Poucos bairros possuem um conjunto de arquiteturas residenciais modernas de tanta qualidade como Higienópolis. Obras de Vilanova Artigas, Artacho Jurado, Rino Levi, entre muitos outros arquitetos de destaque, convivem com palacetes históricos entre suas ruas arborizadas. O loteamento planejado foi o primeiro a receber iluminação a gás, arborização, linhas de bondes, redes de água e esgoto na cidade paulistana. E, por situar-se majoritariamente em cotas mais altas, não apresentava enchentes e era menos propenso a contaminação de doenças como febre amarela, tifo e malária. Ocupado originalmente pela aristocracia paulistana, até hoje é um bairro extremamente valorizado e procurado. Sobretudo entre as décadas de 40 e 50 diversos lotes foram ocupados por edifícios modernos de alta qualidade projetual, construtiva e espaços generosos.
As ilustrações foram desenvolvidas por Fabrizio Lenci, arquiteto, ilustrador e sócio do escritório Vapor 324, para o Jornal A quadra, a partir da seleção desenvolvida por André Scarpa. Confira abaixo um pouco da história de cada um dos edifícios desenhados:
Edifício Louveira / Vilanova Artigas
Projetado em 1946, num lote frente à Praça Vilaboim, dois volumes prismáticos, opostos um ao outro, pairam sobre um jardim que configura uma praça central integrada visualmente à praça pública. Sem a presença de elementos arquitetônicos que obstruam a ideia de continuidade visual, estabelece um franco diálogo com a cidade.
As duas empenas cegas laterais de cada edifício, revestidas em pastilhas, apresentam nove metros de largura e quando vistas da praça pública parecem comportar-se como fachadas principais dos volumes.
Cada pavimento é composto por dez módulos quadrados com três metros de largura separados pela espessura das alvenarias internas. Na composição, os quatro módulos centrais recebem aplicação em vidro, enquanto que os três módulos localizados em cada extremidade são preenchidos por painéis vermelhos e venezianas amarelas nas faixas centrais.
Tombado em 1992 pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico e Turístico (Condephaat), após sete anos do pedido, o edifício é cuidadosamente preservado por seus moradores.
Edifício Bretagne / Artacho Jurado
Com projeto concebido pelo arquiteto autodidata João Artacho Jurado, o edifício é um marco arquitetônico por sua planta em L e um dos primeiros edifícios verticais do bairro. Datado de 1958, teve suas obras iniciadas em 1955. Com uma miscelânea de estilos, cores e formas, evocando alguns dos princípios do chamado “hollywoodiano”, o edifício com 18 pavimentos e 173 apartamentos foi sucesso de vendas naépoca, após o intenso trabalho de marketing realizado por Jurado. Também foi pioneiro ao inserir áreas de uso comum em seu programa (salão de festa, playground, piscina, etc.) na busca por maior conforto e interação aos moradores.
No ano de 1995, houve o tombamento pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (CONPRESP).
Edifício Lilly / Giancarlo Palanti
Implantado na Rua Barão de Tatuí, numa refinada relação a calçada, o edifício projetado pelo arquiteto milanês Giancarlo Palanti, que imigrou ao país em 1946, foi projetado em homenagem à família de sua noiva na época, Lilly Maggi. Anos depois, o relacionamento acabou e o arquiteto casou-se com Dirce Maria de Torres.
Com detalhes arquitetônicos destacados em amarelo, sem grades ou muros demarca com simpatia seu posicionamento perante a rua.
Edifício Juriti / João Kon
Com relevante produção residencial entre as décadas de 1960 e 1980, o arquiteto João Kon projetou uma série de edifícios em diversos bairros paulistanos, com destaque, Higienópolis e Jardins. Dentro do conjunto de sua obra, destaca-se o Edifício Juriti, projetado em 1961. Com a face lateral voltada para a rua e maior fachada com uma elegante composição de venezianas, detém uma bela marquise no térreo que é ladeado pelos jardins.
Edifício Abaeté / Abrahão Sanovicz
Com projeto datado de 1963 e finalizado em 1968, o edifico Abaeté sintetiza com louvor o uso racional dos materiais construtivos. Com 16 pavimentos, 32 apartamentos, sendo cada célula habitacional com 180 metros quadrados, utiliza elementos pré-fabricados em aço e quebra-sóis metálicos inspirados nas esculturas do artista franco-israelense Yaacov Agam.
Atualmente o edifício abriga um painel do artista Flávio Flaks no térreo, que substituiu a antiga obra em azulejaria original de Bramanti Buffoni.
Os desenhos viraram prints, e estão sendo vendidos através do instagram!