Qual o impacto da primeira Rua Completa em São Paulo?

O conceito de Ruas Completas ganhou visibilidade nos últimos anos e chegou ao Brasil trazendo a visão de que ruas devem ser planejadas, projetadas, operadas e mantidas para permitir deslocamentos seguros, convenientes e confortáveis para todos os usuários, independente de sua idade, habilidades ou meio de transporte.

Dentro do programa da Rede Nacional para a Mobilidade de Baixo Carbono São Paulo foi a primeira das onze cidades a receber um projeto de Rua Completa na Rua Joel Carlos Borges. A intervenção é fruto da parceria entre WRI Brasil e Frente Nacional de Prefeitos (FNP), com apoio do Instituto Clima e Sociedade (iCS), e teve início em 2014 com o lançamento do Concurso 3 Estações, organizado pelo WRI Brasil em parceria com o USP Cidades, que convidou arquitetos e urbanistas a desenvolverem ideias para qualificar o entorno de três estações de trem de São Paulo: Berrini, Vila Olímpia e Santo Amaro. A proposta vencedora para o entorno da Berrini foi desenvolvida pela Urb-i e parte dela foi implementada em 2017 como parte do programa, que visa disseminar boas práticas em mobilidade urbana.

A primeira fase do projeto de intervenção contemplou o redesenho da via para aumentar a segurança de quem caminha: o espaço destinado para a circulação de pedestres foi ampliado através da pintura de faixas verdes no leito carroçável e contou com a instalação de balizadores, sinalização e redução do limite máximo de velocidade dos veículos motorizados.

© WRI Brasil
© Cidade Ativa

Dado o caráter inédito da iniciativa de Rua Completa em São Paulo, foram coletados diversos dados do antes e depois da intervenção para avaliação do impacto das ações implementadas e definição de diretrizes de projeto para futuras ações na Rua Joel Carlos Borges e em outras vias a serem requalificadas pelo Brasil dentro do programa. Em abril de 2014, foi realizado um levantamento de dados base da Rua Joel Carlos Borges e da Rua Sansão Alves dos Santos (entorno próximo) e, após a implementação parcial do projeto em 2017, a Cidade Ativa foi convidada a elaborar uma nova pesquisa. Foram realizadas medições de fluxo de pedestres e veículos, mapeamento das atividades de permanência de pedestres (que revela como os usuários se apropriam do espaço) e avaliação de critérios sensoriais relativos à experiência do pedestre.

A comparação dos dados base com os atuais permite compreender, de maneira geral, se a intervenção teve algum impacto no fluxo de pedestres e veículos. Os gráficos com a comparação entre esses dois cenários revelam que não houveram grandes mudanças nos fluxos da Rua Joel Carlos Borges, mantendo-se uma proporção bem maior de pedestres em relação a veículos, cerca de 20 vezes.

© Cidade Ativa

Observando o espaço voltado ao pedestre, três aspectos foram avaliados: a largura das faixas livres com relação ao fluxo de pedestres, a presença de pedestres andando no asfalto e a relação entre fluxo de veículos motorizados e pedestres. Para isso, foi utilizada como parâmetro a Norma Técnica da CET (NT 075/81), que estabelece como adequado um fluxo de 500 pedestres por hora - ou 8 pedestres por minuto - por metro de largura da calçada em uma via comercial com atividades intensas e com paradas frequentes de pedestres.

A análise da largura das faixas livres revelou que a intervenção garantiu uma largura adequada aos pedestres na Rua Joel Carlos Borges, somando-se as calçadas existentes e as novas faixas verdes que ampliaram o espaço para o caminhar. Antes, o espaço destinado aos pedestres era de 29% da via, passando para 70% com a intervenção.

Por outro lado, quando analisada a presença de pedestres caminhando no asfalto e a relação entre fluxo de veículos e pedestres, verifica-se que, mesmo com uma largura adequada, ainda é alto o índice de pessoas caminhando no leito carroçável. Isso pode ser explicado pelo fato de o fluxo de veículos na Rua Joel Carlos Borges ser baixo quando comparado ao de pedestres, cerca de 25 vezes menor durante um dia típico de semana.

Ainda, é comum observar a ocupação das calçadas e faixas livres por usos temporários como comércio ambulante e pelo acúmulo de lixo, resultando em conflito com o fluxo de pedestres, que acabam preferindo caminhar no asfalto.

© Cidade Ativa

Outras atividades que merecem destaque são pessoas em pé, sentadas em locais improvisados ou, ainda, em banco ou similar (no caso, sentadas no ponto de táxi). Esse dado indica que não há mobiliário adequado para essas permanências, o que provavelmente desestimula o uso da via como espaço de estar. É válido ressaltar que o projeto de intervenção original considerava a instalação de bancos, mas que não foram contemplados nessa fase.

No caso da Rua Joel Carlos Borges, as análises de fluxo e das condições da infraestrutura revelaram que a intervenção garantiu um espaço adequado à passagem de pedestres na via, diferentemente do cenário em 2014. Ainda assim, é alto o número de pessoas caminhando no leito carroçável, junto aos veículos motorizados, indicando que a vocação da via é, provavelmente, de ser voltada exclusivamente a pedestres e veículos não motorizados, permitindo o fluxo restrito de veículos motorizados para acesso aos edifícios ao longo de sua extensão.

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Sobre este autor
Cita: Cidade Ativa. "Qual o impacto da primeira Rua Completa em São Paulo?" 18 Jun 2018. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/896600/qual-o-impacto-da-primeira-rua-completa-em-sao-paulo> ISSN 0719-8906

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