A “Infinito Vão – 90 Anos de Arquitetura Brasileira” está em cartaz na Casa da Arquitectura. Para dar vida às ideias dos curadores Guilherme Wisnik e Fernando Serapião, o arquiteto João Mendes Ribeiro foi comissionado para conceber o projeto expográfico da exposição. Entrevistamos ele para saber quais foram suas principais inspirações e um pouco mais sobre seu processo projetual ao desenhar para expor grandes feitos da Arquitetura Brasileira.
ArchDaily: Como surgiu o partido arquitetônico para o projeto expográfico da "Infinito Vão"?
João Mendes Ribeiro: A ideia conceptual para o dispositivo expositivo surgiu logo nas primeiras conversas com os curadores Guilherme Wisnik e Fernando Serapião.
Esta é uma exposição muito pautada pela presença da música brasileira paralela à arquitetura e videos de situações históricas emblemáticas, todos regidos por uma ordem cronológica. A expografia é fundamental na apresentação desta ideia. Você poderia falar um pouco mais sobre essa interação com os curadores durante o processo projetual?
A interacção com os curadores foi constante e dinâmica ao longo do processo. O dispositivo que concebemos procura materializar a ideia inicial dos curadores: desenhar um percurso extenso, marcado pelos pórticos azuis, que separam os diferentes núcleos e, simultaneamente, constituem espaços de mediação em que a música e o vídeo introduzem e contextualizam o momento seguinte. Reforçando esse percurso e o sentido longitudinal do edifício, desenha-se uma longa viga, suspensa a partir dos pórticos, que reifica a ideia do “infinito vão”.
A imensa viga é certamente uma grande protagonista no espaço, quais foram os desafios na construção deste elemento?
Numa alusão clara ao título da exposição, a viga constitui certamente o maior desafio do projecto. Trata-se de um elemento com 66 metros, suspenso apenas a partir dos três pórticos, vencendo vãos de 18 metros. A construção desta viga resulta da combinação do desejo dos curadores e arquitectos com o engenho e capacidade técnica do engenheiro Eugénio Maia. Partimos para o projecto sem a certeza de o conseguir concretizar, mas com o optimismo de desafiar a gravidade e vencer o peso dos materiais.
Após se aprofundar no tema da Arquitetura Brasileira, você saberia elencar as principais semelhanças e diferenças com a Arquitetura Portuguesa?
A Arquitectura Portuguesa, de pequena escala, está, sobretudo, relacionada com uma cultura de construção local. É uma arquitectura chã e telúrica, de grande propensão artesanal e atenta aos mais ínfimos detalhes. No sentido oposto, a arquitectura brasileira é feita de gesto largos e desinibidos, ergue-se do chão desafiando a gravidade e as convenções para redesenhar uma nova e inusitada paisagem urbana.
Creio que, embora de modo diferente, em ambos os casos, prevalece um forte sentido de paisagem. No caso português procura-se uma integração do edifício no solo, enquanto no caso brasileiro há uma constante tensão entre o edifício e o território, através da manipulação e libertação da superfície da terra, disponibilizando-a para usos colectivos.
O que mais te surpreendeu nesta experiência?
Não creio que se tenha tratado de uma surpresa, mas definitivamente, foi um desafio novo: Pensar no desenho expositivo a partir de uma ideia forte, diria mesmo, política, como se se tratasse da materialização de um manifesto. Influenciados pela leveza etérea da arquitectura brasileira procurámos localizar e negociar o pensamento imaterial num objecto material.
SERVIÇO
“Infinito Vão – 90 Anos De Arquitetura Brasileira”
28 de setembro de 2018 a 28 de abril de 2019
Casa da Arquitectura
Avenida Menéres, 456, Matosinhos, Portugal
Informações: www.casadaarquitectura.pt