinomaki queria criar um marco combinando esses dois equipamentos em um novo complexo — que seria como uma cidade em si, servindo a comunidade.

Em 2016, as propostas de projeto foram selecionadas em um processo que incluía apresentações públicas, com participação de muitos moradores locais. No final, Sou Fujimoto, um líder entre a próxima geração de arquitetos do Japão, foi selecionado por seu projeto inovador.

O terreno, distante do centro da cidade, é cercado por áreas residenciais e um paisagem cênica de montanha. "Eu queria criar uma nova paisagem para Ishinomaki, que as pessoas achariam familiar tanto de perto como de longe", diz Fujimoto.

A visão de Fujimoto para o novo Centro Cultural da Cidade de Ishinomaki remete a uma única estrutura que evoca a sensação de um aglomerado de edifícios. Imagem Cortesia de SFA

Trabalhando em projetos em todo o mundo a partir de seus estúdios em Tóquio e Paris, Fujimoto produz formas estruturais de natureza simples e sutil, mas distintamente transcendental e lúdica. Ele já desenhou de tudo, de pontos de ônibus, banheiros públicos e casas particulares a instalações universitárias e edifícios de escritórios. Trabalhos recentes incluem o Museu e Biblioteca da Universidade de Arte de Musashino, construído em 2010, e a instalação de 2013 do Serpentine Pavillion no Kensington Gardens de Londres — cujos vencedores de outros anos incluem Frank Gehry e Zaha Hadid.

No entanto, dentre seus projetos que reverberaram no mundo da arquitetura, destaca-se o do Complexo Cultural Ishinomaki. A construção começará no outono de 2018 e está programada para ser concluída na primavera de 2021.

Reconstruindo Memórias

O Complexo Cultural de Ishinomaki apresentou desafios específicos de projeto. Um dos requisitos era incluir um teatro e, portanto, uma "torre" (um espaço aberto vertical acima do palco) tinha que ser construída para armazenar luzes, cortinas e outros equipamentos para apresentações. "Uma vez que a torre tem que ter uma certa altura, ela inevitavelmente assume um formato único", diz Fujimoto. "Como eu poderia suavizar sua forma imponente e torná-la um edifício querido para as pessoas da cidade?" Esta foi a inspiração para o conceito de Fujimoto, em que o complexo cívico se assemelharia a uma série de edifícios em uma cidade vibrante.

Desenhos de Fujimoto para o novo Centro Cultural da Cidade de Ishinomaki são baseados em formas familiares de "casas". Imagem Cortesia de SFA

Peça a uma criança que desenhe uma casa, e ela quase invariavelmente desenhará uma caixa com um triângulo em cima para indicar o telhado: Esta forma poderia ser considerada um símbolo universal para uma casa. A forma prototípica de "casa" pode ser vista em muitos dos projetos arquitetônicos de Fujimoto, mas a partir desta imagem familiar, seus projetos brincam com a forma e o estilo.

Os "edifícios" da "cidade" que compõem o projeto de Fujimoto para o Complexo Cultural de Ishinomaki são, na verdade, uma única estrutura conectada com diferentes alturas. O espaço com o teto mais alto tem impressionantes 25 metros de altura. "Os 'edifícios' individuais são bastante simples", diz Fujimoto. "Eu pensei que, se usássemos essas formas básicas já gravadas nas memórias das pessoas e as combinássemos, poderíamos criar um lugar familiar que poderia estar em qualquer lugar, mesmo que na verdade não existisse".

Projetistas geralmente enviam informações BIM para participar de competições internacionais, mas Fujimoto sempre contratou a criação do modelo BIM depois de completar seu projeto. No entanto, para este projeto, uma vez que seria difícil integrar precisamente o ar condicionado e os equipamentos elétricos no telhado triangular, Fujimoto introduziu o BIM no início do processo, realizando seu trabalho projetual no Autodesk Revit. Agora, ajustes estão sendo feitos em cooperação com a consultoria de engenharia Arup.

O edifício residencial L’arbre Blanc apresenta terraços dramáticos que parecem flutuar no ar. Imagem Cortesia de SFA+NLA+OXO+RSI

"Além da tecnologia que temos à nossa disposição, os métodos de projeto testados em tempo real, como a construção das maquetes à mão, são essenciais para o nosso trabalho", diz Fujimoto. "Aproveitamos o máximo dos métodos digitais e físicos. Construir um modelo à mão nos dá uma visão melhor de uma ideia, a qual pode ser testada no meio digital antes de ser refletida novamente no modelo físico. Eu gostaria de continuar usando plenamente essa ida e volta entre os mundos digital e físico".

Trazendo a natureza para perto

Em contraste com as formas familiares encontradas no projeto em Ishinomaki, a torre residencial de uso misto de Fujimoto, em construção em Montpellier, no sul da França, é um edifício atraente com um desenho radical. A torre, denominada "L'arbre Blanc" (A Árvore Branca), está localizada entre bairros novos e antigos de Montpellier, incorporando áreas comuns, escritórios, um restaurante e uma galeria de arte. Este projeto também foi o impulso para Fujimoto abrir seu estúdio na França.

Montpellier está de frente para o Mar Mediterrâneo, e mesmo no inverno o clima é quente o suficiente para ser possível desfrutar um almoço em um terraço ao ar livre. Fujimoto procurou criar um edifício de 17 andares de 50 metros de altura, onde os moradores pudessem potencializar o estilo de vida ao ar livre tradicional da região em casa. Ele criou um projeto audaz com grandes terraços colocados fora de cada sala de estar e de cada quarto.

Cada unidade tem vários espaços de estar aparentemente suspensos no ar, com grandes terraços que atingem seis metros de largura e oito metros de comprimento. "O que surgiu foi um edifício muito único", diz Fujimoto. "É como uma pinha, ou uma cabeça de brócolis, ou algum tipo de árvore - a sua complexidade orgânica se reflete em nosso mundo natural. Isso diverge completamente dos projetos em blocos e de concreto predominantes nos edfícios habitacionais até agora".

O projeto de Fujimoto para o projeto foi aprovado pelo prefeito e pelos planejadores da cidade de Montpellier. "No início, eles ficaram bastante surpresos", diz Fujimoto.  "No entanto, consegui que eles entendessem que esse projeto anteriormente inconcebível preserva as paisagens e as tradições de Montpellier enquanto abre caminho para seu futuro". O projeto está programado para ser concluído em setembro de 2018, mas quase todas as unidades já foram vendidas.

Este encontro da natureza e da arquitetura, o físico e o digital, o antigo e o novo — que, à primeira vista, parecem ser elementos de oposição, na verdade estão, como diz Fujimoto, "se aproximando em uma nova era de fusão no século XXI". Seu discurso na Autodesk University Japan 2017 compartilhou esta visão para o futuro da arquitetura e, através do trabalho de Fujimoto, o mundo está vislumbrando esse futuro promissor.

Sobre este autor
Cita: Kusano, Keiko. "Como Sou Fujimoto promove o espírito de comunidade ao unir elementos aparentemente opostos" [How Sou Fujimoto Promotes Community By Uniting Seemingly Opposite Elements] 12 Mar 2018. ArchDaily Brasil. (Trad. Moreira Cavalcante, Lis) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/890418/como-sou-fujimoto-promove-o-espirito-de-comunidade-ao-unir-elementos-aparentemente-opostos> ISSN 0719-8906

¡Você seguiu sua primeira conta!

Você sabia?

Agora você receberá atualizações das contas que você segue! Siga seus autores, escritórios, usuários favoritos e personalize seu stream.