No constante vai e vem de quem passa pela cidade de São Paulo, é possível que você já tenha percebido o típico grafismo que se repete em diversas calçadas. A clássica padronagem por trás dos módulos que conformam graficamente o mapa do estado de São Paulo foi criado em 1966 pela arquiteta e artista Mirthes dos Santos Pinto. Tudo começou quando o antigo prefeito, João Vicente Faria Lima, lançou na década de 1960 um concurso para o desenho do novo calçamento da cidade. Mirthes, que na época trabalhava como desenhista da Secretaria de Obras da Prefeitura de São Paulo, criou um mapa estilizado do Estado de São Paulo, a partir de módulos quadrados em peças geométricas brancas e pretas, que se alternavam, ora em cor sólida, ora pintada com a variação pela diagonal da peça, criando um padrão.
Segundo a artista, em entrevista audiovisual concedida ao jornal Folha de S.Paulo em 2015, tudo aconteceu de maneira espontânea: “Eu comecei a rabiscar e surgiu o mapa. Foi sem querer! Rabisquei um desenho lá e larguei na gaveta. Meu chefe na época abriu a gaveta, pedindo um lápis e viu o desenho, comentando ‘Nossa, que legal, de quem é?’. Falei ‘eu que rabisquei’ e ele então disse, ‘passa no vegetal que você vai concorrer!’”. [1] Na época, ainda descrente com a proposta de linhas puras e incerta quanto ao potencial artístico do trabalho, concretizou os desenhos e enviou-os à competição.
Na comissão julgadora de 17 pessoas, a proposta de linhas simples, modular e original consagrou-se como vencedora.
Após o concurso, por motivos legais a artista realizou a patente da criação em desenho industrial, sendo informada que teria direito a uma “porcentagem por calçada implantada”, com exceção a canteiros centrais. Infelizmente, mesmo com a execução de centenas de metros quadrados por toda a cidade de São Paulo ao longo dos mais de 50 anos, a autora não recebeu nenhum valor: “Eu acho que merecia. Afinal de contas, tentei embelezar São Paulo”. [2]
Apesar da lamentável situação, considera-se homenageada ao ver proprietários debruçando-se sobre sua criação ao utilizá-la como calçamento, mas acredita que produtos, marcas e publicações envolvendo a criação, deveriam citá-la enquanto criadora.
A padronagem apresenta duas versões materiais, em lajota e pedra portuguesa seguindo o mesmo padrão de cores. Mirthes também salienta que a cidade carece de manutenção e restauro de suas calçadas. [3]
Notas:
[1] (FOLHA, 2015);
[2] Idem.
[3] Idem.
Referências Bibliográficas:
FOLHA. Criadora do 'piso paulista' diz que nunca recebeu 1 centavo pelo desenho. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=BLGKXZUrfnQ>. Acesso em: 14 set 2018.