Após serem vítimas de bombardeio, os edifícios parecem ter apenas um destino: a destruição. Severamente danificada durante a Guerra Civil Espanhola, a Igreja Gótica de Vilanova de la Barca (Lleida, Espanha), do século XIII, permaneceu abandonada desde 1936.
Foi apenas quase 80 anos depois que os remanescentes da estrutura – partes das naves, a fachada oeste e a abside ao leste – passaram por um processo de restauração e reforma. Desta vez, no entanto, o edifício não foi concebido para ser usado como uma igreja, mas como um salão multiuso.
Apesar de sua abordagem contemporânea, as intervenções da AleaOlea não escondem o passado do edifício: ainda é possível entender sua história como um local de culto da era medieval ou como uma ruína da guerra. Nesse sentido, o projeto é tanto um novo espaço comunitário quanto um monumento à memória da tradição católica espanhola e da história beligerante do país.
A transição gradual do antigo para o novo é construída através do arranjo de tijolos brancos, delicadamente colocados sobre as antigas paredes de cantaria. Esta fachada de tijolo parcialmente sobreposta foi finalizada com um novo telhado de duas águas e telhas cerâmicas, criando texturas e efeitos de iluminação que destacam as estruturas já dramáticas típicas das igrejas góticas, como a abóbada de arcos e os dois contrafortes laterais que marcam a transição entre a nave principal e a abside. Como os arquitetos afirmaram: “todo o sistema é concebido como um novo fechamento arquitetônico de cerâmica, gentilmente apoiado nos restos das antigas paredes”.
Se de fora a nova estrutura visa restaurar a volumetria e a aparência original da igreja, é através de sua textura e luz que o projeto consegue mudar a percepção do interior do edifício, adaptando graciosamente sua imagem ao seu novo uso: um espaço flexível para a comunidade. Novas janelas, paredes brancas e a adição de um pátio intensificam a luz natural que agora preenche o espaço. E, talvez em uma referência ao mapa de Nolli, ao mudar o sistema de circulação, o projeto cria um limiar entre o exterior e o interior que faz com que o edifício funcione simultaneamente como uma extensão do espaço público externo.
Todas são operações simples e, no entanto, juntas, elas realizam algo extraordinário: mudar a imagem e a função de uma tipologia altamente carregada, sem trair ou ocultar seu passado. Além disso, “estabelecendo um diálogo arquitetônico entre o antigo e o novo, o passado e o presente”, o projeto traz de volta aquilo que foi provavelmente a perda mais importante: um lugar para as pessoas se reunirem como uma comunidade.