5 Cidades mostram o que são transformações urbanas

A urbanização está mudando a cara do planeta – para o bem e para o mal.

Populações urbanas, produtos internos brutos e investimentos estão crescendo exponencialmente. Ao mesmo tempo, emissões de carbono estão aumentando, mais e mais pessoas estão vivendo em favelas e a poluição do ar é uma ameaça que cresce. Especialistas apontam para a necessidade de transformações urbanas, ainda que poucas pessoas tenham uma ideia concreta de como desencadear e manter tal mudança.

O Prêmio WRI Ross para Cidades busca dar destaque para iniciativas reais exemplares de transformações urbanas para ajudar a inspirar melhores cidades para todos. Cerca de 200 projetos ao redor do mundo aplicaram para o prêmio inaugural de US$ 250 mil.

Os avaliadores selecionaram os cinco finalistas. Esses projetos – que vai de uma cooperativa de recolhedores de lixo na Índia até um sistema de teleférico na Colômbia – começam a compor um cenário de como iniciativas urbanas transformadoras são na prática.

Transporte Inclusivo em Medelín, Colômbia

Estações do teleférico têm ajudado a atrair novos investimentos - públicos e privados - em bairros há tempo negligenciados. Foto: Metro de Medelín

Assim como Medelín, a Colômbia se espraiou ao longo das margens do Vale de Aburra, seus bairros mais pobres se tornaram cada vez mais desconectados do centro da cidade – não apenas topograficamente, mas social e economicamente. Os moradores das favelas da cidade sofrem historicamente com a falta de acesso facilitado a empregos, educação e outros serviços, com deslocamentos que às vezes se estendem por mais de quatro horas por dia.

Assim, em 2004, a operadora de trânsito da cidade, o Metro de Medelín, surgiu com uma solução inovadora: o primeiro sistema de teleférico a cabo aéreo do mundo a ser totalmente integrado ao transporte público. Conectando-se às estações de metrô, ônibus e bicicleta, o Metrocable passa pelo alto de ruas congestionadas e perigosas, conectando os morros ao centro da cidade. Os tempos de viagem caíram em até 60 minutos, e um sistema simplificado de bilhetagem eliminou a cobrança dupla para os passageiros que usavam o teleférico e os sistemas de metrô ou ônibus.

O Metrocable redefiniu o conceito dos moradores sobre as fronteiras de Medelín, sobre quem conta e quem não, sobre incluir essa população das margens do território. Faz parte de uma mudança maior na mentalidade do governo da cidade e estabelece uma poderosa ligação física e simbólica entre os bairros mais pobres e o centro da cidade.

Caminhando com segurança em Dar es Salaam, Tanzânia

SARSAI realiza melhorias nas infraestruturas em locais estratégicos ao redor de escolas, mas também trabalha diretamente com estudantes para ensinar comportamentos seguros. Foto: Edward Echwalu/Amend

As cidades da África Subsaariana enfrentam uma crise de saúde pública negligenciada: as crianças têm duas vezes mais chances de morrer em um acidente de trânsito do que em qualquer outra região do mundo. Em Dar es Salaam, na Tanzânia, o número de fatalidades está em vias de aumentar, já que a população da cidade deve dobrar entre 2012 e 2030 e a propriedade de automóveis aumentar.

Em 2014, a organização sem fins lucrativos Amend decidiu reverter essa tendência com o programa de Avaliação e Melhoria da Segurança Viária das Áreas Escolares (SARSAI). Começando em Dar es Salaam, mas se espalhando rapidamente para mais de uma dúzia de países, a abordagem é atraente, simples e barata: em cada uma de suas cidades-alvo, formar parcerias com o governo local; identificar escolas com as maiores taxas de lesões e mortes em acidentes; implementar infraestrutura de segurança, como barreiras, calçadas e travessias de pedestres; e trabalhar com os alunos para ensinar-lhes maneiras mais seguras de atravessar a rua.

O programa SARSAI ajudou 70 mil alunos do ensino fundamental a ir e voltar da escola com mais segurança. Amend está mudando a mentalidade, colocando a segurança viária das crianças na agenda política, ajudando as crianças a entender que sua segurança, mobilidade e liberdade são importantes.

Cocriando espaços públicos em Durban, África do Sul

Trabalhadores informais como catadores e vendedores ambulantes são a espinha dorsal de muitas cidades ao redor do mundo. De acordo com algumas estimativas, representam de 50% a 80% dos empregos urbanos globalmente, mas são em grande parte deixados de fora das decisões sobre políticas públicas nas cidades.

Desde 2008, a Asiye eTafuleni (AeT) ajuda a mudar essa dinâmica na cidade de Durban, na África do Sul. Na região de Warwick Junction, a AeT trabalhado com vendedores informais do local para impedir que o mercado central, uma construção histórica da cidade, seja transformado em um shopping e, com isso, acabe com mais de três mil empregos. Por meio de práticas de design colaborativo, treinamentos e ativismo, a AeT ajudou a garantir que esses trabalhadores tivessem voz nos processos de tomada de decisão. Agora, os vendedores ambulantes têm o direito de trabalhar no mercado e se tornaram participantes ativos do processo de redesenho de algumas áreas. Entre outras melhorias, eles agora contam com locais mais limpos e seguros para cozinhar e armazenar alimentos.

Durante o apartheid, Warwick Junction era a “entrada para negros” em uma cidade de brancos. Agora, a área se torna o pórtico de entrada para uma cidade mais inclusiva. Mais do que os benefícios diretos para mais de seis mil vendedores informais, as melhorias feitas na região aumentaram o acesso da população local a bens e produtos.

Catadores organizados em Pune, Índia

A coleta de resíduos é um desafio para as cidades em crescimento. Até 2050, a região Sul da Ásia deve duplicar a quantidade de lixo produzida anualmente para mais de 600 milhões de toneladas. Na cidade de Pune, na Índia, a primeira cooperativa de catadores não apenas tem ajudado a estabelecer um sistema eficiente de coleta do lixo, como se tornou um exemplo de como as cidades podem integrar trabalhadores informais em uma economia mais moderna.

A SWaCH Pune Seva Sahakari Sanstha (SWaCH) pertence e é operada por seus mais de três mil membros, a maioria dos quais são mulheres e dalits, a camada mais baixa no sistema de castas do hinduísmo. A cooperativa oferece o serviço de coleta de lixo porta-a-porta para mais de 2,3 milhões de habitantes, incluindo mais de 450 mil moradores de favelas. Os membros arrecadam US$ 6,8 milhões por ano em taxas pagas pelos usuários e reciclam em torno de 49 mil toneladas de lixo, o equivalente, em redução de emissões, a tirar 32 mil veículos das ruas.

O modelo da cooperativa indiana supre com eficiência a lacuna de um serviço ao mesmo tempo em que cria empregos para a parcela de moradores mais vulneráveis e marginalizados da cidade. A experiência inspirou uma legislação nacional para ajudar a integrar os catadores a serviços municipais formais em todo o país. Os membros da coopertativa contam que o trabalho os ajudou a conseguir uma renda melhor e mais tempo para a família, educação e lazer.

Integrando natureza e transporte coletivo em Eskisehir, Turquia

Muitas vezes, a urbanização anda de mãos dadas com a degradação ambiental, incluindo problemas com o descarte inadequado de resíduos, a má qualidade da água e do ar e a perda de áreas úmidas e florestas. Na cidade pós-industrial de Eskisehir, na Turquia, o congestionamento estava obstruindo a área central da cidade, e o rio Porsuk se tornou um dos corpos de água mais poluídos da região.

Para solucionar essas questões, a “Prefeitura Metropolitana” de Eskisehir criou uma rede de infraestrutura natural para restaurar o Porsuk, ampliar as áreas verdes e ligar todo o corredor formado pelo rio a uma rede de transporte público sustentável.

O Projeto de Desenvolvimento Urbano de Eskisehir interliga infraestrutura verde e cinza com uma nova rede de bondes elétricos para criar uma cidade mais moderna e que integra a natureza em seu espaço e dia a dia. Os parques ao longo do rio ajudaram a melhorar a qualidade da água e a controlar as inundações, além de estimular o comércio local e a circulação dos pedestres.

Desde que o projeto foi lançado, a taxa de área verde per capita da cidade aumentou em 215%, 24 quilômetros de linhas de bonde transportam pelo menos 130 mil pessoas por dia e a cidade se tornou um centro para o turismo doméstico e internacional.

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As experiências desses cinco finalistas refletem a criatividade impulsionada pelo desenvolvimento das cidades e pelo potencial de construirmos áreas urbanas sustentáveis que trabalham pelas pessoas e pelo planeta. Em abril de 2019, um desses projetos será selecionado como o vencedor do Prêmio WRI Ross para Cidades e receberá US$ 250 mil.

Para saber mais sobre o Prêmio WRI Ross para Cidades, acesse wrirossprize.org

Via WRI Brasil.

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Sobre este autor
Cita: Anne Maassen e Madeleine Galvin. "5 Cidades mostram o que são transformações urbanas" 15 Dez 2018. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/907739/5-cidades-mostram-o-que-sao-transformacoes-urbanas> ISSN 0719-8906

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