Geração Z: 6 provas de que a arquitetura e as cidades estão sendo redefinidas

Nos últimos vinte anos, o mundo nunca esteve tão conectado. Na transição do século, a digitalidade parece ter invado as camadas analógicas e redefinido padrões, estilos de vida, interações e a maneira como nos conectamos e utilizamos os espaços. Essa redefinição social é fortemente atribuída à chamada Geração Z, ou seja, o grupo de pessoas definido por aqueles nascidos na transição do século XX ao XXI, entre as décadas de 1990 e 2010. Mas você conhece as características deste grupo?

Historicamente, a definição das diferentes gerações iniciou-se a partir da nomenclatura atribuída aos grupos de pessoas nascidas em diferentes momentos a partir da segunda metade do século XX. Nesse quesito, os baby boomers, como são chamados aqueles pertencentes à Geração X – grupo de pessoas classificados entre os nascidos entre as décadas de 1960 e 1970, notadamente após a segunda Guerra Mundial –, caracterizada pela busca do sucesso profissional de maneira precoce e consequentemente, conquista da casa própria e construção familiar under 30. Enquanto isso, os Millenials, como denominados o grupo pertencente a Geração Y e nascidos entre a década de 1970 e 1990, são os pioneiros da Internet. Inovadores, foram os primeiros a dar um passo em direção à chamada Era Digital e produzir os primeiros computadores, games, e-mails e redes sociais, permitindo aperfeiçoamentos na comunicação a distância. Agora, a Geração Z tem mudados os panoramas de comunicação, produção e apropriação do espaço, em que a tecnologia passa a ser uma ferramenta para facilitar o cotidiano, tornando-se um imprescindível.

De acordo com relatório publicado em 2018 pela WGNS (Worth Global Style Network) – empresa líder mundial em serviços de coolhunting, pioneira no segmento de previsão de tendências nos segmentos de estilo de vida, arquitetura, design e moda –, a geração Z pode ser subdividida em duas categorias: “Gen We” e “Gen Am”, ou seja, a primeira nomenclatura diz respeito a “Geração Nós”, focada no coletivo e necessidades da população enquanto grupo, ao passo que a segunda nomenclatura, “Geração Eu” [1] é aquela focada no singular e nos deveres individuais. No entanto, apesar da aparente subdivisão, ambas apresentam como ponto em comum a conectividade enquanto ferramenta que fornecerá mudanças radicais nos próximos anos a partir de uma velocidade antes inalcançada, trabalhando uma série de valores intelectuais em conjunto.

097 • Yojigen Poketto / elii. Image © Imagen Subliminal

De acordo com o jornal Estadão, somente em maio de 2016 eram mais de 2 bilhões de Zs em todo o mundo e de acordo com expectativas, até 2023 se tornarão “o maior grupo atuante no mundo”[2]. Este número revela a capacidade de geração de bilhões anualmente e o novo motor da economia a nível mundial, uma vez que as mudanças nos paradigmas, modos de produzir e consumir são as mesmas que movem uma corrente de indústrias e mercados em todo o mundo - entre eles, o setor imobiliário e urbano.

Possivelmente, ao ler os parágrafos iniciais deste artigo, você tenha atribuído as mudanças citadas à cadeia de produtos eletrônicos e matéria tangível, mas engana-se. Os Zs estão conquistando o mundo com nova filosofia e meios de percepção e uso do espaço. Se anteriormente, casais casavam-se muito jovens, na faixa dos vinte anos, agora, o prolongamento da vida de solteiro apresenta estatísticas consideráveis e, consequentemente, um estilo de vida nômade de moradia. Isto nos revela que jovens têm preferido alugar apartamentos a ter que comprar determinadas propriedades sem a opção de transferir-se e conhecer novos bairros. Desta forma, apartamentos hypados, “descolados” e pops veem sendo construídos a partir do entendimento deste novo perfil, e construtoras têm apostados nas pesquisas de coolhunting que anteciparam tendências em pelo menos 10 anos, tempo médio para investimentos imobiliários.

Batipin Flat / studioWOK. Image © Federico Villa

Máquina do tempo, carros voadores... Os filmes erraram e o que era previsto nas telas parece ter tomado outro rumo; o futuro é o hoje. Nanotecnologia, drones, aplicativos, dispositivos mobile, leitura digital, automação: essas são apenas algumas das inúmeras possibilidades que vêm moldando o presente. Compilamos a seguir alguns temas recorrentes da apropriação das cidades pela Geração Z.

A casa é o lar. Mas o lar é o home office: Projetando a partir da ideia de desapego e com um aspecto peculiar, entendido como os novos nômades, esta geração é caracterizada pela transição do lar num curto período de tempo, a partir da ideia de que almejam viajar, conhecer novos lugares do mundo, adquirir novos conhecimentos culturais e, ainda, quando no país de origem, conhecer novos bairros e grupo de pessoas. Nesse sentido, aspirando experiências diversas, passam ocupar espaços residenciais mínimos, quase remodelando a ideia de que “menos é mais”. Junto a isso, com menor interesse no casamento precoce e em ter filhos, optam por espaço menores que ora funcionam como residencia, ora como home office. A partir da remodelação de uma série de empresas que dispensam seus funcionários em dias pré-determinados, ou sob a ideia de jovens independentes buscarem cada vez mais a autonomia de seus negócios, a casa também dá lugar ao espaço de trabalho.

Studio Li / Anne Rolland Architecte Guardar no Meu ArchDaily. Image © Jérôme Fleurier

O espaço multiuso: Continuando a ideia tratada no tópico anterior, o espaço reduzido exige novas organizações. Com um investimento em arquitetos como diretores criativos, apartamentos cada vez menores – usualmente abaixo dos 30 ou 20 metros quadrados – têm fomentado o uso de mobiliários e equipamento multiuso. Mobiliários que se transformam em fração de segundos, peças com roldanas e trilhos, design inovador e soluções cada vez mais arrojadas na busca pela facilidade do uso espacial.

Dispositivos mobile como facilitadores: É certo que o boom dos novos dispositivos virtuais tem abismado até os maiores entusiastas da tecnologia. Mas nos últimos anos a tecnologia de inteligência mobile e automação tem se tornado cada vez mais palpável e viável economicamente para a classe media. Controle de luzes e temperatura com apenas um clique, acesso as câmeras internas de seu lar ou empresa a quilômetros de distancia, controle musical pelo tablet, liberação da entrada de sua residência pelas ondas sonoras de voz ou pela sua retina são alguns exemplos. Mas a indústria quer ir além e, de acordo com empresas especializadas em tecnologia, o futuro será o vidro. Este elemento será a interface para o controle de todas as facilidades de nosso dia-a-dia.

Sistema Inteligente Nox - Control solar. Image Cortesia de Feltrex

A rua é o quintal: Diferentemente da geração X e Y que clamava pela conquista do lar onde se estabeleceriam pelo resto de suas vidas, a geração Z tem como perfil a independência e estilo nômade. Apresentando menor importância a ideia de pertencimento ou da singularidade, parece despertar interesse pela ideia de coletivo. Nesse sentido, a partir da ideia de viver num espaço mínimo, a cidade torna-se o quintal e o que antes era tido como o espaço rejeitado é, agora, o espaço conquistado. Não é a toa que uma série de inciativas urbanas vêm sendo adotadas em todo o mundo, como, por exemplo, o movimento Paulista Aberta, que vêm chamando a atenção de urbanistas de todo o mundo a partir de um gesto muito simples: impedir a passagem de automóveis durante domingos e feriados num período de tempo pré-estabelecido, permitindo que a via se transforme num espaço coletivo e de manifestações artísticas e culturais. O espaço publico é, portanto, compartilhado. O espaço é de todos. Tomemos o Elevado Joao Goulart, o popular “Minhocão”, como exemplo de como uma via dedicada para automóveis, apesar de sua feiura, pode se tornar de todos. Amparado pelas tecnologias e ideia de redes, permite ainda a celebração de uma serie de eventos de modo que todos tomem conhecimento em segundos.

© Romullo Baratto

Cultura maker: Se até então éramos obrigados a consumir o que nos era imposto, a realidade agora é diferente. Nos últimos cinco anos, pelo menos, uma série de iniciativas de cunho público e privado tem incentivado a idealização de um conjunto de projetos de cultura digital. Como exemplo temos os fablabs – laboratórios de fabricação digital –, que têm por objetivo a aplicação prática de metodologias e tecnologias para a produção de peças, mobiliários e dispositivos criados a partir de meios digitais, operados por softwares, impressoras 3D, fresas, etc. Nesse sentido, todos podem criar seu próprio mobiliário, que pode ser estruturados a partir de encaixes e transportados de um apartamento a outro com facilidade.

Fablab. Image Cortesia de Faulhaber Fab Lab

Dispositivos mobile com aplicação urbana: Aplicativos como o Uber, Yellow, entre outros, têm permitido maior interação urbana e, sobretudo, o mapeamento do tecido urbano a partir da ideia de mobilidade. Enquanto facilitadores, ainda prometem muitas inovações nos próximos anos.

via Wikimedia user Diablanco licensed under CC BY-SA 3.0

Notas:
[1] WGSN, 2018.

[2] O Estadão, 2016.

Referências Bibliográficas:
DELBONI, Carolina. Estadão, 2016. Geração Z. Disponível em< https://emais.estadao.com.br/blogs/kids/geracao-z/>. Acesso em 19 Out 2018.

WGSN. WGSN white paper: Take a look at The Gen Z Equation. 2018. Disponível em:< https://www.wgsn.com/blogs/wgsn-look-gen-z-equation/>. Acesso em 19 Out 2018.

Sobre este autor
Cita: Matheus Pereira. "Geração Z: 6 provas de que a arquitetura e as cidades estão sendo redefinidas " 20 Dez 2018. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/906494/geracao-z-6-provas-de-que-a-arquitetura-e-as-cidades-estao-sendo-redefinidas> ISSN 0719-8906

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