Diagramação de pranchas de concursos: o que fazer e o que evitar

Participar de concursos de arquitetura pode ser uma boa chance para alavancar um escritório, ou sair um pouco da rotina desenvolvendo ideias que geralmente não passariam pelo crivo de um cliente. Mas, para chamar a atenção dos membros do júri, entre centenas de trabalho, a graficação do projeto desempenha um papel chave. Além de ideias pertinentes aos questionamentos e debates incumbidos é imprescindível uma prancha organizada como síntese do processo. Na tentativa de reunir as ideias de maneira gráfica, uma série de dúvidas surge quanto à maneira de apresentação e como a mesma ajudará na transmissão das ideias contidas no projeto de forma clara para o júri.

Plantas, cortes, elevações, colagens, renderizações, diagramas, textos, elementos gráficos. As dimensões das pranchas não parecem comportar tantas informações. Pensando nisso, reunimos uma série de dicas essenciais ao desenvolvimento de suas pranchas em concursos de arquitetura. Confira a seguir:

Composição

  1. Você não precisa incluir tudo
  2. Adote um padrão de cores
  3. Evite interrupções visuais

Em pranchas de concurso insere-se a síntese do processo, apresentando apenas o necessário para a compreensão do trabalho desenvolvido pela limitação do espaço (número de folhas e dimensões) e tempo. A comissão julgadora necessita avaliar rapidamente o trabalho de cada equipe por conta do excessivo número de trabalhos recebidos, e quanto mais claras as ideias na prancha, melhor. Sabemos que inserir o conteúdo dentro do espaço em branco é por vezes, a maior dificuldade, mas, é ideal que o conteúdo seja disposto de modo hierárquico.

2º Lugar - Concurso Público Nacional CODHAB / MCA Arquitetura e Design. Image

Adotar uma paleta cromática pode auxiliar na compreensão das informações, destacando o que importa. O correto uso da cartela de cores também cria força gráfica à prancha.

Evite quebras ou interrupções visuais forçando o avaliador a dispor de pausas na leitura visual da prancha. É imprescindível que, em pranchas desta modalidade, a fácil leitura seja dirigida pelo intelecto de maneira contínua.

Como a reunião de todas as informações para o completo entendimento da proposta, se mal composta, a prancha pode ser a responsável pelo insucesso da compreensão do projeto, mesmo que ele tenha qualidade.  

Expressão gráfica

  1. Evite misturar técnicas gráficas na composição da prancha

Há uma gama de linguagens passiveis de serem adotadas na representação de seus desenhos e construção do painel. De mesma forma, sabemos que não há fórmulas, “certo ou errado”, basta ter coerência. O principio norteador é adotar a técnica que considerar adequada à transmissão das intenções projetuais.

2º lugar - 3º Prêmio {CURA} Rios Urbanos. Image Cortesia de {CURA}

Cores, formas, linhas, texturas e tipografias são alguns dos elementos capazes de promover uma unidade aos diferentes elementos presentes numa prancha de arquitetura.

Desenhos

Terceiro Lugar Pavilhão do Brasil - Studio MK27.. Image Cortesia de IAB

  1. Disponha suas ideias graficamente através de desenhos
  2. Utilize vistas explodidas para a representação das diversas camadas de seu projeto, quando isso for necessário
  3. Croquis são sempre bem-vindos!
  4. Detalhe de acordo com a escala

Desenhos são os principais artifícios na transmissão de ideias e atuam como síntese do processo. Neste âmbito, devemos entender que estas não são pranchas executivas e, portanto, os desenhos bidimensionais (plantas, cortes, elevações) além de transmitirem a ideia geral, devem dispor de maneira gráfica, a identidade da prancha. Desenhos tridimensionais também podem ir além das técnicas super realistas, permitindo representações axonométricas, colagens e intervenções sobre fotografias, por exemplo.

Outro recurso frequentemente utilizado na composição de pranchas são as vistas explodidas. O processo exemplifica com clareza as técnicas construtivas adotadas, materialidades, espacialidades e fluxos. Nestas, o uso da variação de linhas, cores e texturas auxilia na criação da identidade visual.

Croquis também podem ser inseridos nas pranchas exemplificando o processo projetual. Contanto, posteriormente é interessante que sejam editados através dos recursos digitais de modo a harmonizarem-se à integridade da prancha. Intervenções gráficas sobre os croquis também são ótimos recursos através de um hibrido de técnicas. 

Terceiro Lugar - 1º Prêmio {CURA}. Image Cortesia de {CURA}

Não esqueça que “less is more”. Adote um conjunto de variadas técnicas na construção conceitual em sua prancha, mas evite demasias, tendo em mente a harmonização integral do conteúdo.

Diagramas

  1. Adote diagramas como ferramentas transmissoras do processo
  2. Divida os diagramas por quesitos projetuais

Métodos de organização, análise e comunicação, a ferramenta ajuda profissionais e leigos a compreenderem de maneira prática e rápida o processo incumbido nas soluções adotadas no projeto. Ademais, diagramas são um excelente dispositivo a comunicar de maneira criativa a síntese projetual e ainda auxiliam na expressão gráfica. Grandes escritórios adotam o instrumento ao processo criativo de seus projetos, como é o caso do Bjarke Ingels Group, 3XN Architects e Zaha Hadid Architects, por exemplo.

1º lugar - 3º Prêmio {CURA} Rios Urbanos. Image Cortesia de {CURA}

No caso dos concursos, o método é ideal a transmissão das ideias, uma vez que a maior parte dos envios finais são realizados por meio de plataformas eletrônicas, impossibilitando uma apresentação oral formal. Posto isso, a prancha deve “falar” por si. Ou seja, esquemas como diagramas funcionam muito melhor à transmissão de ideias se comparado a longos textos.

Primeiro Lugar - 1º Prêmio {CURA}. Image Cortesia de {CURA}

Com uma gama de possibilidades, é recorrente a adoção de diagramas à representação dos diferentes quesitos do partido projetual, tais como a distribuição programática, implantação, relações visuais, orientação solar e dos ventos, adoção estrutural, entre outros.

Conteúdo textual

  1. Evite textos demais
  2. Adote uma família tipográfica coerente

Arquitetos são indivíduos bastante ligados à estética e claramente visuais, portanto, utilize o mínimo de conteúdo textual possível. Em concursos, a comissão julgadora necessita avaliar todos os trabalhos de maneira rápida e prática, muitas vezes desconsiderando o conteúdo escrito. Utilize-se de textos apenas se necessário ou frases curtas e diretas explicativas ao longo dos desenhos.

2º Lugar - Concurso Sesc Limeira / Apiacás Arquitetos. Image

Também considere uma tipografia adequada à linguagem de sua prancha. Pesquise parte do histórico das tipografias que considerar pertinente ao trabalho, tendo em vista que seu design foi pensado para aguçar um conjunto de interesses estéticos e psíquicos dos leitores. Jamais considere uma miscelânea de tipografias. Se você não tiver muita segurança no tema, não ouse demais (e leia esse post). Tente não misturar muitas tipografias, considerando a hierarquia do conteúdo (títulos e subtítulos, texto e notas) ou variações de uma mesma família tipográfica.

Menção 1º Prêmio {CURA}. Image Cortesia de {CURA}

Em suma, o importante é colocar-se no lugar de alguém que não conhece o projeto e deve ter uma primeira boa impressão dele, entre tantas outras propostas interessantes. Ao diagramar uma prancha, você está contando uma história, levando o leitor a compreender didaticamente as proposições discutidas entre a equipe. Por isso, é importante que elas façam sentido e tenham uma ordem adequada. Também é importante que essas informações sejam expostas de maneira clara, direta e fácil. Não tente incluir tudo o que foi pensado, mas sintetize e filtre o que é mais importante mostrar. Como anteriormente pontuado, não há regras, dado que cada projeto e/ou concurso possui qualidades especificas. Boa sorte!

Publicado originalmente em 1 de agosto de 2018, atualizado em 27 de julho de 2020.

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Sobre este autor
Cita: Matheus Pereira. "Diagramação de pranchas de concursos: o que fazer e o que evitar" 02 Ago 2020. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/896138/diagramacao-de-pranchas-de-concursos-o-que-fazer-e-o-que-evitar> ISSN 0719-8906

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