Essa frase chamou a atenção durante a palestra de Diébédo Francis Kéré no AAICO (Architecture and Art International Congress), que ocorreu no Porto, em Portugal, entre 3 e 8 de setembro. Após ser introduzido por ninguém menos que Eduardo Souto de Moura, Kéré iniciou sua fala com a simplicidade e humildade que pautam seu trabalho. Suas obras mais conhecidas foram construídas em locais bastante remotos, onde materiais são escassos e a força de trabalho é dos próprios moradores, utilizando os recursos e técnicas locais.
No lugar de impor estruturas e um modo de viver novo aos usuários, Kéré busca o entendimento das reais demandas no local, as tradições dos moradores e seu cotidiano, aportando o conhecimento técnico que adquiriu no exterior para criar novos espaços funcionais. Não que esse processo seja sempre fácil. Como ele pontua, chegar a uma aldeia mostrando como algo deve ser feito e como as pessoas devem trabalhar sempre traz uma desconfiança. E é ao desenhar no solo, estando junto das pessoas, testando soluções, dando novos usos a materiais que sempre estiveram ali, que ele consegue ganhar a confiança e o respeito. Para uma real apropriação de sua arquitetura, é imprescindível que todos se sintam parte da obra, aportando com sua força de trabalho e conhecimentos para um produto final que é de todos.
Tratam-se de soluções projetuais simples, mas extremamente engenhosas, que consideram o clima e as possibilidades locais. Como os vasos de barro que criam aberturas zenitais na Biblioteca da Escola de Gando, e garantem a entrada de luz natural e a circulação do ar. Ou sua solução na Escola Secundária Lycee Schorge, onde a inserção de baldes com água próximo às esquadrias, considerando o caminho do vento, permitiu uma diminuição significativa na temperatura interna das salas de aula. A criação de filtros e camadas, preocupando-se com a ventilação e o sombreamento, o desenho de espaços intermediários, o trabalho cuidadoso com materiais industrializados, tradicionais e a vegetação viva, são muitos dos elementos que transformam estes projetos em obras-primas.
Acima de tudo, sua arquitetura possui uma função pedagógica, inspirando a comunidade local e mostrando que o futuro pode ser um pouco mais colorido. Em um mundo em que a arquitetura continua sendo um luxo para tão poucos, Francis Kéré nos mostra que ela pode ser universal e ainda pode emocionar.
Artigo publicado originalmente em 25 de setembro de 2018, atualizado em 15 de março de 2022. Acompanhe a cobertura do ArchDaily do Prêmio Pritzker.