A utilização de concreto na construção é provavelmente uma das maiores tendências da arquitetura do século XX. O concreto é composto por uma combinação de materiais misturada com água, que quando solidifica obtém a forma do recipiente onde estava depositado. A reutilização de moldes é um método usado para replicar e controlar a produção de peças ou de edifícios em concreto. Arquitetos e designers têm vindo a usar e criar diferentes tipos de moldes e de técnicas de concretagem para levar até ao limite as potencialidades deste material.
Em 1899, Thomas Alva Edison fundou uma empresa de concreto que produzia cimento Portland de alta qualidade. Procurou várias formas de utilizar concreto para produzir diferentes objetos: geladeiras, pianos e, especialmente, casas inteiras. Na década de 1910, ele conseguiu produzir alguns protótipos de casas nos quais este material foi executado numa concretagem única. No entanto, a montagem dos respetivos moldes era demasiado complexa, implicando uma quantidade brutal de peças (superior a 2300 unidades). Consequentemente, foram poucas as casas construídas através deste método. Edison procurava um sistema construtivo que pudesse ser facilmente replicado para atingir um modelo produção em massa e, com isso, vender mais concreto. O seu “fracasso” não se deveu ao material, mas sim ao seu sistema construtivo.
Durante os anos 60, 70 e 80, a União Soviética experimentou um desenvolvimento brutal em termos urbanísticos. Cidades e edifícios inteiros eram desenhados em escritórios centrais e construídos em todo o território soviético. Desenvolveram-se painéis estandardizados de concreto que podiam ser dispostos de diferentes formas para construir edifícios de vários pisos. Podemos encontrar exemplos em vários pontos da Europa (como o Karl Marx Straße em Magdeburg e Berlin). A cidade de Tashkent pode destacar-se como o melhor exemplo para observar os diferentes tipos e possíveis combinações destes painéis de concreto, incluindo nalguns casos padrões decorativos.
Também durante os anos 60, os arquitetos cubanos Mercedes Álvarez e Hugo D’acosta desenharam alguns protótipos de unidades habitacionais com módulos de paredes exteriores destacáveis, nos quais o mobiliário e os componentes das janelas estavam integrados nos próprios módulos de concreto. Estes protótipos apresentavam deficiências na drenagem da água da chuva e a sua forma dificilmente se enquadrava no contexto urbano cubano. Como resposta a estes problemas, o governo cubano optou pela utilização de outro sistema construtivo de painéis de concreto, semelhante ao sistema “Multiflex”, numa abordagem mais próxima do caso soviético. Estes painéis revelaram-se mais práticos e mais eficazes para responder às necessidades daquele contexto.
Até 1967, o arquiteto israelo-canadiano Moshe Safdie concebeu, com sucesso, módulos de concreto tridimensionais. “Habitat 67” é um dos projetos de culto mais aclamados no mundo da Arquitetura, provavelmente graças à sua estética monocromática e à combinação complexa de módulos. Este projeto baseia-se numa lógica de concepção de modularidade que funciona em si mesmo como um manifesto arquitetônico. Safdie abriu a porta para o design modular de concreto e fez com que os sistemas de painel fossem vistos como algo ultrapassado.
Atualmente, o escritório de arquitetura SUMMARY, em Portugal, tira partido das vantagens dos vulgares sistemas de construção de infraestruturas urbanas (manilhas/tubos de esgoto) para desenvolver edifícios que respondam às necessidades sociais e económicas contemporâneas, a partir de uma solução arquitetônica. Os seus módulos – Gomos System – são simples anéis de concreto armado com isolamento e instalações elétricas e hidráulicas integradas. Os módulos são produzidos em fábrica por uma empresa multinacional, que se dedica maioritariamente a infraestruturas urbanas, e são depois facilmente montados in-situ.
Tradicionalmente, o concreto tem vindo a ser moldado com recurso a madeira e outros materiais rígidos. Estudantes da Edinburgh School of Architecture and Landscape Architecture, orientados por Mark West e Remo Pedreschi, estão a explorar processos de concretagem usando materiais flexíveis. Usam tecidos e plásticos elásticos para permitir que o concreto dê forma ao seu próprio molde, originando configurações imprevisíveis, jogando com o conceito de controle e a perda deste. Este tipo de concretagem com materiais flexíveis origina formas orgânicas, em que todas as peças ficam diferentes, mesmo que tenham sido produzidas de forma homogênea. Este processo não deixa de ser pré-fabricação, ainda que produzindo resultados flexíveis e inesperados, enfatizando as caraterísticas físicas da concretagem.
O concreto continua a ser um material de construção elementar; e mesmo considerando que a sua materialidade se mantém constante ao longo do tempo, os seus limites (de forma e de uso) estão muito longe de terem sido completamente explorados. Aliás, a história tem vindo a demonstrar que a construção neste material é maioritariamente determinada pela sua modelação, pelo que as técnicas de concretagem desempenham um papel tão relevante como o próprio concreto.