Quando se fala em “cidade das bicicletas”, certamente Paris não é a primeira cidade a vir à mente. Apesar dos esforços constantes em se tornar uma cidade mais amigável para as bicicletas, a capital francesa é geralmente lembrada por seu sistema de metrô eficiente e suas ruas caminháveis. Desde 2015, Paris encara seu mais recente desafio: se tornar a “capital do ciclismo urbano” até o ano de 2020.
O principal argumento da prefeitura é, novamente, os altíssimos níveis de poluição constatados na metrópole francesa. Ainda que a cidade invista fortemente no setor de transporte coletivo e tenha instaurado um eficiente sistema de bicicletas compartilhadas, apenas 5% dos deslocamentos são realizados de bicicleta, e as ruas de Paris ainda apresentam uma quantidade elevada de carros. Segundo Anne Hidalgo, prefeita de Paris, “os picos de poluição nos provam que os carros não podem ter um lugar de destaque na metrópole mundial que é Paris”.
Com o objetivo de triplicar o número de ciclistas na capital, a prefeitura lançou o ambicioso plano cicloviário nomeado “Plan Vélo 2015-2020”, que prevê a construção de uma “rede expressa para bicicletas” ou, em francês, REVe, Réseau Express Vélo. A ideia é que a rede seja constituída de vias de duplo sentido, com proteção exclusiva e com trajetos contínuos, sendo implementada nas principais avenidas da capital.
Como era de se esperar, a proposta não agradou a todos os habitantes da capital. A primeira via expressa para bicicletas foi aberta no final de 2017, na região oeste de Paris. O trecho da avenida George Pompidou, que liga Quay d’Issy até a torre Eiffel, atualmente conta com apenas uma faixa destinada para o transporte motorizado, e os motoristas que circulam diariamente reclamam que o trânsito piorou. Em contrapartida, os ciclistas da região hoje contam com uma via separada e protegida, facilitando o acesso à capital para quem mora na zona oeste e arredores.
As transformações previstas são grandes e, atualmente, a Rue de Rivoli, uma das principais avenidas da cidade, onde está sendo realizada a construção da via expressa, está fechada para circulação. Quando concluída, a ciclovia ligará a Place de la Concorde até a Bastilha, garantindo a segurança dos ciclistas e restringindo o espaço para carros na região central da cidade. É importante ressaltar que estes investimentos não são isolados: além da meta de implementar 1300 quilômetros de rede cicloviária até o ano de 2020 (hoje são 700 km), a prefeitura investiu na renovação da frota das bicicletas compartilhadas Vélib’, que agora contam com a opção de aluguel de bicicletas elétricas, além da previsão de criar dez mil vagas de estacionamento de bicicletas, para complementar a rede implementada. Ainda, a prefeitura possui um programa de incentivo fiscal para a compra de bicicletas para quem optar por abandonar de vez o uso do carro.
O caminho ainda é longo, e os desafios são muitos, mas a capital francesa tem confirmado seu compromisso global de reduzir os níveis de poluição. Sem dúvida, a cidade também não está medindo esforços para se tornar referência em transporte ativo, restringindo cada vez mais a circulação de automóveis e investindo em infraestrutura para ciclistas e pedestres. Paris tem um passado impressionante, se tornando uma referência em termos de planejamento urbano. Agora, a cidade vislumbra um futuro igualmente admirável: ser um modelo de metrópole mundial mais humana, pensada para pessoas e não os para carros.
Via TheCityFix Brasil.