O percurso que Vincent Van Duysen tem percorrido desde 1990 mostra grande consistência e uma visão coerente do projeto. Desde o início, promoveu-se com um certo número de lojas. E isso não foi coincidência. Van Duysen tem dito em diversas ocasiões que se não tivesse tido a oportunidade de estudar arquitetura, certamente teria seguido uma carreira na moda. Assim, não é surpreendente que após os seus estudos em Sint Lucas Gent se tenha mudado para Milão, uma cidade de renome como uma das capitais mundiais do design e da moda. Em Milão ficou convencido que um designer devia não só expressar um conceito na forma mais clara possível, mas deveria também prestar atenção a todos os detalhes significativos.
O design das suas lojas são criações arquitetônicas, em que a escolha dos materiais e os detalhes precisos são cruciais. Tal como John Pawson e David Chipperlield, decidiu promover-se através destes modestos projetos. As suas experiências com lojas levaram por exemplo a projetos para a grande cadeia de lojas italiana La Rinascente.
Projetos Privados
Van Duysen não começou com grandes encomendas públicas, mas com pequenas encomendas residenciais e comerciais. Na edição de número 4 da revista AMAG, as suas habitações privadas estão abundantemente presentes. Num contexto Belga, isto certamente não é exceção. Em comparação com a Holanda ou Inglaterra por exemplo, existem muitos mais clientes privados que querem construir uma habitação individual. A relação entre o arquiteto e o cliente é diferente. Van Duysen fala de casas “feitas à medida”, espaços privados desenhados com o completo conforto do cliente em mente. Com um tão elevado nível de envolvimento da parte do cliente, é extremamente importante que o arquiteto tenha um bom entendimento dos seus desejos. Por outro lado, as casas tendem a durar mais dos que os seus proprietários, pelo que a maioria dos designers será consciente da necessidade de gerir gostos pessoais demasiadamente específicos. O projeto que atraiu a atenção do mundo da arquitetura para Van Duysen como alguém capaz de algo mais do que apenas habitação foi sem dúvida o edifício de escritórios Concordia em Waregem (1998). O seu primeiro projeto público foi a pousada de juventude em Antuérpia (2004-2012). no qual conseguiu redefinir este tipo de projeto.
Um detalhe não é um detalhe
Embora demorada, a atenção ao detalhe é essencial e não apenas acidental no processo, de acordo com a filosofia de Van Duysen. Especificações detalhadas são altamente importantes na implementação do processo. Muitas vezes, no entanto, o significado do detalhe e subestimado, mesmo completamente minimizado, porque "detalhe' é visto como algo de menor importância que é sempre secundário em relação à grande ideia. Para Van Duysen, a atenção ao detalhe é fundamental: as pequenas coisas não devem ser negligenciadas porque a intensidade da ideia essencial deve estar presente até mesmo a este nível. Isto foi também algo que aprendeu estudando Mies van der Rohe: que a essência está nos detalhes. Van Duysen alcança o seu próprio padrão elevado de acabamento através da combinação da utilização de profissionais altamente motivados e constante monitorização de cada projeto por si mesmo e pelos membros da sua equipa. Padrões elevados exigem um orçamento elevado, é verdade, mas por outro lado, o arquiteto ajuda a sustentar a perícia técnica através do seu trabalho. Medições precisas em vez de confiar na pistola de silicone para encobrir erros. Ele também se interessa por outro aspecto muitas vezes negligenciado da fase de construção: que os arquitetos podem dar a oportunidade aos artesãos de criar algo significativo de que se possam orgulhar. Os seus objetos no sector da habitação deram-lhe a oportunidade para realizar projetos de mobiliário, design de cozinhas e pequenos objetos produzidos por empresas Belgas e internacionais de renome.
Em direção a uma arquitetura “visualmente silenciosa'
Para Van Duysen, não ha necessidade de chamar a atenção com formas virtuosas. Ele não tem interesse no efeito visual de curta duração: os seus projetos são caracterizados pela sua identificabilidade e conciliabilidade. O trabalho de Van Duysen é uma recusa de tudo o que e aparatoso, que tenta ser espetacular. O seu trabalho não é sobre uma postura não-conformada e intelectual, ou sobre produzir ideias boas, mas superficiais. Para ele, tangibilidade é tudo, a transformação de uma ideia num todo visual real e surpreendente. Satisfação táctil e experiência visual reinam de forma suprema.
A procura da forma monolítica é uma das preocupações na arquitetura moderna. O seu exemplo mais obvio é a habitação VDV em Zonhoven (1999-2007). Isso também é algo presente nos seus projetos mais recentes, como a casa de campo em Tielrode. Os três novos volumes receberam um perfil idêntico e um exterior em madeira, tornando o complexo dificilmente reconhecível a uma certa distância. Van Duysen obtém aqui o mesmo objetivo que Álvaro Siza, que também remodelou e aumentou uma propriedade próxima de Ostend. O objetivo é ser pouco reconhecível, sem voltar atrás num pseudo-estilo de propriedade, visto frequentemente na Flandres.
Muitas pessoas são convencidas pela obsessão que inovação e dinâmica são sinónimo de formas estranhas, orgânicas, que podem ser produzidas por computador. Mas este não é claramente o caso de Van Duysen. Num mundo quase poluído por estímulos visuais, certamente a arquitetura tem outro papel. Não deve tentar ser efémera como a moda ou os vídeos pop, por exemplo. Está condenada a exercer uma função diferente, nem que seja pela duração de todo o processo arquitetônico. Este problema foi claramente expresso pelo arquiteto Austríaco Adolf Loos no início do século XX.
A função da arquitetura é criar contextos autênticos nos quais podemos estar em paz, nos quais as multitudes do mundo se podem abrigar. É uma busca pela intensa simplicidade para contrabalançar a violência visual do mundo. Esta busca pela nobre simplicidade não tem nada a ver com preguiça: é o resultado de uma convicção de que os seres humanos necessitam de espaços harmoniosos. É muito mais uma petição por um retorno a uma abordagem na qual o silêncio pode reclamar o seu lugar.
Seria demasiado fácil descrever o trabalho de Van Duysen como 'minimalista". Isto pode levar a um paradoxo de que a execução simples e precisa é frequentemente mais cara embora aparentando oferecer menos. Num mundo em que somos bombardeados com imagens, muitas pessoas não conseguem entender ou aceitar isto.
'Verwechseln Sie bitte nicht das Eínfache mit dem Simplen' (Não confundir simples com simplicidade.)
Mies van der Rohe
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