O projeto Passeia, Jardim Nakamura é uma iniciativa piloto de legibilidade cidadã; onde, ao utilizar-se do engajamento comunitário como forma de estabelecer vínculos, co-criou e implantou, juntamente com os moradores, um sistema de sinalização no bairro Jardim Nakamura, localizado no Jardim Angela em São Paulo/SP. O projeto foi desenvolvido pelo Instituto COURB e o SampaPé!, contando com o apoio financeiro do Fundo Casa Cidades. Com a proposta, se objetivou promover o reconhecimento do bairro pelos moradores, bem como a conquista de maior conforto e segurança nos deslocamentos a pé, o estímulo a conexões na relação com o espaço e a apropriação das histórias locais. O projeto buscou, nessa perspectiva, facilitar a leitura do território, fomentando o reconhecimento das histórias e dos próprios atores do bairro; além de também indicar os lugares mapeados, as distâncias a pé e o recorte territorial.
A medida do quanto uma rua, bairro ou cidade pode ser legível é definida por como as suas formas, elementos, sinais e sistemas facilitam ou dificultam para as pessoas se localizarem e chegarem aos seus lugares de destino na cidade. Os modos de acesso à informação, disponibilizados aos cidadãos, têm impacto direto em como a nossa sociedade se desloca e se apropria do espaço urbano. A simbologia e a representação de elementos tangíveis e intangíveis que configuram a vida social urbana podem facilitar a interpretação e o reconhecimento espacial, bem como potencializar essa interação. De maneira geral, projetos que contribuem para consolidar essa orientação são encontrados em regiões centrais ou turísticas das cidades. No entanto, ao identificar e entender, junto aos moradores, quais são as formas de articulação, criação e sociabilidade existentes no bairro Jardim Nakamura, foi possível observar a potencialidade em desenvolver comunitariamente um projeto capaz de identificar e contar as histórias e criações enraizadas nesse recorte da cidade.
O processo de desenvolvimento do projeto Passeia, Jardim Nakamura pode ser definido em 5 etapas: Aproximação, Criação, Confecção, Implementação e Avaliação. A primeira etapa, de Aproximação, foi o momento de analisar as dinâmicas sociais, aproximar-se da população local, compreender ativos existentes na comunidade, identificar lideranças do bairro, informar, sensibilizar e engajar a população no projeto. Essa etapa se desenvolveu através de dois mapeamentos: um mapeamento e engajamento de atores e uma oficina de mapeamento afetivo. Após o momento inicial, decorreu-se a etapa de Criação do projeto, com a elaboração do sistema de legibilidade e identidade visual, baseada em elementos e percepções identificadas com os moradores.
As sinalizações criadas podem ser compreendidas conforme três tipos: de indicação ou direcionais, que aponta em que direção e a que distâncias e tempo de caminhada os locais de interesse estão; de localização ou navegação, que aponta onde a pessoa está no bairro com apoio de um mapa; de informação, que conta a história dos lugares. Ainda nessa etapa, foram feitas entrevistas que objetivavam compreender dinâmicas, capturar a história oral e desenvolver o conteúdo-base das sinalizações.
Na terceira etapa, denominada de Confecção, todo o material co-criado foi produzido e a identidade local desenhada foi aplicada transversalmente nas sinalizações. Na Implementação, realizou-se um evento de mutirão comunitário para a instalação das sinalizações, envolvendo voluntários, organizações e moradores locais.Três intervenções visuais em pontos estratégicos do bairro foram realizadas pelo Manifestintação Crew e CicloSocial Arte, grupos locais de grafites, representando temáticas de mobilidade ativa e a valorização da identidade comunitária; isso deixou o bairro ainda mais colorido.
Crianças também foram envolvidas no processo: enquanto acontecia o mutirão para instalação, aplicou-se uma ferramenta desenvolvida pelo Instituto COURB para engajamento, denominada Caça ao Tesouro. Nessa atividade, os “urbanistas mirins” receberam pistas de locais atrativos, localizaram os pontos no mapa e exploraram o território. A metodologia buscou, sob uma abordagem lúdica, trazer elementos de orientação em mapa e contar a história do bairro através da leitura das sinalizações e das dicas da caça ao tesouros. No Passeia, Nakamura os elementos e locais viraram personagens e as crianças puderam deixar suas marcas nas ruas, aplicando pinturas com stencils para reforçar os caminhos entre as sinalizações e contribuindo com a transformação proposta.
Próximos passos:
Como etapa final e com a expectativa de sustentabilidade do projeto, moradores receberam uma capacitação em turismo de base comunitária e treinamento para guiarem o primeiro passeio turístico em roteiro a pé, que selecionou alguns dos pontos sinalizados para aprofundar a história e apresentar a potencialidade dos projetos locais, além de dar destaque às lutas coletivas e suas conquistas para o bairro.
Paralelamente ao roteiro a pé, aconteceu a etapa de Avaliação. Através de ferramentas quantitativas e qualitativas, procurou-se entender os impactos da intervenção, partindo desde como as placas estão sendo conservadas até a avaliação em relação ao seu uso e compreensão. Além disso, foram feitas entrevistas semi estruturadas com participantes sobre as conexões e oportunidades criadas através da iniciativa. Todo o processo de projeto, assim como os resultados atingidos serão compartilhados em uma publicação final sobre Legibilidade Cidadã, em fase de elaboração. O objetivo do conteúdo é inspirar ações em outros bairros de São Paulo e de outras cidades a partir dos aprendizados obtidos com a experiência piloto no Jardim Nakamura.