A primeira vista, projetar um edifício em Harvard parece algo tão sério quanto a própria estrutura desta instituição, uma das mais importantes e renomadas universidades do mundo. Por outro lado, o programa para o novo Museu de Arte de Harvard era tão simples quanto inovador, o tipo de encargo que todo arquiteto sonha um dia receber. Mas, apesar de toda a liberdade e disponibilidade de recursos, o processo de projeto foi muito mais complexo do que poderia parecer em um primeiro momento - foram mais de seis anos até que a obra fosse finalmente concluída.
A primeira estranheza está em seu próprio nome: Harvard Art Museums. O edifício é, de certo modo, uma estrutura plural, um espaço único concebido para acolher as múltiplas coleções de Arte da Universidade de Harvard, anteriormente espalhadas em três museus independentes. O principal objetivo deste complexo programa era reunir sobre o mesmo teto as coleções de arte germânica, asiática e norte-americana de Harvard, enxugando a sua estrutura como um todo, tornando-a mais eficiente e compacta. A estratégia era substituir a individualidade pela coletividade, um espaço de compartilhamento que aproximasse a instituição da comunidade e facilitasse a apresentação de seu conteúdo.
Como os alunos da universidade, as coleções de arte agora também compartilham "quartos". Acima de tudo, o grande desafio deste projeto foi ter que lidar com uma estrutura pré-existente, que muito limitava o rearranjo de sua organização espacial. O projeto desenvolvido pelos arquitetos da Renzo Piano Building Workshop (RPBW), é como uma nave futurista que aterrizou em Harvard e assumiu a forma do antigo Museu Fogg, um edifício em estilo georgiano da década de 1920 projetado por Coolidge, Shepley, Bulfinch e Abbot. A estrutura deveria ser mantida em sua mesma projeção, sem ser deslocada nem tampouco expandida para fora. Por isso mesmo, os arquitetos optaram por verticalizar, acrescentando uma nova estrutura transparente que sobe em direção à luz. Uma operação formal praticamente invisível, dificilmente perceptível a partir do nível da rua, mas que sugere um esforço de adaptação à uma estrutura existente ao invés de procurar afirmar-se como um elemento independente. Em um campus onde tudo é único e especial, o projeto do Harvard Art Museums parece estar mais preocupado com o seu valor coletivo, assim como o conhecimento, que se multiplica quando compartilhado.
No interior, esta analogia à estrutura coletiva do Campus é ainda mais enfatizada. Os espaços interiores foram organizados ao redor de um pátio central pré-existente, forçando a maioria dos visitantes a atravessar o espaço várias vezes durante a mesma visita. É como se os alunos estivessem trocando de sala durante uma aula e outra. As coleções, embora ainda expostas de forma independente, encontram-se entrelaçadas por uma circulação que sugere mais do que direciona, deixando por conta dos visitantes a escolha do percurso.
É exatamente nesta natureza acadêmica que a organização programática das obras Renzo Piano se revela. O arquiteto italiano é, sem sombra de dúvida, o grande mestre da discrição e do detalhe. A natureza radical de seus primeiros projetos, como o Centre Pompidou por exemplo (uma colaboração com Richard Rogers), expunha a sua estrutura interna de dentro pra fora de um modo nem um pouco convencional e particularmente provocativa no contexto conservador parisiense. Esta rebeldia projetual transformou-se, pouco à pouco, em um auto-controle exageradamente meticuloso e preciso. No projeto do Harvard Art Museums, a sua nova estrutura interna é exposta de maneira tão sutilmente delicada que, até agora, passa quase totalmente despercebida.
Passaram-se quase quatro anos desde que o edifício foi inaugurado, e ao que tudo indica, ele parece mais uma instalação permanente do que um novo edifício em si. Mas se sua arquitetura passa desapercebida pelos olhos dos jovens estudantes, essa é a sua maior força, e não o seu defeito. A maior lição que podemos ensinar aos nossos jovens alunos de hoje - e que ninguém é capaz de ensinar de fato - é aprender a valorizar o todo em detrimento de nós mesmos. O projeto do Harvard Art Museums é uma aula de humanidade e civilidade. Uma arquitetura convicta de si mesma permite que os visitantes se concentrem mais em seu conteúdo de que em sua imagem. É uma lição que todos nós deveríamos nos esforçar para aprender.