Alvaro Siza orquestra, como poucos, a experiência do visitante em suas obras. Por meio de compressões e descompressões, aberturas e fechamentos, volumes, vazios e luz, o arquiteto português marca os trajetos, os pontos de vista, as perspectivas e a passagem do tempo. Este ensaio, do fotógrafo Ronaldo Azambuja, retrata a obra dez anos após sua inauguração.
O Edifício abriga o acervo do pintor brasileiro Iberê Camargo e implanta-se em uma escarpa às margens do Lago Guaíba, em Porto Alegre. Por conta do terreno complicado e dimensões limitadas, Siza optou por verticalizar o museu, criando um subsolo para as áreas de apoio (acervo, auditório, biblioteca) e um volume principal, com térreo e mais três pisos destinados às salas expositivas. A ideia de criar um percurso através de uma rampa suave contínua em todo o espaço expositivo desenhou a fachada do edifício, marcado externamente por suas rampas descolando-se do volume principal. Por conta do perímetro insuficiente do edifício para contornar o vazio e vencer a altura com uma inclinação adequada à rampa, Siza desenvolveu um engenhoso e original desenho em ziguezague, conformando dois lances de rampa, onde um é externo (duro e irregular) e o outro acompanha as formas sinuosas internas.
As poucas aberturas também evidenciam a genialidade do arquiteto. São recortes precisos da paisagem, pontilhados em locais quase inusitados, que são como quadros vivos. Uma reverência ao entorno em um edifício que, à primeira vista, se parece fechado e ensimesmado. São gestos que mostram que o mais difícil é sempre tornar algo complexo, simples.