O programa das Case Study Houses, organizado pela revista Arts & Architecture, supostamente estava voltado para o desenvolvimento de projetos residenciais replicáveis e acessíveis para a sociedade americana do pós-guerra - casas elegantes porém modestas para famílias jovens e de orçamento limitado. Mas de repente, apareceu o projeto para a casa #17 (2).
Para ser bem honesto, diferentemente da maioria, esta casa foi projetada para clientes reais, com requisitos específicos e ambiciosos. Os Hoffman tinham quatro filhos, uma equipe de domésticas e uma ampla coleção de arte. Então, este projeto não poderia ser apenas mais uma casinha suburbana de três quartos.
Muito pelo contrário, este projeto materializou-se em uma luxuosa residência de cinco quartos, com escritório, sala de estar, sala de jantar e sala para às crianças - para não mencionar a piscina, a quadra de tênis, o playground, o quarto de empregada e a oficina além de eletrodomésticos de última geração. Embora os quartos fossem bastante modestos em área e de estilo tão simples quanto qualquer outro design minimalista de meados do século XX, a escala do projeto era algo até então inédito no programa das Case Study Houses.
Craig Ellwood—um homem conhecido por seu estilo garboso, que escreveu em 1976 que o propósito da arquitetura era “enriquecer a alegria e os dramas da vida” - a qual ele deve ter saboreado oportunamente ao longo de sua carreira. Até mesmo os editores da revista ficaram extremamente empolgados, dedicando 16 páginas inteiras a essa "ótima casa e esteticamente chamativa" detendo-se em descrever minuciosamente as especificações dos novos aparelhos e o grande número de closets.
Por um lado, pelo menos, essa casa estava mais de acordo com a situação financeira do proprietário do que muitos dos outros projetos das Case Study Houses. O terreno era plano e nem um pouco excepcional, sem nenhuma vista estonteante que pudesse distrair ou compensar os espaços interiores modestos. E por isso mesmo, a casa se desenvolve ao redor de um impressionante pátio com piscina, encorajando os moradores a admirar e celebrar sua própria propriedade, em vez de uma paisagem abstrata e distante, transformando o espaço de convívio circunscrito pela casa em algo parecido com um teatro; ou, dada a estética neoclássica, um templo.
Enquanto o programa estava desenvolvendo seu próprio vocabulário arquitetônico - janelas de piso ao teto, horizontalidade, estruturas de aço, continuidade espacial entre interior e exterior - estava criando também um ponto de vista um pouco mais hedonista, o que certamente confirmava a meta do programa em re-imaginar os espaços para a vida moderna, intenção que se traduziu através dos inúmeros projetos subseqüentes. Particularmente a cozinha, com sua ilha em estilo de bar e armários elegantes e sem puxadores, poderia figurar em qualquer projeto de arquitetura contemporânea sem destoar nem menos uma vírgula.
O desenho do mobiliário com suas linhas retas acentuadas, soltos do chão para contribuir com o sentido de horizontalidade e integração dos espaços, assim como a sua paleta de cores contida estava à serviço de realçar as obras de arte exibidas nas paredes da galeria (outro toque muito atual!).
Entretanto, os verdadeiros clientes não estavam totalmente satisfeitos com o projeto; a estética da casa manteve Ellwood totalmente satisfeito com sua própria criação mas por outro lado, os Hoffman acabaram vendendo a propriedade apenas seis anos depois de construí-la. O novo dono, um decorador extravagante, transformou este espaço minimalista em um verdadeiro kitsch hollywoodiano. É quase impossível entender os motivos que o levaram a pintar a alvenaria de rosa e maquiar a estrutura de aço com adornos neoclássicos pastiche, mas talvez a primeira impressão daquele templo pagão fosse poderosa demais para ser ignorada. Percorrer os espaços desta casa na versão em madeira criada pela Archilogic poderia nos inspirar a imaginar um projeto de reforma um pouco menos grosseiro?
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