O Tekôa é um espaço dentro do Ekôa Park que busca experimentar soluções através de possibilidades que conectam teoria com prática. Tekôa é um espaço de práticas permaculturais integrativas, baseadas em dois princípios: desenvolver uma ecologia prática e experimentar soluções de baixo impacto ambiental com impacto social positivo, inventando novas formas de habitar, construir abrigo e produzir alimento. O Sem Muros acredita que para uma vida ecologicamente correta e socialmente justa, as pessoas precisam desenvolver autonomia; para isso, as técnicas utilizadas são simples, facilmente replicáveis e apropriadas ao contexto ambiental do território em que o projeto está inserido.
O programa de atividades do Tekôa inclui trabalhos colaborativos, bioconstrução, gestão de resíduos, processamento de comida, produção de alimento agroecológico, pesquisa social e ambiental para elaborar novas ações - a partir de uma pedagogia do entusiasmo e diversão. O espaço foi desenhado com informação e sinalização sobre os processos e funções de cada elemento do design, de forma que o espaço se torna uma experiência autoguiada para cada pessoa que visita o Tekoa, colaborando para uma conscientização e mudança de hábitos. Como Buckminster Fuller diria: para mudar algo, construa um novo modelo que torne o existente obsoleto.
O ecossistema é composto de diferentes áreas e edifícios:
Recepção e loja: um lugar destinado a informar o público e exibir o que é produzido no espaço. Os visitantes passam por ali quando entram, aprendendo sobre os processos e os ciclos de produção e consumo de uma maneira lúdica e didática.
Horta Mandala e galinheiro: esse espaço trabalha de forma integrada e cíclica, uma vez que os recursos necessários são os resíduos produzidos e transformados; lago de peixes, horta mandala, farming, telhado verde, galinheiro, coelhos, minhocário, composteira… Os visitantes podem aprender sobre a produção de alimento (vegetal e animal), sobre a importância da destinação dos resíduos orgânicos, processo de compostagem, nutrição do solo, controle biológico da horta…
Agrofloresta: neste sistema, são usadas formas alternativas e de baixo impacto de uso do solo conciliado com a produção de alimento, garantindo a fertilidade do solo e interação entre diversas formas de vida. O objetivo é fortalecer o imaginário de que para o contexto ambiental e social de Morretes, a floresta é o sistema mais adequado de produção.
Biocasa: Com o viveiro de mudas, os visitantes podem observar o início do ciclo produtivo de alimento - produção das sementes, plantando na horta mandala e agrofloresta, utilizando-as em atividades de educação ambiental, e por fim coletando e processando os vegetais já crescidos, folhas e rizomas. A biocasa busca adicionar valor e diversificar a produção de alimento na área, realizando testes e experimentando no seu processamento. O edifício foi construído através de um curso de bioconstrução com estudantes de diferentes lugares do mundo.
Pavilhão de Oficinas: o espaço é destinado a cursos, palestras, oficinas e experimentos no laboratório. O lugar tem uma vocação para fazer a conexão com a comunidade local, criando uma ponte entre o conhecimento local tradicional, ciência e tecnologias de baixo impacto ambiental.
Todos os edifícios e áreas do Tekôa estão em comunicação direta com outros setores do parque, como o restaurante Oka, onde as mandiocas, feijão e abóbora produzidos alimentam os trabalhadores e visitantes do parque. Além disso, todos os resíduos orgânicos produzidos no parque são coletados e compostados no Tekôa, produzindo insumo e fertilizante para a horta e agrofloresta.
Contexto, local e projeto arquitetônico
O Ekôa Park foi implementado em uma propriedade privada de 575 acres no coração da Mata Atlântica, localizado na Reserva Biosfera da UNESCO em Morretes, Paraná. A missão do parque é proteger os recursos naturais, promover consciência ambiental, cuidar do bem estar através do contato com a Mata Atlântica como recurso de informação, educação e entretenimento.
Tekôa, uma das áreas do parque, é dedicada a tecnologias, ideias e conceitos de sustentabilidade. Através de um percurso eco-pedagógico, os visitantes exploram de forma lúdica e prática como as sociedades humanas da contemporaneidade podem lidar com os desafios globais, degradação do ecossistema e limitação dos recursos.
O projeto arquitetônico responde a esses desafios e é implementado através da ótica dos princípios da permacultura, entendendo as diferentes zonas, distâncias e conectando os movimentos energéticos e materiais do terreno. Utilizando materiais abundantes disponíveis no território, tecnologias simples e processos construtivos baseados no trabalho cooperativo e no valor do conhecimento tradicional, o desenho busca ser apropriado pelo contexto em que se insere - ambiental, social e econômico.
Pavilhão de oficinas: performance ambiental e princípios construtivos
O projeto arquitetônico é energeticamente eficiente, uma vez que a umidade durante o verão é sanada pela abertura e permeabilidade da estrutura ao vento, fato que também permite que o vento forte do inverno também atravesse sem algum problema. O clima de Morretes é tropical úmido, o que faz com que as sombras sejam fundamentais. Dessa forma, a estrutura tem como referência uma copa de árvore da floresta Atlântica, com um amplo beiral que suavemente pousa na estrutura existente, característica que promove a inserção da arquitetura na paisagem, integrando com as montanhas (Pico do Marumbi) e a floresta. Além disso, o Pavilhão das oficinas está integrado no sistema ecológico, respeitando as árvores e as características do terreno: o design segue o contorno e a topografia, realizando mínima intervenção no terreno.
Os princípios construtivos do Pavilhão das Oficinas são baseados em elementos finos e leves do bambu Phyllostachys Aurea (espécie abundante e facilmente encontrada na região), desenvolvendo uma composição de uma moldura que se repete por 24 vezes. Formas iguais que criam componentes estruturais de bambu, permitindo a possibilidade de produção em escala utilizando um material abundante no Brasil, sem tratamento químico e feito de forma humanizada através de cooperativas.
A estrutura é uma moldura composta de 3 elementos: dois pilares e uma viga. Tais elementos foram pré-fabricados no espaço de trabalho do mestre bambuzeiro Lúcio Ventania, com um pequeno equipe de 3 pessoas. Com os componentes prontos, tudo foi transportado por um pequeno caminhão até o Ekôa park, e em 15 dias toda a estrutura foi montada. Esta lógica de produção dos componentes estruturais de bambu em um pequeno espaço de trabalho tem grande valor para o contexto brasileiro, uma vez que na maior parte do país esse tipo de bambu pode ser encontrado e com pequenas cooperativas é possível criar e produzir tais elementos com pouco investimento. Como diria Ernst Friedrich Schumacher: “small is beautiful”.
Os materiais escolhidos apoiam uma boa performance ambiental, uma vez que possuem baixo impacto, seguindo os princípios da permacultura e da economia circular, respeitando as limitações humanas e do planeta, e criando um design que responde a isso. A estrutura da parede, o piso, a fundação e as portas do antigo estábulo são mantidas (ao invés de destruir a estrutura pré-existente e reconstruí-la), reduzindo o impacto do projeto. Os elementos novos são os bambus e a madeira de demolição, elementos inseridos na lógica circular e abundantes na região.
Tecnologias sociais e impacto na economia local
A espécie de bambu utilizada no projeto é muito utilizada na região por artesãos, no entanto, não é comumente utilizada na arquitetura. A ideia do projeto foi, portanto, desenvolver uma estrutura simples que pudesse ser apropriada e replicada pelos artesãos locais, os quais a longo prazo podem usar dessa possibilidade para gerar uma nova economia e renda para a comunidade local. Apesar dos componentes terem sido pré-fabricados com Lúcio Ventania em Minas Gerais, artesãos locais participaram na implantação e aprenderam as técnicas, sendo inspirados e hábeis a replicá-las.
Os visitantes, estudantes e membros da comunidade local que chegam no espaço são convidados a praticar soluções ecológicas relacionadas ao habitar; qualquer um pode aprender a fazer tijolo de adobe, mudas, plantio agroecológico… Todas as práticas são elaboradas de forma alinhada com o conhecimento local, buscando valorizar a cultura e investigar como agregar valor a esse conhecimento - no sentido de trabalho e renda. Um exemplo é a produção de banana e pupunha em Morretes, que são produtos normalmente vendidos de forma primária. No Tekôa, estes alimentos são manipulados e processados de forma a agregar valor a estes produtos, como tecido e papel da fibra de banana e possibilidades culinárias com o pupunha, produzindo modos de habitar (novos porém antigos) que estejam em harmonia com a ecologia.
Ficha técnica:
- Cliente: Ekôa Park
- Arquiteto: Tomaz Lotufo
- Escritório colaborativo: Sem Muros arquitetura integrada
- Colaborador: Cássio Abuno
- Construtores Bambu: Iberê Sansara, Walmir Matias e Flavio Santos - Lúcio Ventania e equipe Cerbambu
- Apoio: Zé do Bambu, Ana Luiza, Ana Signorini, Flavia Burcatovsky e Lúcia Lotufo
- Obra: Sandro Ribeiro Gonçalves
- Desenhos: Cassia Yebra
- Texto: Marcella Arruda e Tomaz Lotufo