Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2018: Muros de Ar - Os limites dos objetos

O capítulo Os limites dos objetos aborda o tema Muros de ar na escala das intervenções arquitetônicas e urbanas, numa tentativa de medir a capacidade da produção brasileira recente para mediar relações conflituosas entre os domínios público e privado.

Em oposição à abordagem cartográfica, que mapeia os múltiplos tipos de barreiras que constituem o território brasileiro, esta seção apresenta objetos arquitetônicos que estimulam a transposição dos muros que estão presentes em nossas cidades. As propostas selecionadas compartilham a motivação de investigar novos modos de lidar com os limites, as divisões e as rupturas dos tecidos urbanos. Ao mesmo tempo, trazem à tona a necessidade premente de usar o projeto como uma forma de transformar condições de exclusão em possibilidades de aproximar as pessoas.

Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2018: Muros de Ar - Os limites dos objetos - Mais Imagens+ 41

Os projetos foram escolhidos por meio de uma convocatória aberta ao público – iniciativa inédita na história dos pavilhões brasileiros na Bienal de Veneza –, com o claro objetivo de ampliar e democratizar o diálogo sobre a arquitetura brasileira contemporânea. Amplamente divulgada em todo o Brasil, o chamamento convidava arquitetos a submeter projetos pela página www.murosdear.org.br, que abrigava uma série de seções abertas à participação do público na pesquisa Muros de ar.

© Imagen Subliminal

A seleção considerou válidos todos os projetos dentro do território brasileiro, independentemente da nacionalidade do arquiteto. A chamada aberta se dirigia a projetos construídos ou não, mas necessariamente fundamentados na realidade, ou seja, concebidos para clientes reais ou concursos. Não foram aceitos projetos acadêmicos ou propostas de ideias. Com inscrições abertas em 19 de dezembro de 2017 e encerradas em 19 de janeiro de 2018, foram recebidas 289 propostas, provenientes de mais de sessenta cidades brasileiras.

Os projetos submetidos confirmaram a alta concentração de escritórios de arquitetura na região Sudeste do país; a rara presença de estrangeiros construindo no Brasil, especialmente em comparação com América do Norte, Ásia ou Europa; e, por fim, a dificuldade de transformar propostas em construções reais, demonstrada pela alta porcentagem de projetos não-realizados. As inscrições também atestam, por outro lado, que há um cenário de arquitetura contemporânea de alta qualidade no país.

© Riccardo Tosetto / Fundação Bienal

Os dezessete projetos escolhidos têm em comum as ideias inspiradoras e tangíveis, além do desejo claro de transformar seu entorno em um ambiente mais fluido e inclusivo. Expostos na primeira sala do Pavilhão do Brasil nos Giardini, em Veneza, eles compõem um painel plural de soluções, envolvendo diferentes ângulos do conceito de Muros de ar.

As questões que abordam incluem como aproximar as pessoas para lutar por uma causa comum, contra as forças da especulação financeira imobiliária pura; como repensar nossas limitações tecnológicas; como uma comunidade pode aprender com a construção coletiva; como misturar processos de construção industrial com técnicas populares ou tradicionais; como a proposição de formas arquitetônicas e urbanas inovadoras pode romper estruturas legais; como fazer uso de estratégias pontuais para gerar uma rede que promova a renovação urbana; como usar os vazios para costurar dois lados de uma comunidade informal; como unir grandes corredores de infraestrutura; como adensar usos para aproximar uma comunidade; e como repensar áreas preservadas enquanto espaços públicos cuidadosamente calibrados, entre outras estratégias.

© Imagen Subliminal

Enfim, a apresentação dos dezessete projetos foi desenvolvida em colaboração entre a equipe curatorial e cada escritório responsável. A escolha de representações gráficas com poucos desenhos de linha, ainda que impactantes – cada um criado especialmente para estabelecer um diálogo com os demais projetos –, visa enfatizar não apenas as nuances do design, com suas variações em escala, mas também as ações que se conectam ao tema mais amplo da exposição. Ações como promover, semear, revelar, interpretar, costurar, repropor, estruturar, interconectar, articular, compreender, abarcar, adensar, converter e aprender – que, em última análise, revelam a capacidade de cada projeto de derrubar muros e construir um mais generoso e coletivo Freespace.

Instalação De onde não se vê quando se está” sobre o Museu de Arte Contemporânea de Niterói

Resignificar um espaço moderno inacessível em uma plataforma para se redescobrir a cidade

De onde não se vê quando se está (MAC) – Pedro Varella, Gru.a Arquitetos. Image © Riccardo Tosetto / Fundação Bienal

Projetado em 1991 por Oscar Niemeyer, o Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC) é um dos mais reconhecidos ícones da arquitetura brasileira. Os limites entre o edifício e a paisagem da Baía de Guanabara são bastante claros, fixado pelas finas arestas de sua estrutura em concreto armado. Os deslocamentos dentro do espaço são controlados: o acesso a partir da praça seca, a rampa sinuosa e, finalmente, a paisagem enquadrada pelas bordas da estrutura em uma sequência projetada para ser vista por alguém que cumpriu a sucessão de movimentos preparada pelo arquiteto. Se essas são condições das quais parece difícil se livrar, foi a partir delas que formulamos um instigante desafio: como se desvencilhar da imagem marcante do MAC? Como questionar os limites impostos pelo desenho do antigo mestre oferecendo ao público novas experiências?

O projeto“De onde não se vê quando se está”oferece ao visitante a chance de estar nesse icônico edifício e, simultaneamente, perder de vista os contornos de sua própria forma.Para isso, implantamos uma escada em estrutura tubular que dá continuidade ao movimento de ascensão da rampa, conduzindo o público à laje de cobertura do museu. No perímetro da laje, projetamos um sistema de guarda corpo, também tubular, fixo à estrutura existente por meio de uma série de cabos tensionados, os quais permitem a instalação do conjunto sem a necessidade de interferência na superfície da laje.

A partir da laje de cobertura perde-se a relação entre figura e fundo, abre-se um inexplorado campo de reflexões e sentidos. A arquitetura, que habitualmente é reconhecida por sua aparência visual, seu estatuto de ícone e suas vistas pré-determinadas, é subvertida a um suporte para a imaginação, desvelando camadas interpretativas até então ocultas.

De onde não se vê quando se está (MAC) – Pedro Varella, Gru.a Arquitetos. Image Cortesia de Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2018

  • Project: Pedro Varella
  • Desenvolvimento: GRU.A (grupo de arquitetos)
  • Colaboração: Caio Calafate, André Cavendish, Julia Carreiro
  • Avaliação para o Prêmio Reynaldo Roels Jr.: Lisette Lagnado, Pablo Leon de La Barra, Michelle Sommer
  • Consultoria: Rodrigo Affonso (engenharia estrutural); Bruno Contarini (consultor estrutural); Jirau (equipamentos e estruturas); New Alfa (montagem)
  • Projeto original: Oscar Niemeyer
  • Localização: Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC), Niterói–RJ, Brasil.
  • Área: 1,885m² (laje de cobertura)
  • Ano: 2017
  • Status: Concluído

Escola Sem Muros

Construir coletivamente como forma de aprendizado

Escola sem muros: Centro Cultural Jardim Damasceno – Sem Muros Arquitetura Integrada . Image © Riccardo Tosetto / Fundação Bienal

O projeto Escola Sem Muros, no Espaço Cultural Jardim Damasceno, busca potencializar o movimento de resistência na periferia norte da cidade de São Paulo. Através do reconhecimento do contexto e da integração dos elementos da micro à macroescala, o projeto arquitetônico reflete o espaço entre o construir e o habitar. Uma escolha de onde, o que, como e porque projetar: usar a estética da arquitetura para valorizar e amplificar a luta de uma comunidade pelo direito à (outra) cidade, como força política que legitima um território junto a seus habitantes.

O Espaço Cultural Jardim Damasceno existe há 25 anos e funciona em um galpão de madeirite próximo a um córrego. Ocupado pelos moradores locais, que mantêm o lugar aberto e livre dentro do adensado, fornece assistência social, articulação política e condições para o desenvolvimento integral da comunidade. Utilizado diariamente por cerca de sessenta crianças e para manifestações culturais, o Espaço encontra dificuldades para manter-se, devido à sua infraestrutura precária e às ameaças de desapropriação.

Ao projetar, importava conectar saberes diferentes e integrar a participação popular; ao construir, importava fazer da construção física um meio para uma construção social. O resultado proposto foi uma meta-estrutura de bambu (produzido dentro da região metropolitana de São Paulo) a ser construída a partir de um programa pedagógico, o qual envolveu um grupo multidisciplinar constituído por indivíduos de dentro e de fora da comunidade. A construção deverá ser feita a partir de materiais locais, com o objetivo de permitir que os usuários se apropriem do novo espaço e, ao desenvolverem um sentimento de pertencimento, agreguem significado a ele.

Após a conclusão da construção, os próximos passos deverão ser definidos junto à comunidade: como sustentar e continuar o que foi construído? Como abrigar um espaço para potencializar a comunidade rumo à criação de um território educador? Para responder, será preciso reconhecer a importância de uma política do cuidado para sustentar os efeitos e impactos do projeto na vida daqueles envolvidos.

Escola sem muros: Centro Cultural Jardim Damasceno – Sem Muros Arquitetura Integrada . Image Cortesia de Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2018

  • Plano e gestão do programa ESM: Andressa Capriglione, Marcella Arruda, Ranyely Araújo
  • Projeto arquitetônico: Tomaz Lotufo, Cassio Abuno
  • Consultoria: Ana Beatriz Giovani, Flávia Burcatovsky, Victor Presser (registro de projetos e material de comunicação); Marjory Mafra, Nádia Recioli (apoio Permasampa); Payacán Artes em Bambú, Jair Vieira, Pedro Burgos (consultoria de design e construção de estrutura de bambu); Noêmia Mendonça, Nivalda Aragues, Ana Sueli e Fernando Ferreira (organização comunitária ECJD); Pepe Guimarães (fotos e filmes)
  • Localização: Brasilândia, São Paulo – SP, Brasil
  • Área: 160m²
  • Ano: 2017 (em curso)
  • Status: não construído

Praça Infantil

Articular um vazio privado em uma arena lúdica aberta 

Praça infantil – Studio MK27. Image © Riccardo Tosetto / Fundação Bienal

Uma praça pública como espaço lúdico explorado livremente pelas crianças – esse foi o pressuposto de projeto para a Praça Infantil, a ser construída, em breve, em um lote urbano de 900 m2, em meio a uma área residencial.

A parede circular em madeira, visualmente permeável, de 23 metros de diâmetro e 2,50 metros de altura, define a organização da praça. Todos os percursos convergem para esse centro, formulando uma imagem similar à distribuição espacial de lugares primitivos de encontro: uma roda de histórias em torno do fogo ou ocas indígenas ao redor de um grande vazio central.

A construção circular em madeira contém portais e alguns deles levam à área externa, periférica ao vazio central e separada pela parede, onde as crianças encontram novos mundos. Essas passagens revelam jardins, com flores campestres e chafarizes. Algumas crianças brincam de esconde-esconde e invadem um pequeno labirinto secreto e, quando a brincadeira se transforma em pega-pega, elas retornam correndo para o centro da praça, pulando pelo gramado descoberto e livre.

Lá pelo vazio central, outras aberturas, portais na parede de madeira, oferecem outras atividades. A criatividade infantil é catalisada por esses brinquedos que não impõem um uso específico, mas induzem a formas de exploração. De um lado, incrustado na empena côncava de madeira, há um pequeno teatro de marionetes; à frente, em outro nicho, ficam escorregadores e balanços.

A Praça Infantil não é um lugar tedioso para crianças matarem o tempo. Ao contrário, é um jardim vivo, repleto de livres descobertas e que oferece uma experiência inesquecível para as crianças. Sua imaginação penetra nos inúmeros espaços, cada um com brincadeiras diferentes e, assim, elas se molham, escorregam, gritam, tropeçam, escalam e desbravam esse lugar de pequenas felicidades.

Praça infantil – Studio MK27. Image Cortesia de Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2018

  • Arquitetura: Studio MK27
  • Arquiteto: Marcio Kogan, Eduardo Gurian, Marcio Tanaka
  • Equipe de projeto: Carlos Costa, Laura Guedes e Mariana Simas
  • equipe de estúdio: Beatriz Meyer, Carolina Castroviejo, Diana Radomysler, Eduardo Chalabi, Eduardo Glycerio, Elisa Friedmann, Gabriel Kogan, Lair Reis, Luciana Antunes, Marcio Tanaka, Maria Cristina Motta, Mariana Ruzante, Mariana Simas, Oswaldo Pessano, Renata Furlanetto, Samanta Cafardo, Suzana Glogowski
  • Localização: São Paulo – SP, Brasil
  • Área: 900m²
  • Ano: 2012 (em processo)
  • Status: não construído

InstitutoBrincante

Semear resistência local 

Instituto Brincante – Bernardes Arquitetura . Image © Riccardo Tosetto / Fundação Bienal

O Instituto Brincante, criado em 1992 pelos artistas Antonio Nóbrega e Rosane Almeida a partir de um espetáculo homônimo encenado por eles, é um espaço voltado à exploração da cultura brasileira em suas mais diversas modalidades. Assim como o significado regional do termo “brincante” – multiartista popular do Nordeste brasileiro que canta, dança e toca instrumentos – o Instituto propõe expandir o fazer artístico brasileiro tradicional. Para isso, oferece cursos em artes populares que visam formar intérpretes e educadores capazes de pensar a sociedade contemporânea de um modo novo.

Em 2014, o proprietário do galpão onde o Instituto funcionava há uma década na Vila Madalena vendeu o imóvel para uma construtora sem consultar Nóbrega e Almeida. Com ligações fortíssimas com o bairro, o Brincante viu seu legado ameaçado e prestes a ser despejado. Após um processo legal árduo, o Instituto não conseguiu reverter o quadro, mas percebeu na situação uma oportunidade de reafirmar seu papel local, de resistir.

Poucos anos antes, Nóbrega e Almeida haviam adquirido duas pequenas casas contíguas ao galpão para ampliar o Brincante. Cinicamente, a mesma construtora que comprou o galpão fez ofertas para adquirir as casas. Foi a gota d’água. Com a intenção de fortalecer seu comprometimento com a Vila Madalena, o Brincante decidiu ficar e lançou a campanha #FicaBrincante para arrecadar fundos para uma nova sede nesses dois terrenos.

O novo Brincante amplifica sua participação na vida da Vila Madalena ao costurar-se espacial, programática e definitivamente à sua vida pública, através de seu teatro-escola e de espaços de encontro, os quais passam a acomodar também espetáculos públicos, além de ensaios e cursos. Ligado a uma pequena praça e a um mezanino aberto, que conectam a rua a seu interior, o teatro-escola faz do Brincante um marco à resistência em meio a um ambiente de especulação imobiliária agressiva. Como nas palavras do próprio Nóbrega: “Vamos continuar semeando Brasil, afinal é desse lugar [apontando a rua] que vemos e sentimos o mundo, apesar de a danada da especulação imobiliária pensar que o possui”!

Instituto Brincante – Bernardes Arquitetura . Image Cortesia de Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2018

  • Autores: Bernardes Arquitetura
  • Equipe de design: Thiago Bernardes, Dante Furlan, Rafael Oliveira, Maria Vittoria Oliveira, Marcelo Dondo, Ana Paula Endo, Mary Helle Moda, Flavio Faggion
  • Ilustrações da exposição: Gabriel Duarte, Vitor Cunha, Gabriel Gomes, Juliana Biancardine, André Vuaden
  • Apoio institucional: Instituto Alana
  • Consultores: Alfama Construtora (empreiteira); LHG Engenharia (projeto estrutural); Appogeo (fundações); Serviço Inteligente (elétrico e hidráulico); Tottal Tecnologia Térmica (mecânica); Acústica e Sônica (acústica); AtendTudo (cenografia); Cenário Paisagismo (arquitetura paisagista); Foco Iluminação (design de iluminação); Tecnosystem / Jansen e SC Esquadrias (janelas); Hormann (portas acústicas especiais); Isofibras (painéis acústicos)
  • Localização: São Paulo – SP, Brasil
  • Área: 342m²
  • Ano: 2015-2016
  • Status: construído

Terreiro Òsùmàrè

Interpretar a história através de uma sequência de muros 

Terreiro òsùmàrè – Brasil Arquitetura. Image © Riccardo Tosetto / Fundação Bienal

Os muros representam, ao longo da história da humanidade, as divisões de propriedades e territórios, barreiras de proteção e defesa. Mas também existem muros que, ao separar, conectam. São os muros que emolduram a paisagem, formalizam as passagens, regulam o contato, definem vizinhanças e asseguram a travessia. São muros de conexão; agregadores e unificadores de interesses coletivos; marcas físicas e simbólicas dos feitos humanos de grande importância social; suportes de registros históricos e conquistas tecnológicas. São os muros dos aquedutos, de contenções de encostas e das pontes. Mesmo aqueles que nasceram como proteção, a exemplo das muralhas dos burgos, adquirem novos sentidos – são transformados em testemunhos vivos do esforço do homem na construção de uma vida mais confortável.

De uma das ações mais arcaicas do homem na construção de seu habitat surgem os muros, associados ao trabalho humano com as pedras da natureza.

Situada em uma das encostas de Salvador, a mancha verde do Terreiro de Òsùmàrè (um dos mais antigos da cidade), representa o que foi, ao longo de séculos, a lógica de ocupação do território acidentado da cidade: pequenas construções nas cumeadas dos morros, próximas aos caminhos de acesso, ladeadas pela exuberante vegetação assentada em declive até os vales dos rios e córregos. Esse inteligente modelo de ocupação – adaptado à topografia e aos acidentes geográficos, que combina a construção à preservação da natureza – desapareceu nas últimas décadas, destruído pelo desenfreado e massivo processo de urbanização. Na área urbana de Salvador, porém, esse modelo permanece preservado graças às tradições dos cultos do Candomblé e, justamente, o terreiro de Òsùmàrè é um desses últimos exemplos.

O projeto de intervenção visa preservar física e simbolicamente o conjunto (tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN) e ampliá-lo, em busca de conforto, contundência e delicadeza a um só tempo: os patamares e muros de contenção devem marcar a vida futura do terreiro; mais confortável, acessível e digno em suas instalações. O novo conjunto pode ser dividido em três grandes blocos, os quais correspondem aos três patamares topográficos do terreno: Núcleo Inferior, Núcleo Central e Núcleo Superior.

A “Mata Escura”, como era conhecida até o início do século 20, será recuperada e adensada, ao receber novos caminhos em rampas suaves para passeio e deleite da natureza e do sagrado. De cima para baixo, ou de baixo para cima, pela Mata Escura, a longa escada representará a cobra/caminho ao cruzar as terras sagradas de Ilê Òsùmàrè.

Terreiro òsùmàrè – Brasil Arquitetura. Image Cortesia de Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2018

  • Autores: Francisco Fanucci, Marcelo Ferraz
  • Co-autor: Roberto Brotero
  • Equipe de projeto: Anne Dieterich, Cícero Ferraz Cruz, Gabriel Mendonça, Julio Tarragó, Laura Ferraz, Luciana Dornellas, Pedro Renault, Guilherme Campos, Guega Rocha, Heloísa Oliveira, Juliana Ricci
  • Modelo físico: Antonia Romer
  • Localidade: Salvador – BA, Brasil
  • Área de terreno: 3.935m²
  • Área construída: 3.883m²
  • Ano: 2017 (em processo)
  • Status: não construído

Moradia estudantil Unifesp - Campus Osasco

Delimitar espaços para promover uma vida estudantil coletiva 

Habitação estudantil UNIFESP, Campus Osasco – H+F Arquitetos . Image © Riccardo Tosetto / Fundação Bienal

Situado na borda de um novo campus da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) em Osasco, na Região Metropolitana de São Paulo, o projeto da moradia estudantil oferece a oportunidade de, por meio de sua arquitetura, unir diversas interações entre o mundo universitário, comumente marcado por uma cultura isolacionista e autorreferente, e a vida cotidiana do bairro no qual se insere.

A implantação do edifício, em patamares que acompanham a declividade do terreno, configura dois espaços de caráter marcadamente distintos: o pátio e a praça. Enquanto o primeiro é de uso exclusivo dos residentes e usuários da moradia, o segundo se volta para o bairro, ao qual oferece um percurso direto para aqueles que vêm da estação do trem metropolitano, de maneira a configurar uma das principais “portas” de acesso ao campus.

Além de equipamentos de uso público, a praça oferece atividades comuns aos moradores do campus e do bairro. Dessa forma, os programas coletivos da moradia estudantil – como biblioteca comunitária, cineteatro, salão de festas e eventos e oficina de artes – servem potencialmente como recursos de sociabilidade entre os estudantes e a população do entorno. Acomodadas ao declive da rua, essas atividades se desdobram em patamares sucessivos, cada qual vinculada a um espaço específico da praça.

Ao trazer a esfera pública para dentro dos limites do campus, a praça atua como um vestíbulo, um espaço de interações imprevistas. Juntos, praça e prédio conformam um muro habitável, uma fronteira ao mesmo tempo resistente e porosa,* capaz de oferecer para a cidade uma face viva e interativa do ambiente universitário.

Habitação estudantil UNIFESP, Campus Osasco – H+F Arquitetos . Image Cortesia de Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2018

  • Autores: H + F arquitetos - Eduardo Ferroni e Pablo Hereñu
  • Equipe: Camila Reis, Camila Paim, Amanda Rodrigues, Levy de Lima Vitorino, Bianca Fontana, Grippa Nathália, Leonardo Navarro, Lucas Cunha
  • Consultores: Steng Pro (projeto estrutural); Fit engenheiros (serviços de construção); Feuertec (proteção contra incêndio); K2 (consultor de sustentabilidade); Exato Engenharia (levantamento de quantitativos); Ricardo Viana (paisagismo); Proassp (impermeabilização)
  • Localização: Osasco – São Paulo, Brasil
  • Área: 10.155,33m²
  • Ano: 2014 (em processo)
  • Status: não construído

Moradas infantis

Fomentar união por meio do cruzamento de processos tecnológicos e vernaculares 

Moradias Infantis – Rosenbaum + Aleph Zero. Image © Riccardo Tosetto / Fundação Bienal

O contínuo, o vasto e uma tênue linha imaginária ao fundo acolhem a jornada e os saberes dos brasileiros residentes na região central do país. Em um lugar marcado por memórias, técnicas, estéticas e ritmos, indígenas e rurais, mas também onde ricas culturas se desvanecem frente a um desejo de modernização míope, a arquitetura deve encarar as contradições existentes e propor alternativas às soluções convencionais. Com estas indagações, o projeto para abrigar 540 jovens e crianças que estudam na escola de Canuanã caminha na direção do diálogo cultural, do incentivo a técnicas construtivas locais, da beleza indígena e seus saberes, aliados à construção da noção de pertencimento, necessária ao desenvolvimento dos alunos.

Para entender a complexidade inerente, utilizou-se a metodologia “A gente transforma”, conformada por fases de pesquisa, imersão e uma colaboração aberta com a comunidade local, professores e estudantes. O processo envolveu workshops e dinâmicas, em busca de um entendimento comum do problema e de suas possíveis soluções, advindas do diálogo entre a técnica contemporânea e o rico conhecimento vernacular local.

A troca contínua resultou em uma solução imaginada como primeiro passo na organização geral do território. As duas moradias requeridas para atender aos alunos foram posicionadas próximas às bordas da fazenda, liberando o eixo central para programas diretamente relacionados ao ato de aprender. Cada vila é conformada por 45 unidades, distribuídas ao redor de três grandes pátios onde a flora local ameniza o calor. Os dormitórios, para seis estudantes cada, são construídos com tijolos de solo-cimento, compostos com material do terreno, para melhorar o desempenho térmico e evitar transportes de longa distância. No piso superior, estão distribuídas áreas de convívio, como salas de TV e espaços para leitura, apresentações e brincadeiras. Acima, uma fina cobertura metálica de cor branca, sustentada por uma estrutura em madeira laminada colada cria uma grande sombra que abriga o programa e compõe o generoso espaço de transição entre dentro e fora.

Moradias Infantis – Rosenbaum + Aleph Zero. Image Cortesia de Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2018

  • Autores: Rosenbaum + Aleph Zero
  • Consultores: Ita Construtora (projeto, fabricação e construção de estruturas de madeira); Raul Pereira Arquitetos Associados (paisagismo); Projetos de Iluminação Lux (design de iluminação); Meirelles Carvalho (projeto de fundações); Ambiental Consultoria (Ambiental); Lutie (MEP); Trima (lajes de betão); Inova TS (empreiteiro geral); Rosenbaum e Fetiche (FF & E); Fabiana Zanin (registro de projetos e material de comunicação); Leonardo Finotti, Diego Cagnato, Experiência na Galeria (fotos e filmes)
  • Localização: Formoso do Araguaia – TO, Brasil
  • Área: 23.344,17m²
  • Ano: 2014-2016
  • Status: construído

Edifício Amata

Romper paradigmas tecnológicos

Edifício Amata – Triptyque Architecture . Image © Riccardo Tosetto / Fundação Bienal

O edifício apresentado foi um projeto pensado a partir de importante colaboração entre arquitetos e clientes; entre a Triptyque Architecture e a empresa de florestamento sustentável Amata, que, justamente, garante o nome ao edifício.

A própria morfologia do terreno escalonado possibilita criar uma interação múltipla entre cidade e usuários dessa área da Vila Madalena. Funcionalmente, os 13 pavimentos do edifício somam uma área de 4.700m² de uso misto, que contempla espaços compartilhados de trabalho (co-working) e moradia (co-living), além de restaurantes.

Em termos de materialidade, a escolha pela madeira em um edifício relativamente alto se deu primordialmente pelas suas possibilidades de constituir um modelo para uma arquitetura urbana sustentável e uma alternativa de descarbonização da construção civil – o ciclo produtivo da madeira já se inicia com um enorme crédito de compensação de carbono, uma vez que cerca de 1m³ de madeira captura 1 tonelada de gás carbônico durante seu crescimento. Somadas, as tecnologias aplicadas em CLT e Glulam fazem da madeira um material de alta eficiência estrutural, inclusive para edifícios mais altos.

Dessa forma, assim como outros materiais que revolucionaram a construção mundial entre os séculos XIX e XX, reforça-se a ideia de que a madeira será aquela a fazê-lo no século XXI, de modo que o edifício Amata traz a semente de uma matriz que transpõe questões de técnicas construtivas, legislação e benefícios físicos, emocionais e empíricos.

Edifício Amata – Triptyque Architecture . Image Cortesia de Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2018

  • Autores: Triptyque Architecture  Carolina Bueno, Sávio Jobim, João Vieira Costa, Victor Hertel, Alice Sallustro
  • Consultores: Equilibrium / Carpinteria (projeto, fabricação e construção de estrutura de madeira, engenharia); PS2 Projetos e Consultoria / Amata (registro de projetos e material de comunicação)
  • Localização: São Paulo – SP, Brasil
  • Área: 4.700m²
  • Ano: 2017 (em processo)
  • Status: não construído

Sesc Ribeirão Preto

Densificar usos como um meio de fortalecer a comunidade

Sesc Ribeirão Preto – SIAA + HASAA. Image Cortesia de Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2018

O passeio interno de reconhecimento desse complexo cultural e esportivo é uma experiência de diversidades. Há multiplicidade de caminhos e rotas, há heterogeneidade de formas e espaços e há variedade de fechamentos e aberturas. Não há qualquer tipificação nos andares. Não há repetição dos corredores e escadas. Há, sim, uma intenção de sempre construir varandas: espaços de ligação que criam ambientes abertos de estar e vistas singulares.

É preciso admitir que, antes de mais nada, esse é um projeto sobre um projeto. É a questão seminal para a intervenção arquitetônica dentro do Sesc de Ribeirão Preto, inaugurado em 1966, com um pavilhão concebido pelo arquiteto Oswaldo Corrêa Gonçalves. Selecionada em concurso público ocorrido em 2013, a nova proposta objetiva reorganizar, atualizar e ampliar as atividades desse conjunto. Pelo projeto, a edificação modernista linear de dois pavimentos transforma-se no acesso principal, isto é, na transição da cidade com seu Sesc.

As novas atividades são concentradas na nova edificação vertical: um volume constituído pelo “empilhamento” de diversas funções, cada qual com a geometria ideal para seu funcionamento. O resultado é um complexo corte, que revela os espaços fechados entremeados por frestas ou vazios e percursos públicos ou administrativos.

O rés-do-chão é, em grande medida, caracterizado pelas piscinas: a existente ao ar livre desdobra-se nas novas piscinas cobertas, dando origem a um conjunto aquático interligado. A cota da cobertura do antigo pavilhão dá origem ao andar de convivência que conecta as diferentes partes do Sesc: um ato de suspensão e pulverização dos fluxos das atividades próprias a um foyer.

No núcleo da torre, localiza-se o teatro com caixa cênica e, nos pavimentos superiores, uma sala escura de múltiplo uso e a quadra no topo. As novas fachadas seguem uma malha estrutural com modulação de 3x3 metros, alternando fechamentos como brises, chapas perfuradas ou opacas (avermelhadas ou negras), planos cegos de concreto e a transparência literal do vidro. No conjunto arquitetônico deste projeto, é pelo contraste que o existente (horizontal e linear) e o novo (vertical e compacto) valorizam-se mutuamente. Imagina-se, assim, que o visitante, ao caminhar por esta unidade do Sesc, reconheça e participe da programação ofertada, tendo sempre como parâmetro visual a cidade ao seu redor.

  • Autores: César Shundi Iwamizu, Eduardo Pereira Gurian, Helena Aparecida Ayoub Silva
  • Equipe de competição: HASAA (Alexandre Fernandes, André Ariza, Elisa Haddad, Gustavo Kerr, Kim de Paula, Luisa Amoroso, Thomas Ho); SIAA (Alexandre Gervásio, André Silva, Bruno Salvador, Daniel Constante, Rafael Carvalho)
  • Coordenação do projeto: Cecília Prudencio Torrez, César Shundi Iwamizu, Eduardo Pereira Gurian, Helena Aparecida Ayoub Silva
  • Equipe de projeto: HASAA (Gustavo Kerr, Thomas Ho, André Ariza, Fernanda Bittencourt, Flávia Falcetta); SIAA (Andréa Silva, Bruno Salvador, Fernanda Britto, Leonardo Nakandakari, Luca Caiaffa, Rafael Carvalho, Maria Fernanda Xavier)
  • Consultores: Addor; Ambiental; BONÉ; Crysalis; CTE; Empro; Fernando Machado; Franco Associados; Jugend; Mag Projesolos; MBM Engenharia; MK Engenharia; Pedro Martins Engenharia; Polis Engenharia; Proassp; Simone Carvalho; Solé e Associados; Statura Engenharia; ZF & Engenheiros Associados
  • Coordenação do Sesc: Amilcar João Gay Filho; Grisiele Cezarete; Rita Palavani; Giorgio D´Onofrio; Sérgio José Battistelli, Vicente Paulo Aráujo Girodo
  • Texto: Francesco Perrotta-Bosch
  • Localização: Ribeirão Preto – SP, Brasil
  • Área: 15.000m²
  • Ano: 2013 (em processo)
  • Status: não construído

Farol da Maré

Compreender a totalidade do território através de um deslocamento vertical 

Farol da Maré – Pedro Évora . Image © Riccardo Tosetto / Fundação Bienal

Surgindo como torres em uma cidade antiga ou palmeiras mais altas do que a mata, mirantes emergem entre casas e galpões industriais abandonados. Onde as vizinhanças se distanciam dentro do bairro denso e labiríntico da periferia, elementos verticais sinalizam novos horizontes e orientam outras possibilidades de navegação. Essa imagem projetada como um conto pertence à realidade do Complexo da Maré, conjunto de favelas da cidade do Rio de Janeiro, a partir do projeto Farol da Maré.

A Favela da Maré é um conjunto de dezesseis comunidades que abriga cerca de 130 mil pessoas em construções com três pavimentos, em média, numa área equivalente a Copacabana. Criada a partir da orla norte da Baía de Guanabara, junto à Cidade Universitária do Fundão, é definida externamente pela Avenida Brasil, Linha Vermelha e Linha Amarela, principais vias da cidade. Vista a partir das rodovias, apresenta-se como um território espesso e impossível de ter avaliada sua real dimensão. Internamente, caracteriza-se pela justaposição de distintas tramas de construções e caminhos, que unem e diferenciam seus espaços, comunidades e comandos armados. Em nenhuma parte é possível perceber o seu todo na cidade. A Maré é vulgarmente conhecida pela opacidade e pela violência.

O projeto de arquitetura Farol da Maré cria outros pontos de vista para a região, com a instalação de mirantes anexos a equipamentos públicos, criando uma rede de referências visuais verticais para as dezesseis comunidades que compõem o bairro-complexo. Surgiu da demanda pontual de ampliação do Centro de Arte Contemporânea Bela Maré, um galpão industrial convertido ao uso cultural, na comunidade da Nova Holanda em 2012, e propõe a construção de uma torre metálica de trinta metros de altura que abrigará o mirante público e atividades da instituição, afirmando-se como fato novo tanto para os moradores quanto para a paisagem.

Farol da Maré – Pedro Évora . Image Cortesia de Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2018

  • Autor: Pedro Évora
  • Cliente: Observatório de Favelas
  • Produtor: Luiza Melo (Automática)
  • Colaboradores: Rua Arquitetos (Pedro Rivera, Fabiano Pires, Olivia Vigneron)
  • Consultores: Samuel Betts (projeto de iluminação); Geraldo Filizola (engenharia estrutural)
  • Localização: Nova Holanda, Maré, Rio de Janeiro – RJ, Brasil
  • Área: 1.050m²
  • Ano: 2012-2017
  • Status: não concluído

Centro Aberto

Converter pequenos espaços residuais e subutilizados em áreas de interação social 

Projeto Centro Aberto – SP Urbanismo. Image © Riccardo Tosetto / Fundação Bienal

A cidade oferece inúmeras oportunidades aos que nela vivem: oportunidades de habitar e trabalhar, de ter lazer e cultura, de comprar e obter serviços, de usufruir dos espaços de encontro, de se capacitar e se educar. São oportunidades que geram nos cidadãos não só a necessidade de deslocar-se no território, mas, principalmente, a necessidade de permanência em seus inúmeros espaços.

O Programa Centro Aberto consiste na implantação de um programa de usos e atividades em espaços subutilizados (ou mesmo fechados ao uso cotidiano), substituindo gradis e bloqueios existentes por áreas abertas de intensa atividade, num constante convite à permanência. Desse modo, pretende-se revelar a importância desses lugares para a fruição da cidade e para o reforço do domínio público.

Esse programa se concretizou a partir de um processo participativo, desenvolvido através do diálogo entre os diversos agentes envolvidos na produção e no uso do espaço. Nas oficinas e seminários do “Diálogo aberto”, foram definidas três esferas de ação: priorizar e proteger os deslocamentos não motorizados (pedestres e ciclistas); dar condições para a permanência das pessoas no espaço público; promover novos usos e atividades para esses espaços.

Uma questão afetiva e estratégica ajudou a definir um primeiro recorte para aplicação dessas ações. Os Largos de São Francisco e São Bento, locais de implantação do programa, juntos ao antigo Largo do Carmo (próximo à atual Praça da Sé) constituem o triângulo histórico onde se iniciou o desenvolvimento de São Paulo. A área central é o espaço de maior referência na cidade, com a maior oferta de comércio, serviços, transporte e patrimônio histórico e cultural.

O programa propõe a utilização de mobiliário fixo e móvel: deque de madeira, bancos, mesa de pingue-pongue, centro de informações, mesas e cadeiras, cadeiras de praia, ombrelones, jogo de xadrez e equipamentos de apoio para eventos culturais. Além disso, o projeto promoveu maior segurança aos pedestres através da nova sinalização horizontal, dos balizadores e ampliação das faixas de travessia.

Esses elementos ajudam a conformar ambientes com novas funções, intensificam o uso público e criam espaços de encontro e de descanso, os quais proporcionam ao usuário diferentes experiências: áreas sombreadas, apresentações artísticas, sessões de cinema, aulas abertas, aulas de yoga, jogos, alimentação, disponibilização de energia e internet, entre outras.

Projeto Centro Aberto – SP Urbanismo. Image Cortesia de Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2018

  • SP Urbanismo
  • Presidente: José Armênio de Brito Cruz
  • Desenvolvimento: Fernando Mello Franco, Gustavo Partezani Rodrigues, Luis Eduardo Surian Brettas, Eduardo Pompeo Martins, Jihana Yussif Abou Nassif, Patrícia Lutz Vidigal, Cristiana Gonçalves Pereira Rodrigues, André de Paula Andreis, Luana Moreira Pereira, André Gonçalves dos Ramos, João Porfírio da Silva
  • Apoio ao desenvolvimento: Patricia Saran, Thomas Yuba, Cristina Costa, Cristina Laiza, Potiguara Ponciano
  • Apoio administrativo, financeiro e jurídico: Fábio Nascimento, Valdemir Lodron, Ricardo Simonetti, Adriana Santos, Ricardo Teixeira, Nivaldete Jesus, Maria Cabral, Tercio Ruggeri, Isabel Souza, Rita Lima
  • Estagiários: Bibiana Tini, Douglas Farias, Hannah Campos, Horina Soares, Juliana Matayoshi, Natalie Lagnado, Paula Giavarotto, Pedro Cipis, Ana Siqueira, André Bonassa, Davi Sampaio, Diego Dias, Flávio Barossi, Gabriela Barbosa, Giulia Lorenzi, Heloisa Oliveira, Jéssica Selingardi, Júlia Kaffka, Juliana Miranda, Mariana Clemente, Nicolas Panseri, Pamela Silva, Paola Ornaghi, Rodolpho Prado, Rodrigo Marinoni Mandelli, Suzi Correa, Vitória Novo
  • Colaboração: PR-SE; SMT / CET; SMADS; SMDHC; SMSO / AMLURB; SMSO; SSU / GCM; PMSP; Gehl Architects (consultoria de engajamento ativo)
  • Implantação: SP Urbanismo
  • Operação e pesquisa: LR Eventos
  • Localização: Largo São Francisco / São Bento Largo, São Paulo – SP, Brasil
  • Ano: Largo São Francisco - 2014 / Largo São Bento - 2016
  • Área: Largo São Francisco (2.705m²) / Largo São Bento (3.900m²)
  • Status: construído

Do Plano ao Projeto/ Sesc Parque Dom Pedro II

Gerenciar múltiplas escalas para gerar valor urbano 

Do plano ao projeto: SESC Parque Dom Pedro II – Una Arquitetos, Laboratório de Urbanismo da Metrópole – LUME da FAUUSP, Una Arquitetos, H+F Arquitetos e Metrópole Arquitetos . Image © Riccardo Tosetto / Fundação Bienal

A região da antiga várzea do Rio Tamanduateí era o porto fluvial da vila de São Paulo. No início do século 20, a região foi transformada num grande parque público de inspiração francesa, a transição entre o centro histórico e a zona industrial da cidade. Ao final dos anos 1960, o parque foi totalmente transformado por violentas intervenções de infraestrutura urbana metropolitana, as quais o tornaram uma região cindida e vulnerável. Assim, o plano urbanístico apresentou diversas propostas coordenadas, como o rebaixamento das vias expressas; a remoção de viadutos; a criação de ruas e novas pontes, um terminal intermodal junto à estação de metrô existente, uma lagoa de retenção e dois setores de desenvolvimento prioritário, os arcos norte e oeste.

O setor norte do plano, a cargo do Una Arquitetos, inclui a proposta de uma nova unidade do Sesc (Serviço Social do Comércio), como âncora da requalificação urbana proposta para a região. O entorno do parque apresenta imenso potencial de adensamento habitacional, sobretudo para baixa renda, em especial pelas áreas já reservadas em lei para esse fim.

O projeto em desenvolvimento desse novo Sesc procura potencializar ao máximo as qualidades inerentes ao programa de caráter público que caracteriza a instituição. As unidades do Sesc são grandes edifícios multifuncionais, nos quais coexistem atividades culturais, esportivas e de lazer, sempre associadas a um caráter educacional. Em algumas unidades do Sesc, a visitação chega a 5 mil pessoas por dia.

Ocupando todo um quarteirão de forma triangular, o Sesc D. Pedro II é circunscrito por três vias. Com acessos em cada uma delas, o térreo resulta em uma praça ora coberta, ora descoberta, animada pelos fluxos convergentes para seu interior.

Para abrigar os setores de livre acesso ao público e potencializar as atividades lá oferecidas, um volume horizontal de dois pavimentos se espraia pelo quarteirão. No térreo estão as oficinas, um café e o foyer do teatro experimental, atividades localizadas ao redor de um pátio arborizado, o qual permite a relação visual das atividades nos distintos andares.

A circulação é realizada através de escadas rolantes, as quais conectam o nível das ruas ao amplo terraço que caracteriza o segundo pavimento. O passeio pelo terraço, ao redor das copas das árvores, revela vistas sobre esse trecho da cidade, incluindo os edifícios históricos de grande valor, como o Palácio das Indústrias e o Mercado Municipal. O primeiro andar, situado entre o térreo e o terraço, acomoda comedoria, biblioteca e áreas administrativas.

O teatro proposto possui configuração mais experimental, com várias possibilidades de montagem de cena e público, o que também permite uma conexão com a área externa do jardim. O ginásio, além da quadra poliesportiva, contempla áreas reservadas para atividades esportivas diversas e uma ampla sala de ginástica. Por fim, a cobertura do prédio é ocupada pelo conjunto aquático, o qual consiste em uma piscina coberta e duas piscinas de lazer ao ar livre. A cota deste andar permite visuais para todos os lados; uma revelação surpreendente das vistas da cidade.

Em sua implantação compacta, o Sesc busca dialogar e valorizar seu entorno de densa ocupação de comércio e serviços, oferecendo aos visitantes a fruição de novas vistas para o importante conjunto de edifícios históricos e, sobretudo, para a colina histórica, o Centro de São Paulo. Sua volumetria busca graduar as alturas em relação ao entorno imediato, de maneira que sua inserção seja delicada, enquanto forma, e também transformadora da qualidade urbana da cidade.

Do plano ao projeto: SESC Parque Dom Pedro II – Una Arquitetos, Laboratório de Urbanismo da Metrópole – LUME da FAUUSP, Una Arquitetos, H+F Arquitetos e Metrópole Arquitetos . Image Cortesia de Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2018

  • Plano urbano: Secretaria municipal de Desenvolvimento urbano: Miguel Luiz Bucalem - secretário
  • Laboratório de Urbanismo da Metrópole - Lúcida da FAUUSP: Regina Meyer, Marta Grostein
  • Coordenação administrativa (fupam): José Borelli
  • Una arquitetos: Cristiane Muniz, Fábio Valentim, Fernanda Bárbara, Fernando Viégas / colaboradores: Ana Paula de Castro, Carolina Klocker, Eduardo Martorelli, Fabiana W. Cyon, Filipe dos Santos Barrocas, Igor Cortinove, Miguel Muralha, Roberto Galvão Júnior / estagiários: Bruno Gondo, Henrique Te Winkel, Luccas Matos Ramos
  • H + F arquitetos + Metrópole arquitetos: Anna Helena Villela, Eduardo Ferroni, Pablo Hereñu / colaboradores: Bruno Nicoliello, Cecília Torres, Liz Arakaki, Renan Kadomoto, Thiago Moretti, Tammy Almeida / estagiários: Carolina Yamate, Carolina Domshcke, Felipe Chodin, Karina Kohutek Luisa Fecchio, Natália Tanaka e Nike Grote
  • Sesc Pq. Dom Pedro II - projeto: Cristiane Muniz, Fábio Valentim, Fernanda Bárbara, Fernando Viégas
  • Equipe de projeto: Barbara Francelin, Camila Martins, Clóvis Cunha, Joaquin Gak, Júlia Jabur, Julia Moreira, Manuela Raiteli, Marie Lartigue, Pedro Ribeiro, Rodrigo Carvalho, Sarah Nunes
  • Consultores: SOMA arquitetos / UNA ARQUITETOS (paisagismo); Passeri Arquitetos Associados (consultor acústico); Addor & Associados (alvenaria); Acústica e Sônica (conforto acústico e tecnologia cenográfica); MK Engenharia (consultora de fluxo de veículos); Pedro Martins Engenharia (consultoria em enquadramento); Estúdio Carlos Fontes - Luz + Design (iluminação); Machado de Campos (desenho técnico de cozinhas); Júlio Kassoy e Mário Franco (concreto e estrutura metálica); ZF & Engenheiros Associados Fundações e Contenções (fundações e terraplenagem); Proiso (impermeabilização); ETP Climatização (mecânica); Crysalis / aVM (áudio, vídeo e multimídia); Jugend (sistema de segurança eletrônica, detecção e alarme de incêndio, gerenciamento predial); PHE (hidráulico, consultor elétrico); EACE (transporte vertical); CTE (consultor LEED); ASA Estúdio (consultor do PROCEL)
  • Localização: São Paulo – SP, Brasil
  • Área: 24.000m²
  • Ano: 2018 (em processo)
  • Status: não construído

Boulevard da Liberdade

Costurar tecidos urbanos pela subversão da legislação atual 

Boulevard da Liberdade – Corsi Hirano Arquitetos, Candi Hirano . Image © Riccardo Tosetto / Fundação Bienal

A relação entre a ausência de uso, de atividade e o sentido de liberdade, de expectativa, é fundamental para entender toda a potência evocatória que os terrain vague das cidades têm na percepção da mesma nos últimos anos. Vazio, portanto, como ausência, mas também como promessa, como encontro, como espaço do possível, expectativa. Ignasi de Sola-Morales 

Muros sólidos construídos no território ou muros invisíveis escavados na geografia urbana, todos são muros que uma metrópole com a escala de São Paulo é capaz de erigir: fronteiras abissais em seu tempo e espaço. A proposta do Boulevard da Liberdade resulta da constatação do desaparecimento dos espaços públicos e da qualidade da paisagem urbana em nossas cidades.

Como uma iniciativa pública, estruturada a partir da criação de uma lei que permite a ocupação do vazio existente, o projeto é uma importante forma de reconstituição do tecido urbano e se pauta pelo reconhecimento dos muros e fraturas – nesse caso, um negativo – na cidade. A partir de sua condição crítica, um muro vazio é reconhecido não somente como palco para uma potencial ação infraestrutural, mas também como uma oportunidade de encontro. Mesmo a partir das inúmeras barreiras urbanas existentes, as cidades ainda podem originar novos elementos unificadores e geradores desse encontro, proporcionados pelo espaço público e suas amplificações.

Abordando uma condição recorrente em São Paulo, sugere-se a apropriação do espaço aéreo sobre a via expressa que interliga a cidade de leste a oeste. À criação de praças urbanas acolhedoras da diversidade urbana, associam-se elementos programados ou não, definidos pela multiplicidade de atividades que se justificam tanto na escala local como metropolitana.

É preciso ter claro que a diluição dos muros urbanos existentes – sociais, políticos e econômicos – também deve estar embasada sobre estratégias físicas, geradoras de situações e lugares nos quais o pleno convívio seja possível em meio à realidade construída. A arquitetura se faz presente como constituição do Freespace em sua essência: o espaço democrático. Solicitado por associações e organizações vinculadas ao bairro e com a proposta de unir as iniciativas públicas e privadas, o projeto permanece apresentado para ambos.

Boulevard da Liberdade – Corsi Hirano Arquitetos, Candi Hirano . Image Cortesia de Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2018

  • Autores: Daniel Corsi, Dani Hirano e Candi Hirano
  • Colaboradores: Marina Nunes, Elis Cristina Morales, Caroline Jun, Melo Nathália, Jessyca Lin, Marina Martorelli
  • Localização: São Paulo – SP, Brasil
  • Área de intervenção: 17,406m²
  • Área de construção: 38.580m²
  • Ano: 2011-2013
  • Status: não construído

Travessias

Transpor grandes corredores de infraestrutura 

Travessias – sauermartins + Metropolitano Arquitetos. Image © Riccardo Tosetto / Fundação Bienal

Considerando a forte ruptura no tecido urbano em função do viaduto existente e da infraestrutura viária, o projeto Travessias é um mecanismo atenuador da paisagem urbana, que oferece uma experiência de percurso mais próxima à escala humana. Supera barreiras físicas por meio da inserção de uma passarela de pedestres: uma travessia urbana.

Com base em estudos de viadutos e áreas contíguas à via Expressa Leste-Oeste na cidade de Belo Horizonte, o concurso realizado pela prefeitura buscou estratégias de intervenção que ativassem e requalificassem tanto o espaço público, quanto a paisagem urbana, de maneira que a ociosidade dessas áreas residuais fosse minimizada e as ocupações ilegais, prevenidas.

A proposta desenvolvida para o viaduto Fulgêncio considera a situação crítica de degradação e abandono do seu entorno, gerada pela justaposição da avenida dos Andradas, do ribeirão Arrudas e do trem da cidade. O viaduto permite a continuidade viária da avenida Francisco Sales, que conecta dois bairros equipados com instituições de saúde e ainda amplia ligação com o transporte público.

Como estratégia de intervenção, a passarela conecta os dois lados da avenida, promovendo a integração do tecido urbano e propondo rotas acessíveis para pedestres e ciclistas. A travessia elevada se desenvolve por baixo do viaduto existente, através de elementos metálicos fixados à estrutura original de concreto que evidenciam os diferentes usos, além de permitirem uma execução bastante simples. Nas extremidades da passarela, onde a estrutura metálica encontra o nível da rua, a inclinação necessária acomoda arquibancadas para a realização de eventos e apresentações culturais. Ao contrário de um vazio urbano, a área sob os viadutos se torna ponto de atração de pessoas e incentiva a promoção de outro tipo de vida urbana. Para isso, novos programas são propostos de maneira a criar variados usos, que incentivem, assim, a ocupação desses locais como espaços de convivência, comércio e lazer.

Travessias retrata a arquitetura como instrumento capaz de fomentar a discussão sobre as relações presentes nas cidades brasileiras e visa demonstrar as possibilidades de requalificação do ambiente público urbano através de espaços multiusos, com o intuito de minimizar as barreiras físicas e sociais.

Travessias – sauermartins + Metropolitano Arquitetos. Image Cortesia de Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2018

  • Arquitetura: sauermartins + Metropolitano Arquitetos
  • Equipe de design: Cássio Sauer, Elisa Martins (sauermartins) + Camila da Rocha Thiesen (Metropolitano Arquitetos)
  • Colaborador: Ignacio de la Veja
  • Designers: Bárbara Remussi, Luísa Pasqualotto, Augusto Pereira
  • Desenvolvimento: Prefeitura de Belo Horizonte; PUC-Minas, ONG Arquitetos sem Fronteiras, Flávio Agostini (M3 Arquitetura), Carlos Teixeira (Vazio / SA)
  • Localidade: Belo Horizonte – MG, Brasil
  • Área: 6.500m²
  • Ano: 2014
  • Status: não construído

Residencial Parque Novo Santo Amaro

Delimitar para qualificar espaços de convivência urbana 

Parque Novo Santo Amaro V – Vigliecca & Associados. Image © Riccardo Tosetto / Fundação Bienal

Mais do que criar moradias para famílias que viviam de forma precária em áreas de risco, sujeitas a enchentes e desabamentos, o projeto trouxe melhoria urbana para a comunidade, situada em uma das áreas de mananciais na zona sul de São Paulo.

Ao invés de criar uma nova realidade para o local, o projeto se insere na paisagem urbana, valorizando seus recursos. O verde, que havia sido extinto no desenrolar da ocupação edificada irregular na área, foi recuperado por meio de um parque linear – o eixo central que estrutura o conjunto de intervenções. Ao longo desse parque, além da presença do clube e da escola, pontos de atração como playground, pista de skate e campo de futebol estimulam a circulação de moradores e o sentimento de identidade com o lugar.

Antes, para terem acesso à escola, as crianças precisavam atravessar um córrego poluído ou caminhar muito para contornar a quadra. Assim, o projeto criou passarelas de conexão entre as centralidades existentes e as implementadas. Os prédios de cinco a sete andares – que comportam 200 unidades habitacionais de várias tipologias, como apartamentos duplex de dois a três dormitórios e opções adaptadas para portadores de necessidades especiais – não impedem o fluxo de pedestres, uma vez que dispõem de circulação semipública.

O córrego, no qual o esgoto era despejado, foi canalizado e uma rua foi projetada sobre o mesmo. No intuito de preservar a identidade dos moradores com o respectivo meio ambiente em que vivem (de grande riqueza hídrica), foram criados espelhos d’água. Hoje, a região é abastecida pela água de diversas nascentes, todas recuperadas.

Parque Novo Santo Amaro V – Vigliecca & Associados. Image Cortesia de Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2018

  • Projeto: Vigliecca & Associados
  • Autores: Héctor Vigliecca, Luciene Quel, Neli Shimizu, Ronald Fiedler
  • Equipe de design: Thaísa Folgosi Fróes, Caroline Bertoldi, Kelly Bozzato, Aline Ollertz Silva, Pedro Ichimaru Bedendo, Mayara Rocha Cristo
  • Administração: Paulo Eduardo de Arruda Serra, Luci Tomoko Maie
  • Cliente: Prefeitura do Município de São Paulo - Secretaria de Habitação
  • Superintendência: Elisabete França
  • Gestão: Consórcio JNS Hagaplan
  • Gonsultores: Procion Engenharia (engenharia MEP); Berfac (fundações e terraplenagem); Camilo Engenharia (estrutura de concreto); Projeto Alpha / Flavio D'Alambert, Prometal (estrutura metálica); Consórcio Mananciais - Construbase Engeform - José Roberto do Nascimento e Adriano R. Marques (empreiteira)
  • Localização: São Paulo – SP, Brasil
  • Área de intervenção: 5,4ha
  • Número de unidades habitacionais: 198
  • Área construída: 18.710m²
  • Ano: 2009-2012
  • Status: construído

Orla marítima de Ilha Comprida

Revelar uma orla preservada como um novo espaço público 

Orla Marítima de Ilha Comprida - Boldarini Arquitetos. Image © Riccardo Tosetto / Fundação Bienal

Ilha Comprida ocupa uma estreita faixa de areia de aproximadamente 72 km de extensão por 3 km de largura e apresenta a peculiaridade de ter 100% de seu território incluído em uma Área de Proteção Ambiental (APA). Sendo assim, o projeto de requalificação de sua orla marítima busca a organização e a dinamização das atividades realizadas à beira-mar, com objetivos que vão além dessa frente marítima e do turismo de veraneio. Como o município exerce o importante papel ambiental de funcionar como um quebra-mar que protege a porção continental das influências de ventos e mares, é fundamental preservar suas dunas – as responsáveis por receber os ventos e proteger a porção imediatamente posterior ao efeito desses agentes costeiros.

Assim, a proposta de requalificação da orla de Ilha Comprida configura-se como um projeto piloto de transformação dessa frente marítima. Lança mão de estratégias que contemplam as condições naturais e as necessidades de moradores e visitantes, fornecendo estruturas que interferem positivamente na dinâmica de fluxos naturais, ao mesmo tempo em que orientam o uso e a visitação nesse espaço, que é público por excelência.

O parcelamento do solo na região central de Ilha Comprida caracteriza-se por uma malha ortogonal com quadras de 50 m de largura, configurando uma série de vias perpendiculares à praia que conduzem um grande número de usuários à avenida Beira-Mar, onde os serviços, principalmente voltados para o turismo de verão, se posicionam de forma desorganizada, criando uma série de conflitos entre pedestres, veículos, ciclistas, vendedores, quiosques e estruturas temporárias, além dos ambientais já citados.

O projeto fundamenta-se na ordenação desses usos à beira-mar a partir de pontos de parada do transporte público – tomado como elemento mediador entre a praia (ambiente natural) –, e a ocupação urbana (ambiente construído). Pretende-se uma transformação urbana a partir da questão pública do transporte coletivo, a qual permite uma apropriação verdadeiramente democrática do espaço desenhado.

Orla Marítima de Ilha Comprida - Boldarini Arquitetos. Image Cortesia de Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2018

  • Autores: Marcos Boldarini, Lucas Nobre e Larissa Reolon
  • Equipe de design: Flávia Cavalcanti, Juliana Junko, Marta Abril, Renata Serio e Rodrigo Garcia
  • Estagiários: Patricia Tsunoushi e Pricila Anderson
  • Empreiteira: Prefeitura de Ilha Comprida
  • Consultores: CAP - Consultoria Ambiental Paisagística (projeto de paisagismo); Linear Engenharia e Tecnologia (drenagem de águas pluviais); Wagner Garcia (estruturas e fundações); DMA Engenharia (elétrica); HPROJ Engenharia (hidráulica); Tecnowatt Iluminação (iluminação); BLK Construção e Empreendimentos (construtor); Pezzi Consultoria, Mariângela Oliveira de Barros, Pablo Garcia Carrasco (consultores)
  • Localização: Ilha Comprida – SP, Brasil
  • Área de intervenção: 283.000m²
  • Extensão da intervenção: 3,2 km
  • Ano: 2011-2015
  • Status: construído

Plano urbanístico Pirajussara

Interconectar fragmentos ao longo do rio para liberar espaço na cidade informal 

Pirajussara 5 – Libeskindllovet Arquitetos, Jansana, de la Villa, de Paauw, arquitectes. Image © Riccardo Tosetto / Fundação Bienal

O urbanismo informal é o modo de desenvolvimento dominante nas cidades de maior crescimento do mundo. Como arquitetos urbanistas, estamos preocupados em melhorar a vida nos bairros informais a partir da paisagem, uma vez que o espaço aberto é um recurso raro e precioso nesses locais.

O projeto Pirajussara 5 considera o rio Diniz como eixo estruturador de toda a sua proposta, a partir da interligação de espaço público, moradias existentes e novas edificações de reassentamento. Como hoje esse rio se encontra parcialmente escondido pelas moradias, o objetivo é redescobri-lo e aproximá-lo à população, requalificando suas margens com a implantação de um parque linear. Assim, no espaço resultante, são consolidados eixos cívicos de convivência, relação social e intercâmbio cultural, beneficiando o bairro com espaço público próximo, numa intervenção que cria uma nova fachada para o córrego, atualmente considerado como fundo.

A partir desses eixos, o partido também estabelece o vazio como prioridade para as áreas carentes de espaços abertos. São geradas, portanto, novas áreas de estímulo a polos de centralidade, que reforçam a identidade de cada bairro.

Conectividade e qualidade ambiental são conquistadas através da integração do tecido urbano mediante operações de minuciosa cirurgia urbana, nas quais a eliminação de barreiras físicas, o paisagismo e a implantação da rede de esgoto exercem um papel essencial. A partir do conceito de “caminho verde” ou “rambla”, o projeto redefine as seções das ruas e as pacífica, de maneira que o espaço público, até então dominado pela perspectiva do automóvel, possa ser revitalizado. A “favela” poderá, assim, restabelecer um diálogo com seu entorno e tornar-se parte da cidade formal, à qual ela pertence.

Pirajussara 5 – Libeskindllovet Arquitetos, Jansana, de la Villa, de Paauw, arquitectes. Image Cortesia de Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2018

  • Co-criação: Libeskindllovet Arquitetos + Jansana da Villa, de Paauw Arquitectes
  • Autores: Claudio Libeskind, Sandra Llovet, Robert de Paauw, Imma Jansana, Conchita de la Villa, Toni Abelló, Carlota Socias
  • Equipe de projeto: Adriano Soares, Marina Rosa, Natália Leardini, Ariana D'Andrea, Vinicius Libardoni, Bruna Bimeghini, Luana Pereira, Beatriz Vanzolini Moretti, Gabriel Faria de Paula, Guilherme Filocomo, Márcia Endrighi, Camille Bianchi, Gabriela Barbosa Amorim, Francesco Fontana Stefano Muzzi
  • Consultores: EGI Enginyeria, Grupo de Consultoria de Engenharia Bac, Maccaferri do Brasil, Consgeo Engenharia
  • Local: Campo Limpo, São Paulo – SP, Brasil
  • Área: 176.874m²
  • Ano: 2012-2018
  • Status: não construído

Pavilhão do Brasil na 16ª Mostra Internacional de Arquitetura – La Biennale di Venezia

  • Título da exposição: Muros de Ar
  • Local: Pavilhão do Brasil
  • Endereço: Giardini Castello, Padiglione Brasile, 30122 Veneza, Itália
  • Data: 26 de maio a 25 de novembro de 2018 
  • Pavilhão do Brasil na 16. Mostra Internacional de Arquitetura – Bienal de Veneza
  • Comissário: João Carlos de Figueiredo Ferraz, Presidente da Fundação Bienal de São Paulo
  • Curadoria: Gabriel Kozlowski, Laura González Fierro, Marcelo Maia Rosa e Sol Camacho 
  • Equipe de pesquisa curatorial: Gabriel Duarte, Chiara Scotoni, Olivia Serra, Barbara Graeff, Rafael Marengoni, Haydar Baydoun, Heloisa Escudeiro, Miguel Darcy, Giusepe Filocomo, Manoela Pessoa, Leonardo Serrano, Nitzan Zilberman, Catarina Flaksman
  • Maquetes: Paola Acevedo Vargas (coordenadora), Ada Demetriu, Alba del Barrio, Alberto Martínez, Carles Truyols, Daniel Escribà, Gerard Graells, Jean Craiu, Mariona Mayol Battle, Simon de Jong.

Este artigo faz parte da cobertura do ArchDaily da Bienal de Veneza 2018. Os textos foram fornecidos pela equipe de curadores do Pavilhão do Brasil - Muros de Ar.

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Sobre este autor
Cita: Romullo Baratto. "Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2018: Muros de Ar - Os limites dos objetos" 13 Jun 2018. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/896228/pavilhao-do-brasil-na-bienal-de-veneza-2018-muros-de-ar-os-limites-dos-objetos> ISSN 0719-8906

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