No dia 26 de abril completou-se 32 anos do desastre nuclear de Chernobyl ocorrido em 1986, com a explosão do Reator 4 da usina nuclear na Ucrânia, causando a morte direta de 31 pessoas, a dispersão de nuvens radioativas pela Europa e o desmantelamento efetivo de 30 km de terras em todas as direções desde o centro da explosão. Trinta e dois anos mais tarde forma-se uma leitura dual da paisagem: uma de extremos de engenharia e outra de inquietude e desolação.
A medida que se transcorre o aniversário do desastre e suas consequências, exploramos o passado, o presente e o futuro da arquitetura de Chernobyl traçando o caminho de uma paisagem que ardeu no fogo, mas que ainda pode ressurgir das cinzas.
Passado
A central nuclear de Chernobyl, conhecida como a V.I. Lenin Nuclear Power Plant, durante a era soviética, foi construída entre 1970 e 1977 e estava situada a 90 km ao norte da capital da ucrânia, Kiev. Ela foi a primeira usina nuclear construída no país e incluía quatro reatores nucleares. Os planos para os outros dois reatores foram abandonados longo após o desastre de 1986.
Em conjunto com a construção da central, deu-se também o estabelecimento da cidade de Pripyat, construída para abrigar os trabalhadores e famílias de Chernobyl. Pripyat continha mais 13 mil apartamentos, quase 100 escolas, um hospital e um centro administrativo central familiar para muitos planejamentos urbanos soviéticos.
A cidade possuía marcas da arquitetura modernista soviética, otimizada pelos 160 grandes blocos de apartamentos pré-fabricados da cidade, financiados pelo Estado. Genericamente, o concreto recebia floreios e cores como os vitrais do cinema de Prometheus, que projetavam formas únicas de luz em fachadas incolores, ou o muito fotografado parque de diversões. Após o desastre de 1986, a cidade foi evacuada e permanece vazia até hoje.
Presente
O passar dos anos resultou em duas diferentes leituras da paisagem urbana em Chernobyl e Pripyat. Em Chernobyl, um esforço para conter o reator nuclear danificado resultou na construção de uma das maiores estruturas de metal móvel do mundo. Conhecido como "New Safe Confinement", a estrutura é suficientemente longa para abrigar a Estátua da Liberdade, ou dois Boeings 777 de começo ao fim. A estrutura de arqueada de aço foi movida na posição acima do terreno com a ajuda de macacos hidráulicos montados nas proximidades. O projeto, quase inteiramente sem precedentes, custou mais de 1.7 bilhões de dólares e foi finalizado em 2016.
A leitura arquitetônica atual sobre o terreno nuclear pode significar os limites que a humanidade deve ter para conter seus próprios erros. Entretanto, a cidade de Pripyat demonstra um contraponto; os efeitos do abandono humano total. Congelada no tempo por 30 anos, as paisagens urbanas e naturais se entrelaçaram. As edificações foram consumidas por gramas e árvores absorvendo a radiação do solo, enquanto a única evidencia da interface humana está manifestada no grafite e na depreciação dos vidros e cabos metálicos. Hoje em dia, a cidade se tornou o foco de uma grande intriga pública, já que as imagens da cidade abandonada percorreram o mundo por meio de programas de televisão e exploradores urbanos.
Futuro
O desastre nuclear de 1986 tornou a paisagem circundante muito perigosa para a habitação humana e agricultura. Entretanto, o futuro de Chernobyl carrega otimismo e renovação. O local que uma vez recebeu a primeira usina nuclear da Ucrânia logo receberá a primeira usina de energia solar.
Somente 100 metros do epicentro do desastre e da cúpula de aço, mais de 3.800 painéis solares foram instalados na base de concreto. A usina irá utilizar algumas das antigas infraestruturas nucleares, operadas remotamente desde a Alemanha para minimizar a interação humana com reator danificado, ainda perigoso. Enquanto tiver operando, a usina abastecerá 200 residências, com planos para produzir mais eletricidade do que o antigo reator 4.
Enquanto isso, a cidade de Pripyat está crescendo em popularidade como um ponto turístico, com visitas guiadas à arquitetura em ruínas da cidade, oferecendo aos espectadores um salto no tempo, por um máximo de duas horas por visita. Aqui, a beleza do abandono é derivada tanto de marcos arquitetônicos como a roda-gigante do parque de diversões, até detalhes como máscaras de gás espalhadas pelo chão da sala de aula.
A jornada de Chernobyl, passado, presente e futuro, incorpora uma narrativa política e social mais ampla. Ela operou no auge de uma das mais intensas crises políticas do século XX, e foi o resultado de um impulso determinado por duas ideologias opostas para demonstrar a superioridade tecnológica e arquitetônica.
Com o desastre de 1986, sem dúvida o acidente nuclear mais infame da história, o colapso e o abandono de Chernobyl logo seriam seguidos pelo colapso da ideologia política que a criou. O gigantesco empreendimento arquitetônico necessário para conter o local perigoso destaca tanto a força quanto a fraqueza da tecnologia moderna.
No entanto, o renascimento da usina nuclear de Chernobyl como produtor de energia solar representa uma narrativa positiva tanto para a arquitetura quanto para a humanidade: um impulso contínuo para o progresso, o avanço e o renascimento.
Seja refletindo sobre o passado, presente ou futuro, o nome “Chernobyl” e a arquitetura que a incorpora continuarão a capturar nossa imaginação nas próximas décadas.
6 Structures Designed to Save Humanity From Itself
On April 26th 1986, the Chernobyl Nuclear Power Plant in the city of Pripyat in northern Ukraine suffered a catastrophic failure, resulting in a nuclear meltdown and a series of explosions which scattered radioactive material across large areas of Ukraine, Belarus and Russia.