Do CAD ao BIM. Quais as ferramentas do arquiteto brasileiro?

O desenho auxiliado por computador (CAD) é hoje o sistema mais utilizado como ferramenta de produção de desenho técnico entre profissionais e acadêmicos da construção civil. Através do AutoCAD (Autodesk) se tornou popular por representar geometrias que traduziam as intenções de projeto em duas dimensões. Lançado nos anos 80, ainda muito atual e utilizado por grandes corporações, estende sua utilidade através da tradição que construiu ao longo de quatro décadas de mercado.

CAD é uma resposta da tecnologia à necessidade do homem moderno em representar e documentar geometrias complexas de forma precisa e segura, ou seja, uma solução que evoluiu ao longo dos tempos - desde os séculos XV/XVI durante a Renascença na busca pela precisão através da matemática, simetria e signos do  divino - até os registros do pós-guerra, onde havia a necessidade de reproduzir de forma acelerada habitações, estradas e maquinários durante o século XX.

Art Déco, Modernismo, Pop Art e vários outros movimentos artísticos influenciaram de forma direta não somente na produção de gráficos, mas na necessidade da tecnologia em reinventar as ferramentas de representação de forma a refletir as necessidades do homem contemporâneo.

Gary Campbell-Hall - Basilica di San Pietr. Image via Flickr

Diante do advento de novas tecnologias e a transformação do comportamento humano durante o século XXI, quais seriam os próximos passos para documentar e representar projetos de arquitetura?

Nos anos 60 o professor de Design e Ciência da Computação Charles M. Eastman, já articulava sobre um sistema que interpretasse todas as relações entre forma e função dos objetos de projeto. Somente um arquivo onde todas as relações estivessem conectadas através de uma única plataforma. Esse conceito evoluiu para o que hoje conhecemos como modelo paramétrico e se popularizou através da habilidade de grandes mestres da construção em transformar formas complexas em arquitetura através da tecnologia.

Galaxy Soho / Zaha Hadid Architects. Image © Iwan Baan

Diante o cenário das grandes construções e a notável inquietude do profissional do século XXI em maximizar suas múltiplas funções e habilidades, a ferramenta que vem se popularizando através da tecnologia BIM (Modelo da informação da construção) é o REVIT, também um software desenvolvido pela Autodesk.

“Se o CAD é a evolução da prancheta, o BIM seria a evolução da maquete. Modificável de acordo com as relações entre os elementos conjuntos e compreensível através da geometria como um resultado final de um modelo paramétrico inteligente.” Max Holanda.

No ano de 2017 desenvolvi uma pesquisa que tinha como objetivo comparar ambos os softwares. O questionamento surgiu ao observar que vários escritórios estavam migrando do AutoCAD para o Revit sob a justificativa de que o Revit seria uma ferramenta mais adequada ao tempo de execução das etapas de projeto assim como uma solução para representar arquitetura de forma tridimensional.

Cortesia de Max Holanda

No Brasil vários outros softwares estão em discussão no ambiente profissional, inclusive o AutoCAD ainda é muito utilizado, porém é nítido que os escritórios estão vivendo um movimento migratório para as ferramentas BIM. A hipótese é de que os profissionais da construção civil estejam sendo influenciados pelo aperfeiçoamento de seus projetos. Já no âmbito público, a partir do ano de 2021 o Brasil começa a implantar modelos BIM em obras públicas devido a obrigatoriedade estabelecida pela Estratégia Nacional de Disseminação do BIM de 2018.

Migrar para o BIM significaria deixar de produzir desenhos bidimensionais como produto de projeto para alimentar um protótipo em software que carrega informações além da geometria - compatibilização entre engenharias, etapas de obra, orçamento, levantamento de materiais e eficiência energética - como exemplos dos atrativos que convidam profissionais a abandonar a tecnologia CAD.

Para as escolas de arquitetura significa reestruturar a didática sobre o desenho técnico, não mais através da ótica do modelo tradicional de arquiteto, o novo egresso já é contemporâneo as necessidades do mercado e entende o impacto das novas tecnologias em sua construção profissional. Uma das justificativas dos mestres em Arquitetura para não implementar somente a tecnologia BIM nas matérias de computação gráfica/ desenho técnico computadorizado é a preocupação em como os estudantes entenderiam princípios básicos de geometria construtiva; como a lógica da construção tridimensional ensinaria a relação direta entre os componentes de projeto da mesma forma que a prancheta e o CAD.

Southern California Institute of Architecture. Image via Wikipédia

Arquitetos, engenheiros e outros profissionais da construção civil estão interessados em otimizar sua produção através dos modelos paramétricos. Podemos observar que ao longo dos séculos sempre houve uma busca por desenvolver ferramentas que melhor representasse arquitetura e também como elas sempre registraram o cenário do mundo em que foram criadas. Hoje, observando o comportamento humano diante as tecnologias, é fácil compreender porque existe pressa em abandonar ferramentas tradicionais e investir em novas formas de produzir projeto.

Sobre este autor
Cita: Max Holanda. "Do CAD ao BIM. Quais as ferramentas do arquiteto brasileiro?" 07 Abr 2019. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/914299/do-cad-ao-bim-quais-as-ferramentas-do-arquiteto-brasileiro> ISSN 0719-8906

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