Este ano, o Prêmio Pritzker anunciou o japonês Arata Isozaki como laureado de 2019. O arquiteto, desde a década de 1960, é considerado como um visionário pelos seus pares e tem seu trabalho vinculado a uma articulação entre as culturas ocidental e oriental, reinterpretando influências globais em sua arquitetura. Neste episódio #71, nossa conversa abrange tanto o campo multicultural pelo qual passou Isozaki em mais de 100 obras construídas, quanto pela peculiaridade do conceito de “Ma”, interpretação dos espaços intersticiais de uma obra arquitetônica.
No Arquicast desta quinzena, revisamos os dois anos de premiação do Pritzker desde nosso episódio #20, que além de discutir o prêmio em si, procurou observar a tendência do júri na premiação do escritório hispânico RCR Architectes (Rafael Aranda, Carme Pigem e Ramon Vilalta) e do indiano Balkrishna Doshi. O Pritzker de 2019 pode parecer, num primeiro momento, um retorno à tradicional linha de premiar o “conjunto da obra”. Mas, se observarmos de forma mais aprofundada, percebemos que o trabalho de Isozaki vai além. Segundo o próprio Júri, “sua arquitetura repousa na compreensão profunda, não apenas da arquitetura, mas também da filosofia, história, teoria e cultura.”
Arata Isozaki é discípulo de Kenzo Tange, ganhador do Pritzker de 1987, com quem trabalhou por 9 anos depois de sua graduação. Fez parte, junto com Tange, do Movimento Metabolista, fundado em 1959, onde desenvolveu-se a ideia de cidade do futuro, através de megaestruturas e crescimento biológico urbano. O Plano para a Baía de Tóquio (1960) de Kenzo Tange foi o mais conhecido do grupo dos Metabolistas. A contribuição de Isozaki foi a Cidade no Ar, feita em 1962: pensada em formato de árvore, o plano procurava dar “uma resposta à rápida taxa de urbanização”.
O arquiteto foi também o primeiro de seu país a trabalhar em projetos fora do Japão. Edifícios como o Museu de Arte Contemporânea em Los Angeles (1986) e o Team Disney na Flórida (1991) são suas obras mais famosas nos EUA. Na Europa, foi responsável pelo Estádio Sant Jordi para as Olimpíadas de 1992 e pelo Tribunal de Entrada da Fórum La Caixa (1992), ambos em Barcelona. Além disso, levou sua arquitetura para países como a China, Qatar, Itália e Grécia, atendendo a diferentes programas e escalas.
O trabalho de Isozaki foi interdisciplinar, trabalhando com cenografia, design de moda, além de crítico e escritor. Curiosamente, o arquiteto fez parte da primeira geração de jurados do Prêmio Pritzker, entre os anos 1979 a 1984. Além disso, Isozaki é o oitavo japonês a ganhar o prêmio, sendo o Japão o país mais laureado na premiação.
Entre o início de sua carreira, influenciado pelos efeitos das bombas atômicas de Hiroshima e Nagazaki até os dias atuais, Arata Isozaki é um arquiteto que sempre demonstrou qualidade projetual e a reflexão sobre sua própria arquitetura. Neste episódio, procuramos discutir seu trabalho, sua maneira de compreender o espaço arquitetônico e as peculiaridades presentes na cultura oriental. Apesar desta cultura ser o fio condutor de seu pensamento, Arata Isozaki não se nega a reinterpretar suas formas, na busca por uma constante atualização.
Texto de Adilson Amaral.