Com uma vida profissional marcada pela densa produção e pesquisa, não apenas arquitetônica, mas em uma série de outros campos inter-relacionados, Sérgio Bernardes começou a trabalhar muito jovem e aos treze anos fundou sua primeira oficina de maquetes. Aos quinze anos – antes mesmo de ingressar na faculdade de Arquitetura – concebeu seu primeiro projeto, a residência Eduardo Baouth, em Itaipava, no Rio de Janeiro, para amigos de seus pais. Além da arquitetura, também percorreu por outros campos, como o da marcenaria, por exemplo.
Em 1948 graduou-se na Faculdade de Arquitetura pela Universidade do Rio de Janeiro, período em que a arquitetura moderna encontrava-se em destaque no cenário internacional, pois o país já havia participado da Exposição Mundial de 1939 em Nova Iorque e trabalhos modernos brasileiros já haviam sido expostos no MoMA em 1943. Antes mesmo de completar a graduação, Sérgio obteve sua primeira publicação em arquitetura, com o projeto do Country Club em Petrópolis, pela revista L’Architecture d’Aujourd’hui.
Como característica de sua produção destaca-se a intensa busca por soluções construtivas e espaciais para além das convencionais junto a um intenso entendimento material e estrutural. Como resultado, Sérgio buscava o bem-estar dos moradores às primeiras residências, dedicadas à elite carioca. Anos depois, seu trabalho foi diversificado em uma série de tipologias e escalas, o que rendeu diversos prêmios. Destaca-se o Prêmio Jovem Arquiteto Brasileiro na 2ª Bienal de São Paulo com a Residência de Lota Macedo Soares, em 1953, projeto que introduziu o sistema metálico a projetos residenciais no Brasil, integralmente dobrada e concebida in loco; a Trienal de Veneza com a Residência Hélio Cabal, em 1954; e o Pavilhão do Brasil na Exposição Mundial em Bruxelas, em 1958, onde recebeu a condecoração de Chevallier de La CouroneBelge.
No conjunto de sua obra, entre projetos executados e propostas, destaca-se a Residência Lota Macedo de Soares (1953), Pavilhão de Bruxelas (1958), o projeto Rio do Futuro (1960), Pavilhão de São Cristovão (1960), sua própria residência (1960), Hotel Tambaú (1962), Hotel Tropical de Manaus (1963/1970), Planetário de Brasília (1974), Posto de Salvamento da cidade do Rio de Janeiro (1976).
No ano de 1979 cria o Laboratório de Investigações Conceituais - LIC, um laboratório de pesquisas sem fins lucrativos dedicado à pesquisa e formulação de planos urbanos e territoriais, cujo objetivo baseia-se na atuação de investigações espaciais, muito além da arquitetura, mas do conjunto de itens que a compõe, como abordagens à natureza, aspectos sociais e filosóficos.
Pai do arquiteto Cláudio Bernardes e avô do arquiteto Thiago Bernardes, sua obra, postura profissional assumida e, sobretudo, quanto ao relacionamento familiar, foi tema do documentário em longa metragem intitulado Bernardes, dirigido pelos diretores Gustavo Gama Rodrigues e Paulo de Barros, que estreou em 2014, onde no mesmo ano o filme foi selecionado para a Mostra do 19º Festival É Tudo Verdade. O filme apresenta um Sérgio como pessoa e suas várias esferas, como pai, avô, marido, e como destaque, na afiada personalidade profissional, marcada por uma vida polemica e cenários de revolta pela incompreensão de seus pensamentos à seu tempo.
Com postura tão forte quanto sensível, muitas vezes incompreendida pela própria família, o neto e também arquiteto, Thiago Bernardes, que atualmente comanda o escritório Bernardes Arquitetura, busca enquanto narrador-personagem, entrevistar profissionais que trabalharam com o avô, familiares, pesquisadores, críticos de arquitetura, vasculhar o arquivo de projetos ainda existentes do avô – dado que parte do material foi perdido – na tentativa de compreendê-lo, e ainda, visita à obras.
O filme ainda contextualiza historias pessoais e fatos antes desconhecido em detalhes acerca do caminho percorrido pelo mesmo durante sua carreira, numa dinâmica singular, inquieta e, sobretudo, cativante.
Veja alguns projetos de Sérgio Bernardes publicados no ArchDaily Brasil.
Clássicos da Arquitetura: Pavilhão de Bruxelas 1958 / Sérgio Bernardes
Em Bruxelas, o terreno disponível tinha configuração irregular e cerca de 2500 m2. Tratava-se de um lote de declive bastante acentuado, em posição francamente desfavorável e marginal dentro do setor internacional da área da exposição (um parque de 200 hectares, a 7 km do centro de Bruxelas, que já havia sediado uma exposição internacional em 1935).
Clássicos da Arquitetura: Pavilhão de São Cristóvão / Sérgio Bernardes
17 Quatro parábolas determinam o perímetro do edifício. Estão dispostas em pares perpendiculares de parábolas idênticas e espelhadas: duas mais extensas, mais altas, e semi-permeáveis à luz, ao vento e ao passo, determinam as frentes opostas do edifício; e duas menores, completamente sólidas e opacas, suas laterais.
Galeria de Clássicos da Arquitetura: Pavilhão de Volta Redonda / Sérgio Bernardes - 1
Imagem 1 de 14 da galeria de Clássicos da Arquitetura: Pavilhão de Volta Redonda / Sérgio Bernardes. Fotografia de Gustavo Neves da Rocha Filho, via Arquigrafia (CC BY)
Clássicos da Arquitetura: Tropical Hotel Tambaú / Sérgio Bernardes
Sérgio Bernardes é uma singularidade da arquitetura brasileira. A força de suas obras nos impede escrever, para não competir. O Hotel Tambaú é uma dessas obras indescritíveis, onde a mais neutra palavra é uma ingênua metáfora evanescente. Melhor seria que o próprio arquiteto falasse em nosso lugar, embora ainda assim não houvesse certeza entre as palavras e as coisas.
Clássicos da Arquitetura: Palácio da Abolição / Sérgio Bernardes
29 O complexo é formado por quatro edifícios: 1) o Palácio da Abolição propriamente dito, a residência do governador, implantado transversalmente à longitude do terreno e em área mais próxima ao mar; 2) o Gabinete de Despacho, perpendicular ao primeiro, e conectado a ele através de uma passarela; 3) a Capela, na esquina nordeste do terreno; e 4) o Monumento e Mausoléu do Presidente Castelo Branco, disposto em balanço sobre uma praça escavada que ocupa quase um quarto do terreno.
Clássicos da Arquitetura: Casa Lota de Macedo Soares / Sérgio Bernardes
23 Por Sílvia Leão, professora doutora do Departamento de Arquitetura da UFRGS. Em 1951, o arquiteto carioca Sérgio Bernardes, então com apenas 32 anos de idade, projeta uma residência que se destaca por sua singularidade no panorama arquitetônico brasileiro. Em estrutura e telhas metálicas, muito leves, era vedada por pedra bruta, vidro e tijolo.