Em geral, as publicações e as discussões de arquitetura radicam em análises da forma, sejam estas janelas, portas, interiores, exteriores ou projetos completos; em suma, a análise dos volumes arquitetônicos que conformam a obra propriamente dita.
O desenvolvimento arquitetônico da obra é uma leitura, uma interpretação da realidade atual. É a "atualidade" versus o talento próprio do arquiteto-artista que, finalmente, se expressa na forma de um projeto arquitetônico por materializar-se, é a obra de arquitetura proposta e, em muitos casos, realizada. No entanto, a teorização ou reflexão abstrata sobre "campos relevantes para a arquitetura" propõe novas oportunidades de abertura no exercício da profissão e do ofício, que permitem novas formas de projetar tanto no imediato quanto no futuro.
Assim, a teorização se abre, sem dúvidas, ao desconhecido e contribui à relação do arquiteto com o mundo que o rodeia. A arquitetura tem uma relação direta com a condição humana, dá forma, materializa-a e, nesse sentido, retém o aqui e o agora da própria condição humana. É entendida pela permanente mudança que expressa o indivíduo e a humanidade em um ir adiante.
Distinto de sua natureza biológica, a condição humana é poética, é uma ousadia para o futuro como tal. A teorização em arquitetura abre espaços para a "ousadia" do arquiteto que finalmente permite ao mundo acompanhar sua evolução sempre constante, declarando de antemão o mundo que quer construir, o planeta que imagina e que pode ser possível. É nesse sentido que digo poético.
Então, o que esperar da condição humana? Desde um enfoque sobretudo ocidental, hoje são colocadas situações únicas que nunca foram consideradas desde o surgimento do Homem. Para teorizar, cito algumas:
A inteligência artificial e sua relação com um dispositivo ativo
O senso de onipresença e a informação - que sempre estiveram relacionados aos temas divinos (o Deus onipresente) - é um novo sentido somado aos cinco biológicos próprios: isso permite uma nova relação do homem com a cidade e os edifícios, enquanto a inteligência e a inteligência das coisas (internet das coisas, IoT) irão revolucionar o mundo, mudando-o para sempre.
A individualização da sociedade e a longevidade
Por um lado, há indivíduos mais autônomos que abordam ideais cada vez mais pessoais e individuais (millennials), ancestrais, da confiança no outro, como caçadores e coletores.Por outro lado, pessoas mais longevas e ativas com expectativas de mais de 120 anos de vida (vitallians); para o qual a sociedade não está preparada nem nas aposentadorias ou na qualidade das cidades.
A relação com o planeta (seja qual for o planeta)
A humanidade percebeu sua fragilidade e tomou consciência dos danos irreversíveis que causamos no passado e no presente. A teorização do trabalho do arquiteto, somente ante estes três pontos, gerará aberturas de estrutura no mundo. O arquiteto ainda é aquele que "dá abrigo ao homem", portanto ele deve antecipar a leitura para criar o futuro.
A relação com o planeta, a natureza e a condição humana
Seja como for, a condição do planeta (o pachamama para alguns) está, como nunca, em jogo: pelo menos na consciência humana, a "Natureza" da Terra, aquela que é sua, foi eventualmente relegada. Basta ver o que é o Google Earth, o Google Maps ou outros aplicativos. Por outro lado, a poluição e o aquecimento global estão obrigando os homens a repensar.
A condição dos arquitetos, como nossa condição humana que nos une em nosso ofício, obriga-nos a teorizar sobre essas relações, a fim de ter uma proposta, uma hipótese anterior à evolução real dos fatos, a teorização da especulação do pensamento nos permite influenciar ou inserir novos paradigmas.
Colocar em jogo a teorização poética é o "verdadeiro desafio", o outro temos conseguido.
Gonzalo Martínez de Urquidi é arquiteto da Universidade Católica de Valparaíso do Chile (UCV) e mestre em Economia Urbana na Universidade Mayor.