Acústica: por que os arquitetos não deveriam deixar tudo para os consultores

Mais da metade da população mundial vive em áreas urbanas densas. Restaurantes, lojas, hotéis ou escritórios desconfortavelmente barulhentos são suficientes para manter os clientes afastados. Ao planejar uma reunião ou mesmo sair à noite com amigos, estamos conscientes de selecionar um local onde possamos nos concentrar e ouvir um ao outro. Quanto mais barulhento fica nosso mundo, mais difícil é nos concentramos nos sons que realmente queremos ouvir.

Desde o começo dos tempos, nossos ouvidos nos alertaram sobre o perigo que se aproxima. Enquanto sua função permanece a mesma, os perigos de hoje são diferentes do que eram no passado. Sons indesejados podem ter efeitos graves para a saúde, tais como: perda auditiva, pressão alta, dores de cabeça, alterações hormonais, doenças psicossomáticas, distúrbios do sono, redução do desempenho físico e mental, reações de estresse, agressividade, sentimentos constantes de desprazer e redução geral bem-estar. Com essa lista de efeitos colaterais, seria tolice deixar o conforto acústico de nossos espaços apenas para consultores. Quando os arquitetos tem a consciência do conforto acústico, o resultado final pode ser extraordinário.

Como funciona o conforto acústico

Mesmo durante o sono, nosso ouvido externo, médio e interno recebe, transmite e detecta o som, respectivamente. As pressões sonoras fazem com que o tímpano vibre, estimulando os nervos no ouvido interno. Diferenças na pressão determinam o volume, medido em decibéis. Os ciclos de vibração por segundo determinam o pitch ou a frequência, medida em Hertz.

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© Saint-Gobain / illustration by Elisa Géhin

A qualidade acústica interna depende de quão bem as fontes de som são controladas. Ruídos externos, internos, de impacto e de equipamentos são transmitidos através do ar ou da textura do edifício. A maneira que o ouvido humano percebe o som depende diretamente dos níveis de reverberação e absorção dentro do edifício. Para avaliar o conforto acústico de um edifício, o nível sonoro e a acústica da sala são avaliados. O nível de som é medido por níveis de ruído de fundo versus pico. A acústica da sala é medida pelo tempo de reverberação, nível de inteligibilidade e nível de privacidade. Dependendo da funcionalidade do edifício ou sala, diferentes requisitos acústicos serão aplicados.

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© Jasper Sanidad

Como projetar para atingir conforto acústico

Ao projetar para o conforto acústico, considere as necessidades dos ocupantes, juntamente com fatores externos e arquitetônicos: o programa da construção, hábitos culturais, tipos de ruído, espectro de ruído, sistemas de construção e materiais. É desafiador prever o som com precisão. Mas é imprescindível antever os níveis de ruído externos por meio da análise do local e uma narrativa explicando os requisitos de desempenho do edifício, a estrutura do edifício e as necessidades de equipamento técnico. Análises no local não podem ser substituídas por simulações computacionais, já que elas não possuem ouvidos humanos. Em última análise, o desempenho acústico se resume aos acabamentos

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© Saint-Gobain / illustration by Elisa Géhin
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Palo Alto Networks Israel / Setter Architects. Image © Itay Sikolski

Onde os arquitetos devem se envolver?

Uma vez que as necessidades programáticas são conhecidas (e os níveis de ruído corretos já são determinados com a ajuda de um especialista), é hora de selecionar os materiais. É exatamente neste ponto que os arquitetos devem estar mais envolvidos e onde podem fazer a diferença no desenho e na expressão do edifício (dentro e fora). Existe uma grande variedade de materiais personalizáveis disponíveis, tais como painéis acústicos de parede e forro que são uma excelente maneira de reduzir os reflexos sonoros. Também o vidro acústico integra uma camada intermediária de filme para diminuir a transmissão de som sem sacrificar a transparência, e isso pode ser uma ótima maneira de criar subdivisões interiores em espaços modernos e reduzidos, por exemplo. E nunca devemos esquecer o uso e a aplicação corretos do selante à prova de som, que evita que ruídos indesejados escapem de uma sala através de falhas mínimas e rachaduras. Finalmente, um teste no local garante que o desempenho especificado seja alcançado.

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© Jeffrey Totaro

A acústica é um elemento-chave em todos os tipos de construção, desde hospitais, edifícios educacionais, centros esportivos até residenciais ou locais de trabalho e música. Cada tipologia na arquitetura terá seus próprios requisitos acústicos e é por isso que os arquitetos não podem projetar um edifício confortável e sustentável sem a pesquisa e o conhecimento anteriores. Para alcançar um espaço acústico perfeito, devemos estar cientes dos materiais tecnologicamente avançados que mantêm a acústica de classe mundial. À medida que as cidades se adensam, os vizinhos se aproximam, as pessoas trabalham em casa e os tipos de construções se tornam mais e mais mistas, as paisagens acústicas internas estão evoluindo. As alterações climáticas já amplificaram os níveis de ruído, aumentando o nosso uso de sistemas de ar condicionado. As tempestades estão se intensificando, provocando mais vibrações. Nossos prédios vão exigir um melhor isolamento para proteger os ocupantes dos ruídos internos e externos. No final das contas, a maneira como “ouvimos” em um espaço afeta não apenas nossa apreciação, mas também nossa produtividade, nossa capacidade de aprender, nosso sono, conforto e bem-estar geral.

Publicado originalmente em 11/02/2019, atualizado em 28/04/2021

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Event Hall / SPACES Architecture. Image © Guillaume Girod

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Sobre este autor
Cita: Leardi, Lindsey. "Acústica: por que os arquitetos não deveriam deixar tudo para os consultores" [Basic Principles of Acoustics: Why Architects Shouldn’t Leave It All To Consultants] 30 Abr 2021. ArchDaily Brasil. (Trad. Souza, Eduardo) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/910936/principios-basicos-de-acustica-por-que-os-arquitetos-nao-deveriam-deixar-tudo-para-os-consultores> ISSN 0719-8906

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