Minha cabeça, sem dúvida, é difusa e dispersa. Compara elementos distintos da arquitetura, marcados por momentos distantes, os lê e os contempla com paixão e intensidade. Não me resta dúvida que a leitura do protagonista deste artigo deu forma não somente aos meus pensamentos, mas também aos de muitos outros. Morre Robert Venturi, aos 93 anos, uma figura importante e uma referência central para a arquitetura.
E qual é o motivo disso? Venturi escreveu o livro Complexidade e Contradição na Arquitetura, cujas ideias apresentaram uma ótica impactante para toda a disciplina. No livro, Venturi se dedica a explicar uma frase de Rennie Mackintosh: "Há esperança no erro honesto, nenhuma na perfeição congelada do mero estilo".
O Movimento Moderno, com o final da Segunda Guerra Mundial, foi considerado, por muitos, a única referência possível na arquitetura. O próprio contexto político e econômico tornava difícil valorizar o patrimônio, principalmente por causa da destruição massiva causada pela guerra e pela intensa discussão que tomou conta das teorias de restauro. Dessa forma, o racionalismo se torou uma arma do desenho, utilizada, por exemplo, na Itália para a recuperação de casas históricas destruídas.
Dentro dessa ótica, em 1962, Venturi vai para a Itália com uma bolsa de estudos, e começa a defender que a assimetria, a imperfeição dos monumentos antigos, as próprias ordens, e toda a surpresa do que é casual já não são vistas tanto como um desvio, mas sim como um passado que tem muito a ensinar. Para ele,o passado enriquece a arquitetura, fazendo parte da vida. Sem dúvida nenhuma sua herança italiana trazia contradição e complexidade para sua mente estadunidense.
Sua carreira profissional, sempre ao lado de sua companheira Denise Scott-Brown, está forrada de exemplos que tiveram grande importância para a arquitetura. A casa que o arquiteto projetou para sua mãe, por exemplo, é citada na literatura ao lado de grandes obras. Ela começa com um frontão e vê sua empena frontal desenhada por um semicírculo como se fosse um arco-íris. Esta recuperação das duas águas do telhado para a arquitetura, que ele considerava contemporânea, foi um posicionamento corajoso enquanto Paul Rudolph, SOM ou Philip Johnson faziam proposições ortogonais. Mais tarde Johnson faz referência a Venturi em seu arranha-céu com janelas - o AT&T - que conta com um frontão dividido.
No entanto, Venturi estava mais interessado, por exemplo, em recuperar a casa de Benjamin Franklin na Filadélfia com uma estrutura metálica branca que recuperaria parte da habitação demolida. Também é verdade que Venturi e Scott-Brown foram os grandes arquitetos que abriram a caixa de Pandora do pós-modernismo, confundindo, em muitos casos, a apreciação e a integração com o ambiente, com a decoração e a falta de proporção. Em Aprendendo com Las Vegas (com Denise Scott-Brown e Stepen Izenour) se buscava, já com a narrativa americana e pop, os valores simbólicos da arquitetura e das ruas da cidade.
Um dos seus projetos mais importantes aconteceu a partir de um concurso, a Ala Sainsbury da National Gallery de Londres, em 1986. Venturi deixou claro muitas vezes que não deve ser considerado como um edifício só, mas como uma extensão do museu inglês. É importante destacar que os pilares desta nova ala são réplicas exatas da estrutura do edifício principal de William Wilkins. Como contraste, podemos observar a solução proposta por Henri Cobb, por exemplo, que apostou em uma arquitetura linear e volumétrica, vemos que têm uma linguagem próxima a dos ganhadores. Ou ainda, podemos analisar a proposta de Richard Rogers, e questionar como veríamos hoje em dia as imagens de um Pompidou Londrino. Esses projetos mostram a qualidade do projeto de Brown e Venturi, e justificam a vitória no concurso.
Portanto, se seu material escrito influenciou muitos anacronismos contemporâneos, ou o pós-modernismo, no sentido mais ofensivo possível, suas obras demonstram influências diferentes. Ao projetar uma construção anexa a um edifício existente, Venturi, conjuntamente com Brown, mostra que é importante fazer uma arquitetura amigável, que seja entendida e apreciada pelas pessoas em geral e que isso não significa projetar com falta de rigor ou profundidade intelectual, mas pelo contrário, é necessário expor a vontade de compartilhar e entregar o seu próprio prazer. Ele mostra que é importante aproximar as pessoas, fazê-las perceber e valorizar as obras de arte sem esquecer de contemplar o grande museu e o nome de quem o projetou e acaba de partir.