O Brasil possui atualmente 167.060 arquitetos e urbanistas ativos e registrados no Conselho de Arquitetura e Urbanismo. A maioria, 63,10% (105.420) são mulheres (105.420), enquanto 36,90% (61.640) são homens (61.400). Em 2018, os percentuais eram respectivamente de 62% e 38%. Essa predominância tende a aumentar nos próximos anos, uma vez que a parcela de mulheres entre estudantes é bem maior: 67%.
Para comemorar o Dia Internacional da Mulher de 2019, o CAU presta uma homenagem especial a elas, apresentando trajetórias inspiradoras de arquitetas e urbanistas de todo país. Os perfis estão disponíveis em www.caubr.gov.br.
Entre as protagonistas estão a jovem carioca Carla Juaçaba, hoje uma das arquitetas brasileiras mais em evidência no exterior; a paulista Rosa Kliass, autora de projetos paisagísticos de grande escala como o Parque do Anhangabaú (São Paulo) e o Mangal das Garças (Belém); a mineira Carina Guedes, do “Arquitetura na Periferia” de Belo Horizonte ; e os coletivos “Arquitetas Invisíveis” e “Arquitetas Negras”.
“Com essas histórias buscamos fazer justiça dando maior visibilidade ao trabalho de nossas colegas. A função social da profissão é um desafio para todos os profissionais da área e o conjunto formado pelo público feminino é essencial para a construção de cidades mais inclusivas”, afirma o arquiteto e urbanista Luciano Guimarães, presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR). “Não por acaso, a agência Habitat da ONU dá ênfase às mulheres no planejamento urbano, considerando que a cidade segura para as mulheres é segura para todos”, complementa.
Radiografia
O CAU também divulgou uma radiografia mostrando a força feminina na Arquitetura e Urbanismo do Brasil. Na faixa etária até 25 anos, as profissionais representam 79% do total de arquitetos e urbanistas. Ou seja, três em cada quatro. Entre 26 e 30 anos, o percentual é de 72%. A maioria se mantém até a faixa dos 60 anos, acima da qual os homens assumem o posto com 60%.
Na distribuição por Estados, São Paulo naturalmente, por ter o maior contingente de profissionais (53.541), possui o maior número de arquitetas e urbanistas: 33.057, em contraposição a 20.484 homens. Em termos percentuais, 11 Estados estão acima da média nacional de arquitetas e urbanistas: RN, AL, ES, MG, PE, GO, PB, SC, MT, PR e RS. O DF e o PA empatam. A menor presença ocorre nos Estados do AC e do AP, com percentuais abaixo de 50%.
Diagnóstico Inédito
O Conselho de Arquitetura do Brasil divulgou ainda um diagnóstico inédito com outros aspectos da presença feminina no setor.
Como reflexo da maior presença feminina no mercado de trabalho, as arquitetas e urbanistas são a maioria entre os profissionais que emitem RRTs (Registros de Responsabilidade Técnica) de projetos ou obras até o número de 50 por ano. Com 47%, quase se igualam aos homens na emissão de mais de 50 RRTs por ano.
Em relação às atividades, nos últimos dois anos 34% dedicou-se à concepção de projetos, 16% à construção, 15% à arquitetura de interiores, 5% ao serviço público, 4% ao planejamento urbano e regional e 3,3% à arquitetura paisagística, para citar as seis principais.
Esse desempenho, contudo, não tem uma percepção proporcional pela sociedade, situação que se repete em outros países. A historiadora espanhola Beatriz Colomina, professora da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, escreveu muito sobre gênero e arquitetura. É dela a afirmação de que “as mulheres são os fantasmas da arquitetura moderna, sempre presentes, cruciais, mas estranhamente invisíveis”.
Não se trata apenas de mercado de trabalho. A busca de melhores condições femininas na profissão passa também pela ocupação de posições de destaque nas organizações do setor, em alguns casos minoritária, o que tem ensejado ações objetivando corrigir o desequilíbrio. O CAU/BR, por exemplo, foi recentemente admitido pela ONU na “Plataforma de Empoderamento das Mulheres” (WEP) e realizará este ano uma série de debates sobre o tema, lembra seu presidente, Luciano Guimarães.
A questão não é circunscrita ao interior da profissão. A expectativa é de que à medida em que tenha maior visibilidade a presença majoritariamente feminina no setor colabore para reverter o cenário de produção de cidades sem preocupação com as necessidades das mulheres e das crianças.
Para Beatriz Colomina, corrigir esse quadro “não é apenas uma questão de adicionar alguns nomes ou mesmo milhares à história da Arquitetura. Não é apenas uma questão de justiça humana ou precisão histórica, mas uma maneira de entender mais completamente a arquitetura e as formas complexas em que é produzida”.
Saiba mais sobre o diagnóstico em www.caubr.gov.br