Muitas e variadas são as lições que podem ser coletadas ao visitar ou estudar uma obra de arquitetura: se prestarmos atenção à distribuição dos programas, uniões construtivas, soluções materiais, relações com o contexto, implantação ou qualquer outro assunto, estes virão a materializarem-se como claras ideias que posteriormente podemos adotar em nossos projetos.
Diante disso e entendendo que existem maneiras variadas de abordar um problema arquitetônico, listamos a seguir uma lista de diversas estratégias projetuais que definem certas espacialidades em clássicos da arquitetura residencial chilena, realizando um agrupamento de algumas das operações mais significativas em cada caso.
Relação da obra com seu contexto
Conjunto residencial Torres de Tajamar
Arquitetos: Luis Prieto Vial, B.V.C.H. (Carlos Bresciani, Héctor Valdés, Fernando Castillo e Carlos Huidobro)
Ano: 1967
Localização: Av. Providencia 1100, Santiago, Região Metropolitana
Posicionando-se como um objeto escultural, o conjunto de torres é incorporado em harmonia a paisagem de Santiago. Se falamos do contexto, o projeto se integra ao Parque Balmaceda e ao Rio Mapocho, incorporando em sua localização as sutis diagonais do tecido urbano, para o qual define uma plataforma pública e permeável, que se abre ao exterior, estabelecendo uma relação de respeito ao parque. Por sua vez, num contexto distante, a escolha da torre como tipologia permite manter certas transparências, preservando a constante visão da Cordilheira.
Edificio Copacabana
Arquitetos: Larraín + Larraín (Osvaldo Larraín, Jaime Larraín, Julián Larraín, Jaime Sanfuentes)
Ano: 1963
Localização: La Marina, Viña del Mar, Região de Valparaíso
O edifício entende-se na perspectiva, enquanto uma ligeira inclinação define sua distribuição interna e o caráter ao trabalho. Localizado na zona costeira, a fachada principal é projetada de maneira escalonada, privilegiando o maior número de vistas, no qual se traduz a orientação diagonal das varandas em direção ao mar. Esta sutil orientação em relação ao entorno redireciona a visão para a paisagem litorânea, voltada para a praia e para a cidade. Em relação ao programa, gera uma espessura capaz de articular um espaço intermediário na transferência entre interior e exterior ou espaço público e privado.
Conjunto habitacional Quebrada Márquez
Arquitetos: Pedro Goldsack
Ano: 1949
Localização: Márquez 5, Valparaíso, Región de Valparaíso
Dando continuidade ao desfiladeiro no qual está localizado, esse conjunto compreendido por uma série de blocos longitudinais enquadra o visitante em um espaço público comum, definido pelo espaço intersticial entre os blocos. Desta maneira, tentando imitar as decisões definidas pela mãe da natureza, cada peça é precisamente disposta sobre o território, escalonando em corte a inclinação da colina. Desta forma, se estabelece uma junção traseira com as colinas de Arrayán e Santo Domingo, mantendo a continuidade do morro. É assim que o edifício se torna parte da gruta, para o qual também não são definidas fronteiras, conformando passeios e escalas como parte do espaço público.
Distribuição de tipologias habitacionais e densificação
Conjunto habitacional Remodelación República
Arquitetos: Vicente Bruna, Germán Wijnant, Victor Calvo, Jaime Perelman, Orlando Sepúlveda
Ano: 1967
Localização: República, Camino a Rinconada, Maipú, Santiago, região Metropolitana
Em seu corte, o edifício surge a partir do encaixe e empilhamento de distintas tipologias. Esta estratégia permite gerar residências com dupla orientação, com vistas ao leste e oeste, abrindo-se para cada um dos lados com varandas e janelas que, por sua vez, otimiza os custos de construção, junto a redução de áreas secundárias e complementares para a habitação. Para conseguir isso, uma unidade modular é definida, composta por dois pares de apartamentos triplex achatados, sendo o apartamento de um pavimento na frente e um corredor de circulação geral ao centro, que por sua sobreposição compõe o bloco.
Villa San Luis / CORMU
Arquitetos: CORMU (Corporación del Mejoramiento Urbano)
Ano: 1972
Localização: Manquehue com Av. Presidente Riesco, Santiago, Região Metropolitana
Dentro do leque de ideias desenvolvidas para este projeto, destaca-se aquela desenvolvida pelo arquiteto Arturo Baeza e pelo urbanista Miguel Eyquem, cuja proposta desenvolve um edifício escalonado. Nesta proposta, o bloco é composto de casas duplex, que são empilhadas em dimensões distintas de acordo com o nível, gerando uma série de terraços escalonados. Estes, que ao mesmo tempo constituem um tipo de cobertura, são pensados como espaço de domínio público, propondo uma continuidade ao Parque Araucano, ao mesmo tempo em que obedecem a um nível e potencializam a vista à cordilheira.
Conjunto habitacional Los Carpinteros
Arquitetos: Hernán Flaño, Max Nuñez Danus, José Tuca García
Ano: 1974
Localização: Calle Charles Hamilton, Santiago, Región Metropolitana
Buscando um princípio de densidade e com a intenção de criar um espaço urbano, arquitetura funcional e de baixa escala, este conjunto é baseado em um módulo composto por três apartamentos duplex, encaixados conjuntamente de modo a gerar alta densidade em baixa altura. A singularidade é baseada na distribuição interior, que ao mesmo tempo esta estratégia de aplicação consegue especificar onde em cada unidade habitacional é concedido o acesso direto à rua - alguns ao nível da rua e outros através de uma escada - bem como como um espaço privado ao ar livre - composto por um pátio para habitação no primeiro pavimento, e terraços aos andares superiores.
Rotas e pátios para pedestres
Unidad Vecinal Portales
Arquitetos: B.V.C.H. (Carlos Bresciani, Héctor Valdés, Fernando Castillo e Carlos Huidobro)
Ano: 1954 a 1968
Localização: Estación Central, Santiago, Região Metropolitana
A ocupação do espaço verde é privilegiada como um bem social que se contrapõe à ocupação privada do lote. Para isso, o conjunto conta com uma série de blocos habitacionais conformado em torno de um sistema de praças e jardins, que se projetam desde o início como um espaço habitacional. A ideia é manter o maior número de áreas verdes e consolidar o espaço exterior como um parque público, capaz de caracterizar a vida da vizinhança. Pensado como um espaço para a comunidade potencializado a partir das relações diretas estabelecidas com as residências: por um lado, estes pátios se constituem como uma extensão do departamento do segundo pavimento, que por sua vez, definem uma relação horizontal com os terraços dos blocos.
Conjunto Habitacional Matta Viel
Arquitetos: B.V.C.H. (Carlos Bresciani, Héctor Valdés, Fernando Castillo e Carlos Huidobro)
Ano: 1954 a 1955
Localização: Manzana inscrita por Av. Matta, Viel, San Ignacio e Santiaguillo. Santiago, Região Metropolitana
O conjunto formado por quatro blocos dispostos em forma de pente (um ao longo de todo o comprimento e três menores perpendiculares a este), contendo uma série de pátios contidos em sua composição. É assim definido, um vazio de caráter público, diferenciado pelo desenvolvimento de uma sucessão de pátios atravessados por um circuito de circulações cobertas, que delimitam a via de acesso a cada bloco, operando como um lugar de passeio, constituindo, por sua vez, um espaço público no interior do conjunto. Ao mesmo tempo, o corredor como lugar de passeio, define um ritmo caracterizado e marcado por estas circulações cobertas, que são interceptados com os início do acesso a cada bloco.