O texto abaixo apresenta um breve resumo acerca das edições passadas da Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, aproveitando a mesma data do anúncio da equipe curatorial da XII edição. Se estiver buscando uma fonte de pesquisa sobre as dez primeiras edições do evento, sugerimos o livro Arquitetura em Retrospectiva: 10 Bienais de São Paulo, de Elisabete França, que apresenta um excelente panorama dos caminhos trilhados pelas exposições realizadas e mostra como as bienais de arquitetura se tornaram o espaço preferencial de divulgação da produção brasileira, passando a integrar o calendário oficial de eventos da cidade de São Paulo.
“Progresso” é certamente uma palavra que simboliza o que a década de 1940 representou à cidade de São Paulo. Isso porque, desenvolvendo-se no campo das Artes e Arquitetura, é neste momento que novos marcos são materializados a partir da fusão destes dois campos, como é o caso do Museu de Arte Moderna de São Paulo – espaço inaugurado em 1948 que serviu como locação ao esplendor do que se destacava como moderno.
Nesse momento, além do intrínseco relacionamento de influentes arquitetos às artes, a nova sede do MAM passa receber uma gama de arquitetos como sócios que, posteriormente, contribuiriam às Exposições Internacionais de Arquitetura ocorridas nas Bienais Internacionais de São Paulo.
A partir disso, três anos após a inauguração do museu de Arte Moderna paulista, foi dado início à primeira edição da Bienal Internacional de São Paulo, organizada pelo MAM em um pavilhão provisório no Trianon, na Avenida Paulista. As obras do Pavilhão Ciccillo Matarazzo no Parque Ibirapuera, que configura a mostra até os dias de hoje desde sua quarta edição, viria a ser concluído somente em 1957.
Junto às artes plásticas e visuais, a arquitetura era parceira na edição da Bienal, de modo que o evento atuava como importante mecanismo na divulgação da produção arquitetônica moderna internacional. No entanto, a partir de sua 12ª edição em 1973, houve o rompimento entre a Bienal de Arte e Arquitetura, dando origem à Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo. Organizada pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) e pela Fundação Bienal de São Paulo, a BIA como é popularmente chamada, tinha como objetivo seguir a configuração das outras bienais internacionais de arquitetura, estabelecendo-se como um fórum de discussão.
Em 2018 a Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo completa 75 anos desde sua primeira edição e compilamos abaixo uma cronologia acerca das 12 edições do evento:
1ª Bienal – 1973
Local: Pavilhão Armando de Arruda Pereira
Curadoria: Oswaldo Corrêa Gonçalves
Realizada pela primeira vez independente a Bienal de Artes, ambas ocuparam o mesmo espaço. Sob o tema O ambiente que o homem organiza: suas conquistas e dificuldades consolidou-se a partir da estrutura geral das Exposições Internacionais de Arquitetura (EIA) na busca pela reunião da produção arquitetônica a nível mundial, o inter-relacionamento do objeto construído ao espaço, a representações dos arquitetos nacionais e internacionais, concurso e debates, consolidando-se como um “espaço de reflexão sobre a produção arquitetônica e diálogo entre arquitetos e estudantes, recuperando, em parte, a liberdade de expressão e a discussão que o regime político vigente na época havia cerceado”. [1]
2ª Bienal – 1993
Local: Pavilhão da Bienal
Curadoria: Aline Sultani, Carlos Verna, Edson Elito, Elisabete França, Júlio Abe Wakahara, Miguel Alves Pereira, Pedro Cury e Sophia da Silva Telles.
Num intervalo de 20 anos, a segunda edição do evento viria ocorrer somente em 1993 em prol das debilidades no quadro politico e financeiro do país durante este período. Desde então, vem sendo realizada de modo relativamente regular num intervalo de dois anos, sempre nos anos impares, com exceção de 1995.
A partir da temática Arquitetura, Cidade e Desenvolvimento, reflexo da II Rio+20, definida como a mais importante conferência mundial sobre meio ambiente, realizada em 1992 na cidade do Rio de Janeiro, que tratou das questões ligadas à proteção dos recursos naturais, esta bienal buscou tratar o relacionamento entre cidade e natureza. Evidenciada por sua pluralidade, destacou-se entre os projetos expostos, as propostas apresentadas para as várzeas dos rios Tamanduateí, Tietê e Pinheiros; ampliação da Avenida Faria Lima; e Eixo Histórico La Défense de Paris. Posto isso, a Bienal “configurou-se como espaço de leitura crítica das cidades e de análise de intervenções realizadas por projetos urbanos” [2].
3ª Bienal – 1997
Local: Pavilhão da Bienal
Curadoria: Lucio Gomes Machado e Luiz Fisberg.
Marcada pela exposição com enfoque na produção arquitetônica nacional e movimentos de destaque na época, delineou-se em quatro frentes: “os processos de urbanização; os edifícios e sua relação com o meio natural e urbano; Patrimônio Ambiental, Artístico e Histórico; e por fim, desenho industrial e comunicação visual”. [3] Vale destacar que esta ainda incentivou a participação de jovens arquitetos.
4ª Bienal – 1999
Local: Pavilhão da Bienal
Curadoria: Lucio Gomes Machado e Luiz Fisberg.
Sob o tema Arquitetura e Cidadania, a quarta edição da mostra propôs a reflexão acerca das temáticas urbanas contemporâneas, tais como a qualidade projetual, construção dos espaços públicos e os encadeamentos entre os pedestres e o espaço. Coerente a ideia de que os debates necessitavam transbordar as camadas profissionais e atingir o público em geral – não especializado em arquitetura –, uma vez que a arquitetura é uma ferramenta de bem publico e carece da participação coletiva, a organização propôs uma série de atividades, talks e lançamento de livros em diversos pontos da cidade, expandindo-se pelo território da capital.
5ª Bienal – 2003
Local: Pavilhão da Bienal
Curadoria: Pedro Cury, Ricardo Ohtake e Jacobo Cripelli Visconti (adjunto).
A quinta edição da Bienal Internacional de Arquitetura foi configurada a partir do tema Metrópole, focando-se na exposição de projetos destinados a sete cidades em destaque – Beijing, Johannesburgo, Tóquio, Berlim, Londres, Nova Iorque e São Paulo – e pautada acerca de discussões ligadas a “compreensão de mecanismos que impulsionam o desenvolvimento das metrópoles e o pensamento acerca da qualidade de vida nestas [...]” onde se buscou “entendendo o arquiteto como agente de transformação, discutir o obstáculo conectivo entre problemas do cotidiano de grandes aglomerados urbanos e utopias urbanísticas, além de configurar-se como impulso para pensar soluções a estas circunstâncias”. [4]
6ª Bienal – 2005
Local: Pavilhão da Bienal
Curadoria: Gilberto Belleza e Pedro Cury.
Sob a temática Viver na cidade, esta edição foi concebida aos desdobramentos da edição anterior, manifestando-se como continuação da edição realizada em 2003. A partir disso, “se no primeiro momento a discussão sobre a metrópole se dava sob uma perspectiva generalizada, agora a reflexão se voltava aos conflitos e dinâmicas do morar nas cidades contemporâneas”. [5] Vale salientar que as discussões se aprofundaram de maneira multidisciplinar, para além do campo da arquitetura, sobressaindo-se também no cenário politico, econômico, cultural e artístico.
7ª Bienal – 2007
Local: Pavilhão da Bienal
Curadoria: Arnaldo Martino, Gilberto Belleza e José Magalhães Junior.
Pensada a partir do desenrolar das edições anteriores, a sétima edição da BIA foi pautada a partir da Cidade como enfoque central, propondo debates em torno do diálogo existente entre pedestres e o objeto materializado mediante sua inserção no tecido urbano. Desta forma, discorre dentro de uma discussão sobre o espaço público e privado dentro da produção arquitetônica contemporânea.
A edição ainda contou com exposição especial dedicada à produção do arquiteto Oscar Niemeyer, homenageando os edifícios do Parque Ibirapuera, que no período, após a conclusão do edifício do auditório, desencadeava calorosas discussões acerca da alteração da marquise.
8ª Bienal – 2009
Local: Pavilhão da Bienal
Curadoria: Bruno Padovano.
Com a temática ECOS, foi definida a partir dos eixos que nortearam a edição: Espacialidade, Conectividade, Originalidade e Sustentabilidade. Dois anos antes da realização desta, o país havia sido escolhido como sede da Copa do Mundo de 2014, e detinha o poder de possível transformação a partir da requalificação das áreas degradadas das cidades-sede. A partir desse pressuposto, “discutiu-se então como megaeventos poderiam trazer investimentos e implantação de infraestruturas, dentre outras intervenções urbanas de qualificação do espaço público. Além disso, havia a demanda e responsabilidade da construção das arenas, atendendo a normas e qualidade em níveis internacionais”. [6]
9ª Bienal – 2011
Local: Pavilhão Oca
Curadoria: Valter Caldana
Com a pretensão de atrair a sociedade como público-alvo e não apenas arquitetos e profissionais ligados ao nicho, a mostra apropriou-se do território da cidade como campo expositivo. O foco nesta também se alterna, e se antes o mesmo era a cidade e seus desdobramentos, nesta edição, o foco foi consolidado em torno do usuário, tendo “a arquitetura como ferramenta de cidadania” [7].
Então, “buscou-se elucidar a dissociabilidade existente entre a Arquitetura e Urbanismo e o cotidiano e sociedade, como um dos agentes definidores de sua qualidade”. [8]
Ainda vale salientar que nesta edição foi realizada uma gama de eventos pela cidade durante todo seu período, tais como Pavilhão da OCA, CCSP, SESC e Praça Victor Civita, expandindo as redes de transmissão e debates.
10ª Bienal – 2013
Local: Lugares diversos
Curadoria: Guilherme Wisnik, Ana Luiza Nobre e Ligia Nobre.
Se propondo a revisar as intenções da BIA, sua décima edição instituiu a cidade enquanto espaço, impondo-a como epicentro dos debates, na busca por uma maneira aguçada de refletir as transformações urbanas e seus desdobramentos, tal como a as dinâmicas existentes nas construções e reconstruções da cidade de São Paulo.
Assim como a proposta da bienal anterior, buscou atuar como uma rede, sendo realizada em locais variados, permitindo melhor locomoção e número de atividades.
11ª Bienal – 2017
Local: Lugares diversos
Curadoria: Marcos Rosa, José Armênio de Brito Cruz, André Goldman, Bruna Montuori e Catherine Otondo.
Debruçada sobre o termo Em projeto, a décima primeira edição da Bienal Internacional de Arquitetura foi estabelecida como “plataforma produtiva de conhecimento, propondo práticas transformadoras na cidade” que “não concentrou-se somente no centro expandido, propondo estudos e vivências também nas bordas da cidade – sob a perspectiva da cidade para todos”. [9] As propostas e projetos apresentados propuseram ações participativas dentro da diversidade de agentes presentes a mesma.
Notas
[1] IAB.
[2] Idem.
[2] Idem.
[3] Idem.
[4] Idem.
[5] Idem.
[6] Idem.
[7] Idem.
[8] Idem.
[9] Idem.
Referências Bibliográficas
FRANÇA, Elisabete. Arquitetura em Retrospectiva: 10 Bienais de São Paulo. São Paulo: KPMO Cultura e Arte, 2017
FRANÇA, Elisabete. A origem e a trajetória das Bienais de Arquitetura de São Paulo. Disponível em: <http://www.esquina.net.br/2017/11/04/a-origem-e-a-trajetoria-das-bienais-de-arquitetura-de-sao-paulo/>. Acesso em 27 ago 2018.
CALDANA, Valter. Curador XIX Bienal. Apresentação Comercial nonaBia. São Paulo, 2010.
Nota do editor: Este artigo foi originalmente publicado citando apenas a fonte secundária presente no site do IABSP. Este material apóia-se, sobretudo, na pesquisa desenvolvida por Elisabete França, no livro Arquitetura em Retrospectiva: 10 Bienais de São Paulo, além da publicação Apresentação Comercial nonaBia, de Valter Caldana. O ArchDaily Brasil pede desculpas pelo erro e pelos inconvenientes causados.