A arquitetura, em todas as suas formas, possui a capacidade inata de despertar as mais distintas emoções nos seres humanos. Consequentemente, muito se discute sobre a relação entre a arquitetura, a paisagem e o bem-estar das pessoas.
Na última edição do Fairytales Competition, organizado pela Blank Space no ano passado, a arquiteta Katie Flaxman (Studio 31 Landscape Architects), apresentou uma história surpreendente. Um arquiteto chamado Horace, que sofria muito com o seu frágil estado de saúde mental e sua filha, Rowan. A historia fictícia criada por Katie descreve a jornada de Horace através da arquitetura das diferentes instituições de saúde por onde ele passa, e como um bom projeto de arquitetura pode colaborar para com o bem-estar físico e mental das pessoas doentes.
Transcrevemos aqui alguns trechos da surpreendente história criada por Flaxman, acompanhada pelas elegantes ilustrações de arquitetura de Sam Wilson.
“É um quarto bastante quadrado, quadrado até demais, com paredes de plástico e um forro esponjoso. Através de uma janela bizarra e sem sentido, posso ver os tijolos vermelhos da fachada do prédio em frente. Ele projeta sombra onde deveria haver luz ... Todos os edifícios deveriam estar voltados para o leste, foi uma das primeiras coisas que aprendi na universidade. O sol deve bater no seu rosto quando você estiver saindo de casa pela manhã e também, quando estiver voltando pra casa depois de um longo dia de trabalho.” - Horace
“Ele era arquiteto, engenheiro, na verdade. O melhor engenheiro que já existiu e que agora, está condenado a passar o resto de sua vida entre quatro paredes e apenas uma janela sem vista nem luz. Me parece que ele esteve doente por muito, muito tempo; completamente desmemoriado vivendo uma vida sem sentido. Nossos olhos não enxergam aquilo que a mente não recohece: "Seriam todos os arquitetos excêntricos como meu pai?", É o que minha mãe costumava se perguntar."- Rowan
“Um dia isso foi um edifício! Construído com tábuas de carvalho que se estendem infinitamente em direção ao céu, emoldurando belas e generosas janelas. Aberturas construídas com madeira de bétula cinza e faia preta. Estas mesmas árvores, ainda vivas do lado de fora, lançavam sombras que oscilavam escurecendo o piso de madeira do lado de dentro. Era um edifício compacto mas não muito pequeno, despretensioso e cativante. A luz entrava pela janela fazendo a arquitetura respirar. A vida que um dia corria lá fora, como a seiva no tronco da árvore, agora se esparramava pelos espaços do edificio iluminado a vida das pessoas que aqui moravam. Eu ainda posso sentir essa energia circulando aqui dentro.”- Horace
“Ele tocava de leve a superfície das paredes de madeira com a ponta de seus dedos, sentindo a aspereza daquele material rústico que de alguma forma retribuía aquele suave contato. Os arbustos do lado de fora farfalharam contra o contato com o seu braço estendido e, andando com o olhar fixo no horizonte, ele me fez uma pergunta: “Diga-me. Quem foi que construiu esta casa? ”... Sua pergunta grudou em mim como o vapor de uma sauna úmida; quente e sufocante. "Que tipo de pessoa é capaz de construir uma casa como esta?" Eu engoli em seco e, finalmente, com a voz trêmula, eu disse, "Foi você quem a construiu pai. Foi você". - Rowan
A organização do concurso deu o primeiro prêmio para os arquitetos Louis Liu e Senyao Wei pelo trabalho intitulado “Deep Pool That Never Dries”, uma história que gira em torno da veracidade das notícias que circulam em uma cidade, e o impacto delas na vida daquelas pessoas que confiam em tudo aquilo que é dito. Na edição deste ano, o júri será composto por Tatiana Bilbao, Mark Foster Gage, Jürgen Mayer e Moshe Safdie. O concurso pretende premiar os contos de fada mais surpreendentes do mundo da arquitetura.