Como a universidade flutuante de Berlim pode alterar o futuro da educação na arquitetura

No lado norte do Tempelhofer Feld, um aeroporto que virou parque no sul de Berlim, há uma grande bacia. Cercada por lotes e bangalôs e percebida apenas para aqueles que a conhecem, essa depressão que remonta ao século XIX mantém a água da chuva drenada das pistas desativadas do aeroporto antes de entrar na rede de canais de Berlim.

“Sabíamos que era uma espécie de local secreto no centro da cidade que ninguém tinha no mapa”, explica Benjamin Foerster-Baldenius, da Raumlabor Architects. Ou melhor, até este verão.

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© Daniel Seiffert

De abril a setembro, a bacia foi ocupada por uma estrutura peculiar no água — uma série de volumes montados em andaimes e plataformas flutuantes com telhados infláveis e uma grande roda. Era parte um navio pirata e parte Princeton; parte Archigram e parte Burning Man. Essa era a Universidade Flutuante, a ideia de Foerster-Baldenius e Raumlabor, e o locus de uma enxurrada de eventos — de arquitetura, eventos educacionais e outros — que estavam a bordo da estrutura flutuante.

Financiado pela Fundação Cultural Federal Alemã como parte de suas celebrações do centenário da Bauhaus, a universidade foi iniciada pela Raumlabor como uma continuação e expansão de suas experiências anteriores com educação como a Escola Urbana Ruhr, Hotel Shabbyshabby e "Making Futures" na recente Bienal de Design de Istanbul. Nesses casos, a Raumlabor adotou sua abordagem lúdica e focada no processo do projeto arquitetônico e do planejamento urbano para ampliar a natureza frequentemente rígida ou excludente da educação.

“Sabemos que há muitas pessoas na academia que estão procurando outras maneiras de lidar com o mundo real”, explica Foerster-Baldenius. "Formas de se reunir e descobrir as coisas juntos, não apenas dentro do campus, mas também abrindo-se mais para o público."

© Victoria Tomaschko

Essa abordagem voltada para o público deu à Universidade Flutuante sua forma arquitetônica e uma série de espaços verdadeiramente únicos. De uma estrada lateral empoeirada, um pequeno portão levava os visitantes até uma escada de metal com uma sacada com vista para a bacia, dando um primeiro vislumbre dramático da estrutura da universidade. Através de um emaranhado de plantadeiras de tomate e batata, uma passagem junto à água leva ao centro da estrutura. Aqui, um auditório de 100 lugares (com um piso flutuante separado) ficava sob uma cobertura de lona inflada.

Em outro lugar, uma cozinha modular foi projetada por estudantes de arquitetura e outros participantes de uma oficina sobre a história sócio-espacial da cozinha. Um inovador sistema de filtragem de água, projetado pela artista residente Katherine Bell, usou uma roda para extrair a água da bacia através de uma série de banheiras interconectadas contendo filtros biológicos, como biofilme de areia, micélio de cogumelo e mexilhões-zebra.

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Localizada na parte de trás do auditório, a operação manual da roda ocorria a cada hora, criando uma lembrança constante do entorno bizarro. A transparência do funcionamento da estrutura e seu entorno semi-natural foram uma parte central da educação experimental que ocorreu no local: “É realmente difícil permanecer sério porque há esse teatro da natureza ao seu redor, o que é muito engraçado” diz Foerster-Baldenius.

Durante o verão, 25 universidades afiliadas — vindas de Bogotá a Paris — conectaram-se à estrutura para seminários e workshops experimentais, enquanto um programa público paralelo levou os berlinenses e visitantes a discussões sobre urbanismo, arte sonora experimental, consumo de água e o legado da Bauhaus. Em um sábado à tarde qualquer, era possível encontrar crianças andando no pântano (botas eram fornecidas) enquanto os participantes se engajavam em performances, desfrutavam de bebidas no bar, almoçavam, cortavam o cabelo, ouviam uma palestra da Eyens Weizman da Forensic Architecture— tudo de uma vez, e enquanto os visitantes passeavam pelo local.

Apesar do sucesso retumbante da universidade em expandir a educação em arquitetura e abrir a infraestrutura pública para novos usos, o financiamento do projeto acabou e a demolição da universidade começou em setembro.

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Este não é, no entanto, o fim da história.

Ao longo de sua existência, o projeto ganhou interesse e apoio de políticos da cidade, mídia local e, graças a um Simpósio Flutuante no final (que terminou, é claro, na pista de dança flutuante) para discutir o futuro da estrutura, há planos para que ela flutue novamente em 2019.

Como Markus Bader, também da Raumlabor, explica, “A Universidade Flutuante é uma experiência em muitos níveis. Como o experimento foi tão bem sucedido, muitas pessoas estão trabalhando na possível próxima temporada.”

As discussões iniciais estão centradas em sincronizar as contribuições das diferentes universidades visitantes, de modo que cada uma acrescente algo novo ao local em constante evolução. "A Universidade Flutuante não é o objeto", diz Bader. "É o espírito e a incrível coletividade que foi iniciada neste verão."

Da mesma forma, Foerster-Baldenius está otimista para o futuro do próprio local: “A cidade está trabalhando com os jardins ao redor para desenvolver algo novo e gostaríamos de participar deste desenvolvimento. Abrimos uma área na cidade que estava adormecida por 50 anos e agora somos responsáveis por isso."

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Sobre este autor
Cita: Kafka, George . "Como a universidade flutuante de Berlim pode alterar o futuro da educação na arquitetura" [How Berlin's Floating University Charts the Course for Future Architectural Education] 14 Out 2018. ArchDaily Brasil. (Trad. Moreira Cavalcante, Lis) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/903601/como-a-universidade-flutuante-de-berlim-pode-alterar-o-futuro-da-educacao-na-arquitetura> ISSN 0719-8906

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