Projetos de escolas e creches para diferentes climas

Crianças europeias passam aproximadamente 200 dias por ano nas suas escolas primárias. Ainda que grande parte do mundo não tenha toda essa carga letiva, depois da própria casa, geralmente o local em que as crianças e adolescentes passam mais tempos são nas instituições educacionais. Podem ser locais de aprendizado, brincadeiras e convívio. E, por mais triste que possa ser, também podem ser os locais seguros, de oportunidades e mesmo de alimentação para crianças que vivem em ambientes de abandono, fome e violência. Através de uma pesquisa ampla no Reino Unido, concluiu-se que as diferenças nas características físicas das salas de aula explicavam 16% da variação no progresso da aprendizagem ao longo de um ano. Ou seja, quanto mais bem projetada a sala de aula, mais bem as crianças se dão academicamente. Ainda segundo o estudo, os fatores que mais influenciam são a luz solar, a qualidade do ar interno, o ambiente acústico, a temperatura, o projeto da própria sala de aula e a estimulação dentro dela.

El Til·ler School / Eduard Balcells + Tigges Architekt + Ignasi Rius Architecture. Image © Adriá Goula

Mas com a diversidade de climas presentes no mundo, atingir todos esses parâmetros pode ser difícil em alguns casos. As estratégias bioclimáticas adequadas para cada contexto podem definir o sucesso ou o fracasso do projeto educacional. Selecionamos alguns projetos em diferentes climas e contextos para explicitar as possibilidades de se trabalhar em cada um dos climas para atingir projetos interessantes:

Climas quentes e secos

Nos climas quentes e secos, é imprescindível mitigar os efeitos da amplitude térmica (diferença de temperatura entre dia e noite). Portanto, a utilização de materiais de grande inércia térmica é importante, fazendo com que o calor absorvido durante o dia seja liberado durante a noite. Outra questão é encontrar o equilíbrio entre máxima iluminação com a mínima entrada de radiação, buscando proteger os edifícios do sol intenso, às vezes com brises, persianas, treliças, ou mesmo com o uso da vegetação.

Escola Primária em Gando / Kéré Architecture

Ao descolar a cobertura das paredes espessas de tijolos, Francis Kéré proporciona ventilação e uma iluminação interna agradável, através das persianas.

Escola Primária em Gando / Kéré Architecture. Image © Erik-Jan Ouwerkerk

Sala de Aula Multifuncional Mazaronkiari / Marta Maccaglia + Paulo Afonso

A permeabilidade das persianas de madeira, aliados aos beirais pronunciados, fazem dessa sala de aula um bom exemplo de arquitetura adaptativa ao entorno.

Sala de Aula Multifuncional Mazaronkiari / Marta Maccaglia + Paulo Afonso. Image Cortesia de Marta Maccaglia, Paulo Afonso, Piers Blake

Escola Primária Comunitária para Meninas / Orkidstudio

Além de utilizar a inércia térmica, ventilação cruzada e efeito chaminé, a conformação de pátios internos proporciona espaços de convívio interessantes.

Escola Primária Comunitária para Meninas / Orkidstudio. Image © Peter Dibdin

Kalì Pavilion / Irene Librando and Nadia Peruggi

"As paredes de taipa, juntamente com o telhado elevado e as telas de madeira, não apenas geram o espaço da sala de aula, mas são cruciais para seu microclima. Mesmo ao chover na estação seca, as temperaturas na região de Ashanti oscilam entre 20 e 40 graus Celsius. Permitir que as crianças estudem em um espaço ainda fresco nas horas mais quentes do dia é extremamente importante para sua concentração."

Kalì Pavilion / Irene Librando and Nadia Peruggi. Image Cortesia de Irene Librando, Nadia Peruggi, Lucile Bitz, Antonella Mennella

    Climas quentes e úmidos

    Já nos climas quentes e úmidos, as variações das temperaturas entre dia e noite são bem menores, e inércia térmica não é uma estratégia adequada. São locais onde o clima é abafado, e não raro há precipitação de chuvas. Por conta do calor, também é importante deter a radiação direta. A ventilação abundante é vital para dissipar calor e reduzir a umidade. Elementos vazados, persianas e coberturas que sombreiam e protegem das chuvas melhoram as condições dos interiores.

    Colégio Pies Descalzos / Giancarlo Mazzanti

    Os diversos filtros do projeto, sejam das fachadas e das próprias coberturas, aliados aos materiais leves e os volumes estreitos, barram a radiação e permitem a ventilação nessa escola na Colômbia.

    Colégio Pies Descalzos / Giancarlo Mazzanti. Image © Sergio Gomez

    Siete Vueltas Rural Educational Institution / Plan:b arquitectos

    A cobertura leve e os elementos vazados permitem um fluxo de ar ininterrupto na edificação.

    Siete Vueltas Rural Educational Institution / Plan:b arquitectos. Image © Julián Castro

    Climas frios

    Quando o clima é frio, a principal preocupação é a manutenção do calor no interior da edificação. Observam-se edificações mais robustas, com mais massa de paredes e isolamento térmico.As esquadrias são um ponto crucial. É importante que permitam a entrada de luz e calor, ao mesmo tempo que não devem ser os pontos de fuga do calor. 

    School “la ruche” Perthes-en-Gâtinais / TRACKS

    Nessa escola na França, grandes planos de vidro e aberturas zenitais tornam os interiores inundados com uma luz difusa. 

    School “la ruche” Perthes-en-Gâtinais / TRACKS. Image © Guillaume Amat

    Creche HN / HIBINOSEKKEI + Youji no Shiro

    Por ser frio boa parte do ano, esse projeto traz o exterior para dentro. Árvores e uma boa quantidade de iluminação natural conformam espaços extremamente agradáveis.

    Creche HN / HIBINOSEKKEI + Youji no Shiro. Image © Toshinari Soga (studio BAUHAUS)

    Kindergarten Nová Ruda – Vratislavice nad Nisou / Petr Stolín Architekt

    Essa creche na República Tcheca trabalha com a translucidez do policarbonato em sua fachada, por sobre as espessas paredes isoladas termicamente. 

    Kindergarten Nová Ruda – Vratislavice nad Nisou / Petr Stolín Architekt. Image © Alexandra Timpau

    Climas amenos

    Quando o clima não é extremo para o frio ou para o calor, os arquitetos experimentam uma maior liberdade projetual na escolha dos materiais e estratégias.  

    Creche Chrysalis / Collingridge and Smith Architects

    A organização em torno de duas enormes árvores conforma ambiências interessantes neste projeto na Nova Zelândia.

    Creche Chrysalis / Collingridge and Smith Architects. Image Cortesia de Collingridge and Smith Architects

    Beacon School / Andrade Morettin Arquitetos + GOAA - Gusmão Otero Arquitetos Associados

    Aproveitando a estrutura de galpões industriais em desuso, a intervenção cria espaços semi-abertos, que borram os limites entre exterior e interior.

    Beacon School / Andrade Morettin Arquitetos + GOAA - Gusmão Otero Arquitetos Associados. Image © Nelson Kon

    El Til·ler School / Eduard Balcells + Tigges Architekt + Ignasi Rius Architecture

    Os arquitetos aproveitaram a racionalidade estrutural das aberturas para criar interessantes espaços de convívio e estar para as crianças, condizentes com suas escalas.

    El Til·ler School / Eduard Balcells + Tigges Architekt + Ignasi Rius Architecture. Image © Adriá Goula
    Sobre este autor
    Cita: Eduardo Souza. "Projetos de escolas e creches para diferentes climas" 20 Jun 2019. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/919239/projetos-de-escolas-e-creches-para-diferentes-climas> ISSN 0719-8906

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